
Joyeux Noel, cartão de Natal francês da virada do século XX.
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Brinquedos
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Afonso Schmidt
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São Nicolau de barbas brancas,
de alto capuz beneditino,
nas costas levava um grande saco
e vai seguindo o seu destino.
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É muito tarde. Nas janelas,
há sapatinhos ao sereno:
a cada espera corresponde
o sonho leve de um pequeno.
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Súbito, estaca na calçada;
uma janela está vazia
e, pelas frinchas de uma porta,
chegam rumores de alegria.
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O Santo pára; está amuado,
acha que o mundo é muito mau
e estas crianças já não querem
esperar por São Nicolau.
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Mas, logo fica curioso,
quer descobrir porque naquela
casa não há um sapatinho
no canto escuro da janela.
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Vai espiar pelo buraco
da fechadura… – Pobrezinhos,
são os meninos do trapeiro,
nunca tiveram sapatinhos…
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E vê, que à falta de bonecas,
eles divertem o casal,
enquanto o avô fuma num canto,
São Nicolau, mas de avental…
—
Todos estão muito contentes
o Santo ri de olhos molhados
e vai seguindo à luz branquinha
do plenilúnio nos telhados.
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Pisa de leve sobre as folhas,
diz a sorrir palavras mansas:
“Essas crianças são os brinquedos
e esses papais são as crianças…”
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Em: Poesia brasileira para a infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva: 1968.
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VOCABULÁRIO
Beneditino – é o nome que se dá aos frades da Ordem de São Bento. Na poesia a palavra é usada como adjetivo de capuz.
Plenilúnio — a lua cheia.
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Afonso Schmidt (Cubatão, SP 1890 – SP, SP 1964) poeta, romancista, contista, biógrafo, jornalista. Como jornalista trabalhou para A Voz do Povo, em 1920, no Rio de Janeiro. Para Folha da Noite, Diário de Santos e A Tribuna, em Santos. Em São Paulo trabalhou na Folha da Noite e O Estado de S.Paulo. Neste último trabalhou de 1924 até 1963. Recebeu o prêmio da revista O Cruzeiro em 1950 pelo romance Menino Felipe. A União Brasileira de Escritores lhe premiou com o Juca Pato – Intelectual do Ano em 1963. Foi sócio fundador do Sindicato dos Jornalistas do Estado de S. Paulo, membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Obras:
Lírios roxos, 1904
Miniaturas, 1905
Janelas Abertas (poesia), 1911
Lusitânia (ato em verso), 1916
Evangelho dos Livres (panfleto), 1920
Mocidade, 1921
Brutalidade (contos), 1922
Ao relento, 1922
Janelas Abertas (versos) – Edição Aumentada (Menção Honrosa da Academia Brasileira de Letras, 1923
Os Impunes (novelas), 1923
As Levianas (peça em três atos), 1925
O Dragão e as Virgens (romance, 1927
Cânticos Revolucionários (panfletos), 1930
A nova conflagração, 1931
Garoa, 1931
Os Negros (crônicas), 1932
Garoa (poesia), 1932
Poesias, 1934
Carne para Canhão (peça em três atos), 1934
Pirapora (contos), 1934
Curiango (contos), 1935
Zanzalás (uma novela de tempos futuros), 1936
A Vida de Paulo Eiró (biografia), 1940
A Marcha (Romance da Abolição), 1941
O Tesouro de Cananéia (contos), 1941
No Reino do Céu (novela), 1942
A Sombra de Júlio Frank (biografia),1942
A árvore das lágrimas, 1942
Colônia Cecília (Uma aventura anarquista na América), 1942
O Assalto (Romance do ouro e do sal), 1945
Poesias (edição definitiva), 1945.
O Retrato de Valentina (novela), 1947
A Primeira Viagem (viagem), 1947
Menino Felipe (romance), 1950
Saltimbancos (romance), 1950
Aventuras de Indalécio (romance), 1951
Os Boêmios (contos), 1952
Dedo nos Lábios (novelas), 1953
O Gigante Invisível (divulgação), 1953
Carantonhas (novela juvenil), s/d
São Paulo dos Meus Amores (crônicas), 1954
A Marcha (romance da Abolição, história em quadrinhos), 1955
Mistérios de São Paulo (reminiscência), 1955
Bom Tempo (memórias), 1956
A Datilógrafa (romance), 1958
A Locomotiva (romance), 1960
Mirita e o Ladrão (romance), 1960
O Retrato de Valentina (novela), 1961
O Canudo, 1963
O enigma de João Ramalho, 1963
O passarinho verde, s/d
Zamir, s/d