Passeio Público: uma descrição evocativa

18 12 2008

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Passeio Público do Rio de Janeiro, foto: Ladyce West

 

 

 

Quem acompanha este blog sabe que de vez em quando construo uma rapsódia sobre um lugar favorito.  Lugares têm grande habilidade de me afetarem.   Já houve ocasião de chegar às lágrimas, emocionada com um local.  Não é a toa que boa parte do que escrevo em geral está ligado a viagens, passeios ou seja a lugares especiais.  Em junho deste ano coloquei aqui uma pequena nota sobre o Passeio Público no Rio de Janeiro.  Logo após apresentei um poema de Mário Pederneiras sobre o local.  Hoje lendo o livro A última quimera de Ana Miranda, me deparei com uma descrição que acredito ser perfeita para aqueles que vivenciaram o local nos anos finais do século XIX aos primeiros anos do século passado.  

 

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Passeio Público, fonte de Netuno, foto: Ladyce West

 

O passeio Público é um dos lugares onde mais gosto de permanecer nas minhas horas de reflexão.  Não durante o dia, quando as crianças enchem as aléias com sua presença alegre e os rapazes vêm cortejar as jovens ou procurar uma delas para seus devaneios; nem quando senhores e damas cruzam as alamedas entre os baobás, ou jogam cartas, ou ouvem a banda dos alemães; tampouco quando, de noite, os aristocratas passam em direção à casa de Glaziou ou os boêmios vão ao café-cantante.  Gosto das horas raras em que o Passeio está deserto, quando apenas um ou outro transeunte caminha silencioso, quase invisível, e homens da Guarda rondam atrás de vadios.  Nesses momentos de solidão as árvores parecem soberanas, o lago permanece limpo; as águas do chafariz do menino podem ser ouvidas como uma música monótona, propensa ao raciocínio e à ruminação de paixões secretas.  Este é um momento assim, e me sento no primeiro banco que avisto.

 

Em: A última quimera, de Ana Miranda, Cia das Letras: 1995, São Paulo.

 

Para mais fotos do local, sua história e o poema de Mário Pederneiras, clique aqui.

 


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