O indiferente, de Watteau, pelos olhos de Lígia Fagundes Telles

1 03 2025

O indiferente, 1717

Jean-Antoine Watteau (França, 1684-1721)

óleo sobre madeira, 26 x 19 cm

LOUVRE

 

 

“Podia ir para um lado e podia ir para o outro, como o aristocrata do quadro de Watteau, um jovem de sapatos de fivela e roupa de seda. Tinha os braços frouxamente abertos e se chamava O Indiferente. O tom azul da roupa era delicado como o tom rosa da capa aberta no braço, forrada também de azul. E ele se oferecia a ensaiar um passo de dança, com uma displicência igual à da capa atirada no braço, a flexível capa de duas faces, podia usá-la no avesso.”

 

Em: Verão no aquário, Lígia Fagundes Telles, Cia das Letras: 2010





Resenha: Todas as manhãs do mundo, Pascal Quignard

15 10 2024

A lição de música, 1717

Atribuído a Jean-Antoine Watteau (França, 1684-1721)

óleo sobre tela

Wallace Collection, Londres

 

 

 

Este pequeno livro é um dos poucos traduzidos no Brasil do premiado autor francês, Pascal Quignard. Todas as manhãs do mundo, tradução de Yolanda Vilela [editora Zain:2023] não chega a ter cem páginas, em edição cujas dimensões parecem aquelas de um livro de bolso. Seu texto mesmo pequeno no original, já foi transformado em um filme de Alain Corneau, de bastante sucesso com adaptação do próprio autor do romance, em 1991, ano de sua publicação na França. Por isso mesmo, hoje ele é a obra mais popular de Quignard.

Trata-se da biografia, fictícia, de um verdadeiro músico francês, do século XVII, Jean de Sainte-Colombe, cujos poucos detalhes conhecidos de sua existência se resumem a pequenos apontamentos de Marin Marais, este sim, músico mais conhecido da época.

Sainte-Colombe foi um dos primeiros e grandes compositores de peças para a viola da gamba, instrumento que começava a se popularizar no século XVII na Europa.  Na Inglaterra essa viola consiste em geral de seis cordas, enquanto na França ela é mais usada com sete cordas, como aparece no livro e como Sainte Colombe a usou. No entanto quer com seis ou sete cordas, ambos instrumentos são tocados com arco.

 

 

 

 

De acordo com o posfácio, sabe-se muito pouco da vida de Sainte-Colombe: tinha duas filhas, muitos alunos e era um mestre da composição para a viola da gamba que tocava em um trio com suas duas filhas.  Tudo que sabemos vem das anotações do músico Marin Marais, que havia sido seu aluno e que eventualmente foi músico na corte de Luís XIV.

A história nos apresenta Sainte-Colombe conhecido professor fazendo apresentações no interior da França, viúvo, não tem qualquer interesse pela vida na corte, porque não acredita que lá estariam os verdadeiros amantes da música.  Dedicadíssimo à sua arte, ele amarga, inconsolável, a perda da esposa que tanto amava, morta em 1650. Ensina as duas filhas a tocarem a viola da gamba e se apresenta com elas em trio que ficou conhecido pelos apreciadores da arte. Nas quase cem páginas em que o seguimos, selecionando alunos, sendo convidado a tocar em Paris e  percebemos a dicotomia para ele, entre o silêncio e a música.  Sainte-Colombe, impaciente e dado ataques de cólera, goza da inabilidade de se expressar, exceto pelas composições que produz. Desse modo,é um exemplo de sua própria definição do que é música: “A música existe simplesmente para dizer o que a palavra não pode dizer.” [85]

 

 

 

Pascal Quignard

Além de escritor Pascal Guignard é um talentoso violoncelista fundador do Festival de Ópera e de Teatro Barroco de Versalhes. Tal dedicação à musica traz grande riqueza à sua escrita.  Não são poucas as descrições na história relacionadas aos sons que rodeiam os quatro personagens principais: Sainte-Colombe, suas duas filhas e Marin Marais.  Ao ler este texto, pare e preste atenção. Outra faceta a notar é a descrição dos locais e hábitos da época.

Foram 98 páginas de deleite.  Leitura deliciosa, perfeita para uma tarde chuvosa ou um fim de semana preguiçoso.  Recomendo sem restrições

 

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.





A arte do desenho: Watteau

6 07 2017

 

 

110107v_0001Cabeça e busto e mulher sentada

Antoine Watteau (França, 1682-1721)

Giz negro, vermelho e branco, com acabamento em grafite, 18 x 15 cm

The Morgan Library & Museum, Nova York

 

 





Curiosidade sobre Shakespeare

11 04 2016

 

 

01actorsAtores da Comédie Française, 1712

Jean-Antoine Watteau (França,1684-1721)

óleo sobre madeira, 20 x 25 cm

Hermitage, São Petersburgo, Rússia

 

 

Shakespeare era um homem bastante confortável financeiramente quando morreu.  Não era muito rico.  Mas tinha fortuna maior do que a de se todos os seus colegas de trabalho da companhia de atores a que pertencia, conhecida como King’s Men.  Mas sua situação financeira não chegou a se igualar às fortunas adquiridas pelos donos do teatro e seus gerentes.  O grande rival de Shakespeare, Ben Jonson, esse sim ficou muito rico.  Diferente de Shakespeare, Jonson se recusou a ser um acionista na companhia teatral, preferindo o patrocínio da aristocracia e as grandes comissões pelos ricos eventos de entretenimento, algo que Shakespeare nunca fez.

 

 

Informações no artigo: How rich was Shakespeare? de Robert Bearman, na Revista Prospect de março de 2016.