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Fabrício Fontolan (Brasil, contemporâneo)
óleo sobre tela, 40 x 50 cm
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Neste fim de semana de Carnaval o jornal O Globo publicou os resultados de uma pesquisa entre as bibliotecas públicas municipais e estaduais no Rio de Janeiro que listava os livros mais requisitados e emprestados ao público [Ranking de leitura, estrangeiros no topo]. Foi constatado que leitores preferem os livros das listas dos mais vendidos e mais falados. Livros que na maioria são escritos por autores estrangeiros. Não importa onde essas bibliotecas estejam localizadas, se em bairro de classe média, rica ou pobre o interesse pelos campeões de venda é o mesmo.
Não fiquei surpresa. Acho natural que todos queiram estar a par dos assuntos nas conversas nos cafés, nas escolas e na internet. Principalmente os adolescentes e jovens adultos, que sabem muito bem os livros que andam fazendo sucesso em outros países. Esse costume brasileiro de querermos ler o que é escrito no exterior não é de hoje. No século XIX até meados do século XX era a França que ditava o que os brasileiros liam. Nem por isso deixamos de ter um Machado de Assis.
O importante é que nossas bibliotecas públicas tenham para emprestar os livros que as pessoas queiram ou precisem ler. É uma maneira simples de garantir a leitura. Ler é o mais importante. De longe. Depois que a leitura se estabelece como um hábito, o leitor por si mesmo irá se encaminhando para outros livros, para outros horizontes.
Os autores Nicholas Sparks e J. K. Rowling lideram os empréstimos dessas bibliotecas.






Interessante a listagem, mas também não me assustaria com o resultado, mas como você bem disse, depois o leitor procura o que mais lhe agrada.
Letícia há um pedacinho dessa reportagem que tem o bibliotecário de Botafogo (bairro carioca na zona sul do Rio) lamentando que os clássicos brasileiros não são lidos. Reconheço que há esse problema, mas aí acho que a culpa também cai um pouquinho nos currículos e nos professores de hoje. Eu não vivi no século XIX, e no entanto tive no Colégio Pedro II grandes professores que me deixaram apaixonada por José de Alencar, Machado e pelos irmãos Azevedo.
Alencar, logo nos meus 12-13 anos foi o meu preferido de longe e li, na biblioteca do colégio, depois do período de aulas toda a coleção, menos O Gaúcho e Minas de Prata. Esses foram lidos muito mais tarde. Anos, muitos e muitos anos mais tarde comprei a coleção TODA encadernada… Mas aquelas historinhas água com açúcar dos “perfis de mulher” [Diva, Pata da Gazela, A viuvinha, Tronco do Ipê (de longe o meu favorito, lido mais de 15 vezes)] fizeram parte da imaginação adolescente, ansiosa por emoções amorosas. Senhora foi meu livro de cabeceira por anos, por causa de sua heroína combativa, audaciosa,uma verdadeira feminista. Mas eu só a compreendi assim porque houve algum professor que me deu o contexto para apreciar o comportamento de Aurélia. Tive, acho, a sorte de ter tido ótimos professores que conheciam as obras, não tinham nenhuma agenda política (que hoje vejo em profusão) e que conversavam após as aulas, por 2 ou 3 minutos, sobre algum livro lido fora daquilo esperado pelo currículo. Nada de muito tempo, mas o suficiente para me manter interessada.
A Biblioteca de Botafogo é uma das mais ativas da cidade, patrocinando, provavelmente por esse mesmo bibliotecário, encontros com escritores, com poetas. Ela é um exemplo para outras bibliotecas no Rio. A do meu bairro, na Gávea, é morta. Não faz nada. Parece que todos lá são zumbis. Mas quando eu era criança, essa biblioteca foi a fonte de muito, muito do que li.
Obrigada pelo comentário
Eu também!
Muito do que li, foi como você mesmo me disse, no contexto dos séculos em quais as obras foram escritas.
Ladyce,
Boa tarde ! O brasileiro tem uma baixa auto-estima muito grande em se tratando de vários assuntos. Em 2010 ou 2006, ( ano de Copa ), ouvi um comentário de rádio da Gloria Kallil, afirmando que mulheres no exterior, estavam usando jóias e bijuterias com as cores verde-amarelo e as brasileiras passara a imitar após “aval” do exterior…Grosseiramente falando, bananeiras e casas de pau-a-pique, são sinônimo de beleza ou feiúra, a depender dos critérios estrangeiros.
