Abriu ontem dia 10 de setembro a exposição A CHINA DOS CAMPONESES na galeria de arte F Mourão no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Esta exposição reúne 70 aquarelas e guaches feitos por pintores camponeses da China contemporânea. Estes artistas plásticos das regiões de Huxian, Hunan e Yunnan são a segunda geração de um plano de educação nas artes plásticas do governo chinês.
Apesar da arte da aquarela ter nascido na China e de ter sido até o início do século XX a forma favorita de expressão na pintura, com a chegada da revolução comunista a arte da aquarela foi completamente abandonada, vista como um passatempo dos nobres, dos ricos e um símbolo da decadência burguesa. Obsoleta. Toda a tradição milenar da aquarela na China nas suas formas mais tradicionais só sobreviveu pelos esforços da Ilha de Formosa.

Ateliê FMourão, na noite de abertura da exposição.
Mas, a partir de um evento insiginficante, quando uma represa em construção foi desenhada por seus peões para que pudessem diariamente ver o progresso da construção surgiu entre os diversos comitês burocráticos chineses dos anos 50 a idéia de se treinar estes camponeses para que fizessem cartazes de propaganda do governo de Mao. Assim professores foram levados até estas regiões exclusivamente agrárias no sul da China para ensinar a estes campesinos a desenhar. Foi uma maneira interessante de ocupar os camponeses chineses e de melhorara suas condições financeiras já que poderiam usar suas horas livres principalmente no inverno, aquela estação monótona e caseira quando a colheita já acabara e ainda não se iniciara o plantio, para produzirem mais para o país.
Surgiram então os grandes cartazes chineses, uma arte à parte, que mesmo existindo até hoje aos milhões são itens de bastante procura no mercado de colecionadores de efêmera.

Cartaz de propaganda do governo chinês.
Com a queda de Mao e com o afrouxamento das regras políticas na cultura, não só estes camponeses deixaram de ter trabalho como artistas gráficos para os cartazes de propaganda governamental, como também tiveram uma abertura na função de suas artes. Novos professores dos grandes centros culturais foram escolhidos para dar aulas a estes camponeses e com isto surgiu a pintura camponesa, que é na verdade, semelhante a uma pintura naïf ou folclórica, nos anos 60 e 70.
Estas pinturas começaram por mostrar o mundo ideal em que os camponeses viviam, com colheitas abundantes, pesca generosa e vida diária organizada. Foram e são aquarelas marcadas pelas cores vibrantes pelas perspectivas inusitadas e pela felicidade. Estas aquarelas foram uma das primeiras maneiras de se trazer a cultura chinesa para fora da China depois da abertura comercial do país.

A colheita dos caquis, aquarela de Feng Tao Liu, na exposição.
Hoje, nesta exposição principalmente, estão representados artistas na sua maioria participantes da segunda geração de artistas campesinos. Estes, na sua maioria ainda dividem seu tempo entre o campo e a arte, mas os mais populares já conseguem se dedicar exclusivamente à arte das aquarelas.

Mulher com gato no colo, da pintora Feng Ying, na exposição.
Talvez porque tenham começado a serem treinados para as artes gráficas os trabalhos destes artistas têm até hoje uma forte afinidade com as artes gráficas. Objetos, pessoas, plantas, animais são claramente delieneados. Todos os trabalhos são também bastante coloridos.
Na CHINA DOS CAMPONESES há três estilos diferentes de trabalhos todos produzidos nas mesmas circunstâncias e resultado dos mesmos esforços governamentais. São as cenas agrárias e bucólicas, o retrato de pessoas, principalmete o de mulheres que mostra algumas afinidades com a tradição da vida dos nobres chineses e também a arte de uma minoria da região de Yunnan, próxima ao Tibete, cujo princiapl meio de comunicação visual é e era o batik. Com técnicas desenvolvidas para reproduzir no papel os efeitos conseguidos no batik eles chegam a formas femininas sobre um fundo complexo de desenhos abstratos.

Pintando a porcelana, de Li Zhimimng, na exposição.
Enquanto as formas de mulheres que lembram as nobres chinesas de antanho também parecem lembrar o trabalho do pintor italiano Amedeo Modigliani, as obras sensuais das mulheres representadas pela arte de Yunan, trazem à mente as obras de Gustav Klimt.
Vale a pena a visita para conhecer de perto este festival de cores e formas. A exposição ficará no ateliê FMourão até p dia 27 deste mês. As obras estão à venda. Visitas de 10 às 19 horas durante a semana e de 10 às 17 horas aos sábados. Não percam.