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Reisado floral, 2009
Assis Costa ( Brasil, contemporâneo)
acrílica sobre tela
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“Para criança, o reisado é um deslumbramento. Os vestidos das pastoras e rainhas, o brilho dos canutilhos de folheado, o espelhante dos enfeites de latão, os laços de fita e os frocados de papel de seda, o relampejar das coroas de reis, rainhas e princesas, as sapatinas de cetim, todo ouropel da vestimentária já é uma festa. Os cantos, “Ò minha barca bela”, “Ó minha gurinhatá, aonde vais beber?”“, trançados de recordações da colonização e da adaptação à terra, o mar presente, os pássaros, os bichos, tudo isso tecido de episódios impregnados de drama, mostra a riqueza do gênio popular. A criança participava do reisado como se fosse personagem dele. Menino no reisado sente-se também rei como o rei da festa.
A muitos natais assisti em Itaporanga em tempo de férias. Menino está sempre em casa a esse tempo. Quando já taludo, nos tormentos da puberdade, peguei namoro num desses natais com uma dançarina de reisado, uma sertanejazinha levada da breca, cuja família por sinal acabou estabelecendo-se em Itaporanga. Encontrávamos, para nossos idílios, no fundo do quintal da casa dela que acabava ao pé do oiteiro, lugar que seria ideal para esses encontros sem a água de um valado que passeava por ali. Na casa junto morava o estafeta dos telégrafos inaugurados havia pouco. Cantadiano (era seu nome) dava-se à brincadeira de irromper de dentro de umas toiças altas assim que nos juntávamos e de passar num ruído de bicho rasgando o mato e fazendo com que, na pressa com que nos separávamos, sujássemos os pés no valado. Divertia-se o idiota com essa perversidade”.
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Em: História da minha infância, Gilberto Amado, Rio de Janeiro, José Olympio:1966, 3ª edição, pp 76-77.
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NOTA WIKIPÉDIA:
Reisado é uma dança popular profano-religiosa, de origem portuguesa, com que se festeja a véspera e o Dia de Reis. No período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, um grupo formado por músicos, cantores e dançarinos vão de porta em porta anunciando a chegada do Messias e fazendo louvações aos donos das casas por onde passam e dançam. Reisado também é muito conhecido como Folia de Reis.
O Reisado é de origem portuguesa e instalou-se em Sergipe no período colonial. Atualmente, é dançado em qualquer época do ano, os temas de seu enredo, variam de acordo com o local e a época em que são encenados, podem ser: amor, guerra, religião entre outros.
O Reisado se compõe de várias partes e tem diversos personagens como o rei, o mestre, contramestre, figuras e moleques. Os instrumentos que acompanham o grupo são violão, sanfona, ganzá, zabumba, triângulo e pandeiro.





Reisado tem a cara de minha infância. Vi muitos, na minha cidade. Me encantavam o brilho e as cores e, lógico, o coreto da praça onde se apresentavam no dia dos reis.
Abraço, Ladyce.
Pois Regina faz algum tempo que ando peneirando textos brasileiros sobre o Natal para colocar no blog. As nossas tradições estão se modificando tanto, que o Natal nem parece mais uma festa das pessoas. Parece só um feriado com presentes. Como distinguí-lo do dia das crianças, por exemplo? Não é que eu tenha saudades dos hábitos do passado. Não sou uma pessoa particularmente saudosista. Gosto de ver que hoje todos têm mais conforto, mais educação — mesmo fraca. Mas estamos perdendo o senso de valores. Conheço uma pessoa por exemplo que está levando seu filho de 4 anos para Disney. Porque os coleguinhas dele todos já estiveram. A pergunta que fica: você se lembra das coisas que fez quando tinha 3,5 – 4 anos? Quem está indo a Disney para o Natal? Filho ou pais? Acho que estamos em um momento muito estranho culturalmente e assim como você no seu blog, tento lembrar a quem quiser ler, as tradições, aquilo que nos faz brasileiros, diferentes do resto do mundo. bj
Ladyce, frequentemente me vejo preocupada com meus sentimentos de inadequação. Não tenho conseguido me inserir nessa vida de eterna exposição em vitrine. Filho de 4 anos na Disney para satisfazer os pais que vão “sentir o espírito do natal” pondo as fotos nas redes sociais, é demais. as pessoas se atropelando em todos os sentidos para chegar primeiro a não sei onde, ficar mais bonito do que e para que ele mesmo nem sabe… confesso que ando assustadíssima. Também não sou saudosista, mas gosto de ter uma identidade pessoal; gosto de ter valores, e valorizo muito a cultura brasileira. Lamento não ver mais um reisado. 🙂