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Oswaldo Teixeira (Brasil, 1905-1974)
óleo sobre madeira, 55 x 43 cm
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Maria-sem-tempo
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Era magra, pequena, escura. Tinha a extrema humildade dos que vivem longos anos sob o céu destruidor, sem pensar ao menos em resistir à sorte, com a passividade inerte da folha que o vento rola pelos caminhos. Era assim mirrada e seca e sombria, como se tivesse perdido a seiva ao ardor dos estios, como se guardasse das noites sem estrelas o negrume cada vez mais denso.
Era louca, porque só tinha uma idéia, e a criatura humana pode não ter idéias, mas não pode ter uma só. A sua era o angustioso desassossego das maternidades malogradas. Perdera um filho e o procurava. Andava pelos caminhos para buscá-lo e só levantava a voz para chamá-lo, ansiosamente, carinhosamente: “Luciano! Meu filho!…” E escutava longo tempo por trás nas cercas, no aceiro dos matos, à entrada dos terreiros das fazendas, nos desertos e nos povoados, onde quer que a levasse a sua dolorosa esperança. Aquela figura miserável, toda feita num gesto indagador, com a mão abrigando os olhos, à espreita, ou levantando o xale que lhe encobria a cabeça de cabelos hirtos, para ouvir melhor a resposta ideal, aquela encarnação de um desejo sempre iludido enturvava o esplendor do mais radioso meio-dia.
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Em: Flor do Lácio,[antologia] Cleófano Lopes de Oliveira, São Paulo, Saraiva: 1964; 7ª edição. (Explicação de textos e Guia de Composição Literária para uso dos cursos normais e secundário), p. 99






Um bom amigo do Eça de Queirós 🙂
Não sabia Ricardo… Prova que Domício tinha bom gosto na escolha dos amigos! Por aqui ele anda completamente esquecido. Não teve muitas publicações, mas foi membro da Academia Brasileira de Letras… e, no entanto,são raras as pessoas que já ouviram falar dele. 😉
Simplesmente comovente!
Não é mesmo, Valéria? Esse texto veio de um livro, uma antologia escolar. Os textos das antologias escolares de hoje não chegam perto nem da emoção nem da beleza da prosa que esse texto da virada do século XX demonstra e que era usado na década de 60 nas escolas do estado de São Paulo. Acho que andamos facilitando muito com os nossos alunos. Obrigada pela constância do seu apoio. Bjnh
Esse menino, o Oswaldo, escreve pra caramba. E que quadro!
Lembro-me de quando criança lia sempre esse texto que muito me comove, principalmente quando a mina explode e acaba a procura pelo o filho “Luciano”
Sim Edvilson muito comovente.