Há um certo exagero em valorizar o ponto de vista do exterior, mas penso que em grande medida essa baixa auto-estima se justifica, porque somos pobres culturalmente sim. Somos ricos em diversidade cultural, mas pobres em complexidade. Como comparar por exemplo, bonecos de barro com um violino Stradivarius ? Posso falar livremente sobre isso, mas se eu fosse Ministro da Cultura ? Seria um linchamento certo nestes tempos de “politicamente correto”…
E a homenagem que os russos fizeram no encerramento das olimpíadas de inverno a seus escritores: Tolstoi e Dostoievski? Que faremos aqui ? Bem….deixa pra lá.. ( se algum deste escritores for ucraniano.. fica valendo mesmo assim….kkk )
Acho compreensível que se valorize a literatura estrangeira, mas pela qualidade e não pelo modismo que é uma postura brega, pois ler “Cinquenta tons de cinza”, evidente que não foi motivado pela qualidade. Estrangeiros também produzem – muito – lixo..
E já que se falou em bibliotecas….Nestes a tempos de internet fácil, como vão as bibliotecas ? Ainda se freqüenta ? Penso eu as Bibliotecas precisam ser repensadas, como um programa para adultos nerds, estudantes de concursos públicos ou pós graduação, abrindo à noite, com espaços para cafeterias, etc…mas sobretudo um lugar de silêncio e leitura e NUNCA DE BALADA OU DE JOGOS ELETRÔNICOS !!!!
Abraço Ladyce..
Gostaria de aparecer mais vezes por aqui.
Eduardo.
Eduardo,
Que bom vê-lo por aqui… Sim, sei do que você fala. É uma coisa impressionante essa valorização do que é lá de fora e principalmente do que é europeu. Sente-se isso em todos os lugares. Nas artes visuais [e em outros lugares onde dados biográficos são necessários] acontece algo quase imperceptível para quem não lida ou lidou com o material. Numa identificação do artista, que qualquer museu coloca em geral temos o nome, o país onde nasceu ou a nacionalidade e os anos de nascimento ou morte. Isso é padrão para qualquer profissional.
Pois bem, os EUA e o Brasil têm algo em comum muito interessante: a maioria de seus grandes pintores do início do século XX não nasceram nas Américas. Ou vieram como imigrantes ou como filhos de imigrantes. Nos EUA já que o artista imigrou para o país, produziu lá, morreu lá, e provavelmente se naturalizou lá, a inscrição é feita por exemplo: João da Silva (EUA, 1901-1983). No Brasil, é assim João da Silva (Itália, 1901 – Brasil 1983) mesmo que o cara tenha vindo com 1 ano de idade, que tenha frequentado as escolas brasileiras, que toda sua produção seja brasileira, que tenha optado pela cidadania brasileira… Damos um valor tremendo aquele momento do nascimento no Europa. Faz com que ele pareça melhor.
Recentemente tive que procurar os dados biográficos do escritor Julien Green. Corri direto para a Wikipedia. A que está escrita em português o considera franco-americano. A americana o considera americano. Ele foi um sucesso em ambos os países, morou muito tempo na Europa. O homem nasceu em Paris por acaso. Os pais eram americanos e moravam temporariamente na França e ele sempre se considerou americano,apesar de tudo. Mas aquele nascimento na Europa (e principalmente as ojeriza que os brasileiros “da cultura” nutrem contra os EUA levam a discrepâncias como essa).
Quanto aos livros e às bibliotecas, acho que primeiro temos que deixar o pessoal ler. Ler o que quiser. Mas há muita culpa também do lado dos “bispos da cultura” brasileira. Há patotinhas. Há grupinhos que recebem toda a luz da imprensa e que na verdade escrevem olhando para seu próprio umbigo sem se preocuparem se são lidos pelo público em geral. Eduardo, sou uma infeliz contribuinte para que essa impressão que eles têm de que são bons continue, porque compro sistematicamente livros de autores brasileiros que deixo de lado depois das primeiras 20 a 25 páginas porque são intragáveis. Preciso me corrigir e não comprar. Mas procuro tanto por algo que possa ser lido com o prazer com que leio muitos livros estrangeiros que peco por deixar essa patota — que se acha mais culta do que Deus – acreditar que está tendo sucesso. Como a maioria das coisas no Brasil, é tudo quem você conhece. Os prêmios literários com poucas exceções são dados à patotinha e em geral são dados a livros intragáveis.
Não posso falar bem de nenhuma das nossas bibliotecas. Uso com freqüência a Biblioteca Nacional, mas não é para qualquer um. Há de haver paciência e … tem que ser dia frio porque anda sem ar condicionado… Imagine, num RJ com média este verão de 38º.
Um abraço e apareça sempre.