
Depois que publiquei meu primeiro livro de poesias, todo mundo quer saber que poetas eu li, de quem eu gosto. A lista é grande. Mas aos poucos vou contando…. Obrigada pelo interesse.

Depois que publiquei meu primeiro livro de poesias, todo mundo quer saber que poetas eu li, de quem eu gosto. A lista é grande. Mas aos poucos vou contando…. Obrigada pelo interesse.
Maternidade
Aurélio d’Alincourt (Brasil, 1919 – 1990)
óleo sobre placa, 41x 33 cm
Stella Leonardos
Tudo que há na fonte pura
Vem da mina de onde brota
E do fundo da espessura
Nasce a sombra de uma grota.
Todo verdor de uma planta
Deve à terra seu verdor.
Todo pássaro que canta
Herdou raça de cantor.
Qualquer gesto bom que eu tenha,
Toda vez que eu ficar triste,
Todo sonho que me venha,
Tudo que em mim houve e existe
Será teu, Mãe. Porque és água,
Pedra e chão, rama e raiz
De meu mundo: quer na mágoa
Quer no momento feliz.
Em: Pedra no Lago, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José:1956, p. 45
Contemplando a Paisagem
Maria Vasco (Brasil, 1879-1965)
aquarela, 35 X 25 cm
Stella Leonardos
Ela foi. Não volta mais.
Entre as relíquias saudosas
Seu xale. Dos orientais.
Mil e uma noites sedosas.
Xale cheio de gazais,
De rouxinóis e de rosas.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ela que não sofre mais
O peso de horas penosas,
Ela que amava os gazais
E as noite maravilhosas
— Quem sabe descansa em paz
Entre os rouxinóis e as rosas.
Em: Pedra no Lago, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José:1956, p. 65
Retrato da menina Maria Catarina Douat, 1957
Win van Dijk ( Holanda/Brasil, 1915-1990)
óleo sobre tela, 95 x 60 cm
Stella Leonardos
(Para Leilá)
É uma sílfide dançando.
É uma infanta adolescendo.
Cabelo de ouro brilhando.
Alvor de lírio crescendo.
Coração de cristal puro,
Alma de rosa nevada,
Sonha trepada no muro.
E não sabe que é uma fada.
Em: Pedaço de Madrugada, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José: 1956, p.51
Quatro meninas em Åsgårdstrand, 1903
Edvard Munch (Noruega, 1863-1944)
óleo sobre tela, 87 x 111 cm
Museu Munch, Oslo
Stella Leonardos
Elas eram quatro rosas
Sendo cada qual mais bela.
A vermelha, a cor de rosa.
A de corola amarela…
Mas a quarta era Rosinha,
Branca branca, bem singela.
Levou-a Deus manhãzinha.
Que era rosa de anjo, aquela.
Em: Pedaço de Madrugada, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José:1956, p.63
Ilustração de Pierre Brissaud, para a revista House & Garden, março 1927.
Stella Leonardos
Ah pássaro triste!
Quem larga cantigas
de penas tão cinzas
nas horas que voam?
Ah flor escondida!
Choraste tão triste
nas gotas de brilho
do orvalho que foi-se.
Ah nuvem lá em cima
fugindo fugindo
tão triste tão triste
tão alma de sonho!
Vem, chuva dos tristes,
irmã comovida
cinzentas retinas
chorando horizontes!
Em: Ar Lírico, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José: 1961, p. 21
Stella Leonardos
Foi vime que nasce à toa
Debruçado na lagoa,
Colhido de manhã cedo.
Já viu garça azul que voa,
Já viu rastro de canoa,
Já escutou vento e arvoredo.
Por isso a fragrância boa,
Esse cheiro de segredo.
Em: Pedaço de Madrugada, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José:1956, p.11
Vendedor de cataventos, Sérgio Bastos.
Stella Leonardos
— Onde estás, vendedor de pirulitos,
Fazedor das ventoinhas de papel?
Daqueles cataventos tão bonitos?
Daquelas gostosuras cor de mel?
Tu que adoças as ruas com teus gritos
E que marcas os ventos nas calçadas:
Me dá de novo os sonhos infinitos
Das tuas rosas que são quase aladas!
— Queres minhas ventoinhas? Há-de tê-las.
Criança grande! Por que te agradam tanto?
— Não são ventoinhas: são almas de estrelas
De um céu ingênuo que foi céu de encanto.
Em: Pedaço de Madrugada, Stella Leonardos, Rio de Janeiro, Livraria São José:1956, p.79
Cartão de Natal italiano. Sem data.—-
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Stella Leonardos
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O velho gordo e rosado
Que veste sempre encarnado,
Esse bom Noel barbudo
Que reserva para as crianças
As mancheias de esperanças
De um grande saco bojudo;
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E traz na sola das botas
Neve das terras remotas
Onde há frio no Natal;
E pinheirais pela neve;
E renas de passo leve
Vivendo no pinheiral;
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Quem disse que era estrangeiro?
Ele hoje é bem brasileiro
Malgrado o traje hibernal.
Se veste de lã e de arminho
É que o calor e o carinho
Que deve haver no Natal!
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Em: Stella Leonardos, Pedaço de Madrugada, Rio de Janeiro, Livraria São José: 1956
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Stella Leonardos da Silva Lima Cabassa (Rio de Janeiro RJ, 1923). Poeta, tradutora, romancista, com mais de 70 obras publicadas, em poesia, prosa, ensaios, teatro, romances e literatura infantil. Considerada membro expoente da 3ª geração de poetas modernistas. Um dos maiores nomes da poesia contemporânea no Brasil.
UMA AVÓ
És a saga de ternura
Das cantigas de ninar.
Sugestão de iluminura
Nas histórias de encantar.
Clarão de candeia pura
Sobre o livro de rezar.
Fada boa envelhecida.
Tecedeira de ilusão.
Esperança comovida.
Doce crença de cristão.
Duas vezes mãe na vida.
Duas vezes devoção.
Stella Leonardos
Stella Leonardos da Silva Lima Cabassa (Rio de Janeiro RJ, 1923). Poeta, tradutora, romancista, com mais de 70 obras publicadas, em poesia, prosa, ensaios, teatro, romances e literatura infantil. Considerada membro expoente da 3ª geração de poetas modernistas. Um dos maiores nomes da poesia contemporânea no Brasil.