
Carnaval, década de 40
Haydéa Santiago (RJ 1896 – RJ 1980)
Estudo para um painel do MAB
Óleo sobre tela
A gestação e o parto de um bloco são uma súmula do estilo carioca de viver. Todo bloco nasce de uma amizade. Começa com meia dúzia de amigos que, durante o ano, se reúnem para beber e conversar fiado num botequim de subúrbio, num quiosque à beira-mar ou mesmo para jogar pelada. Às vezes são colegas de profissão: médicos, advogados, arquitetos, bancários, jornalistas, publicitários, desempregados – dá de tudo, de todas as cores, e recomenda-se apenas que um não esteja comendo a mulher do outro. Entre churrasquinhos, chopes e caipirinhas, alguém aparece com um violão ou um tamborim. Faz-se um samba, depois outro, que todos aprendem e cantam. Nas proximidades do Carnaval, resolvem desfilar juntos, levando mulher, filhos, a empregada, a babá e quem mais se apresentar. Outros amigos aderem e levam os amigos deles. Para pagar o aluguel de uma quadra de ensaios, renovar o couro dos instrumentos, fazem uma vaquinha entre os comerciantes da vizinhança e vendem camisetas oficiais do bloco – quase sempre desenhadas por um cartunista nacionalmente famoso e que, por acaso, também faz parte do grupo. A uma ou duas semanas do Carnaval, o bloco começa a sair às ruas e logo conquista a simpatia, quase amor, do bairro – qualquer pessoa pode juntar-se e se deixar levar pela corrente humana. No Carnaval para valer, já são tantos os blocos de cada região que eles têm de sair em dias alternados e com o apoio dos guardas de trânsito. Se desfilarem ao mesmo tempo, darão um nó na cidade.
Ao contrário das bandas, que usam instrumentos de sopro e se limitam a executar velhos standards do Carnaval, os blocos só dependem da bateria e do gogó para cantar os sambas e marchinhas feitos por eles mesmos – e que, como não tocarão no rádio ou na televisão, dizem o que querem sobre ou contra qualquer pessoa. Neles estão a malícia, a crítica e a gozação – marcas registradas da cidade.
O Carnaval é a prova de que a força empreendedora do carioca, quando ele se dispõe a exercê-la, é formidável. Imagine se o carioca pusesse essa força a serviço de algo realmente sério, importante e construtivo.
Não sei e não queremos nem saber.
Ruy Castro
Carnaval no fogo: crônica de uma cidade excitante demais
São Paulo Cia das Letras:2003 Páginas 117 e 118.





Ruy
É triste ver o carnaval aqui no RS e na minha cidade, Novo Hamburgo em particular. Não passa de um arremedo, uma copia mal feita da Sapucai… Uma vez tinhamos os Blocos, que é verdadeiro carnaval popular, sem medo sem constrangimento se rico ou pobre é o povo na rua. Gostei da sua fala na Band FM sobre os Blocos do Rio, que a midia não mostra… é uma pena.
Ainda bem que o carioca resgata (que palavra que detesto) os Blocos… Quem sabe aqui façam o mesmo.
Best regards
Joel Robinson
Novo Hamburgo RS
preciso de saber o prço de insrumetos para formação de um bloco em meu bairro. tarol; tantan; surdo; bumbo; etc.
Prezado Marco Antônio, sugiro que faça uma pesquisa através do Google. Um abraço,