Imagem de leitura — Alexander Pavlovich Brullov

18 09 2015

 

 

Alexander Pavlovich Brullov (1798-1877) Rússia

Senhora lendo, 1839

Alexander Pavlovich Brullov (Rússia, 1798-1877)

Aquarela





Eu, pintor: Henri Matisse

17 09 2015

 

 

Henri_Matisse_Self-Portrait_in_a_Striped_T-shirt_(1906)Autorretrato com camisa de listras, 1906

Henri Matisse (França, 1864-1959)

óleo sobre tela,  55 x 46 cm

Kunst Statens Museum, Copenhagem

 





Eu, pintor: Marc Chagall

10 09 2015

 

 

Marc Chagall. Self-Portrait with Brushes. (Autoportrait). 1909.Autorretrato com pincéis, 1909

Marc Chagall (Rússia/França, 1887-1985)

óleo sobre tela , 57 x 48 cm

Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen, Düsseldorf, Alemanha





A literatura — Michel Houellebecq

24 07 2015

 

the-spoonful-of-milk-1912.jpg marc chagallA colherada de leite, 1912

Marc Chagall (Rússia/França, 1887-1985)

óleo sobre tela

Coleção Particular

 

 

“Tanto quanto a literatura, a música pode determinar uma reviravolta, um transtorno emotivo, uma tristeza ou um êxtase absolutos; tanto quanto a literatura, a pintura pode gerar um deslumbramento, um olhar novo depositado sobre o mundo. Mas só a literatura pode dar esse contato com outro espírito humano, com a integralidade desse espírito, suas fraquezas e grandezas, suas limitações, suas mesquinharias, suas ideias fixas, suas crenças; com tudo o que comove, o interessa, o excita e repugna. Só a literatura permite entrar em contato com o espírito de um morto, da maneira mais direta, mais completa e até mais profunda do que a conversa com um amigo – por mais profunda e duradoura que seja uma amizade, numa conversa nunca nos entregamos tão completamente como o fazemos diante de uma página em branco, dirigindo-nos a um destinatário desconhecido.”

 

Submissão, Michel Houellebecq, Rio de Janeiro, Alfaguara: 2015, pp, 10-11





Palavras para lembrar — Renata de Albuquerque

1 07 2015

 

Yevgeniy Demakov (Rússia, 1968) Conto de fadas da vez, ost, 50x70O conto de fadas da vez

Yevgeniy Demakov (Rússia, 1968)

óleo sobre tela, 50 x 70 cm

 

 

“Leia. Com seus filhos, para seus filhos, por seus filhos.”

 

Renata de Albuquerque

Jornalista brasileira




Ele queria ser escritor! – texto de David Antunes

9 06 2015

 

 

Kulikov_Writer_E.N.Chirikov_1904Escritor russo Eugênio Kulikov, 1904

Ivan Kulikov (Rússia, 1875-1941)

óleo sobre tela

 

 

“Por esse tempo começaram a cintilar os primeiros alvores de minha vocação literária. Estava eu certo de que meu pai se afogaria em júbilos, acaso me lesse um artigo de campanha contra a espada aventureira, que rasgou o ventre da Bahia e ameaçou decapitar São Paulo. Mas, tanto que me surpreendeu os intuitos, concentrou nas sobrancelhas todas as forças de sua energia e, chamando-me a um ajuste, ordenou, com dedo autoritário, que me fosse ocupar de ofício limpo. E não era limpo o da imprensa? Meu pai entendia que o tal mister calha ao patetas, aos inúteis, aos irresponsáveis. Tais os epitetos com que fulminava os jornalistas — por amor de meu futuro!  Mas é bem notar, ele não detestava letrados. Ao contrário, acolhia-os, com regozijo, na usa consideração de boêmio tardiamente regenerado. E a prova está em que nunca deixou esmorecer a velha camaradagem, travada aos tempos da Academia, de alguns poetas de classe, notadamente de um tal José de Freitas, vivo ainda, parece-me que em Minas, o qual sempre escrevia para solicitar-lhe notícias e dinheiro. Meu pai, regra geral, só atendia à primeira parte das cartas do amigo, porém não se enfastiava a no-lo citar, à hora da mesa, amiudando-lhe gabos aos mérito de estilista e versejador.

O pobre José Freitas voltava, de novo, com os queixumes e soluços, estes simbolizados por um desperdício de reticências. Dizia-se na miséria, encravado com promissórias e oito filhos raquíticos. Para contê-lo, meu pai mandava-lhe duas ou três laudas de conselhos. O homem sossegava durante quinze dias, mas tornava, depois, lamuriante ainda, reclamando o vale-postal. Talvez mal compare, mas esse desgraçado José de Freitas me fazia lembrar alma penada, que suplicasse, do outro mundo, preces de alívio aos seus tormentos. Tenho por certo que o velho o tomou por exemplo do infortúnio, que me esperava, se me abandonasse aos impulsos da idade. Excelente pai!

Ora, não sei se erro, afirmando qua as paixões trazem a vantagem de nivelar índoles. Não me rebelei contra meu pai. Curvei-me resignado, às objurgatórias, como a receber a coroa de mártir que, no caso, me ficava a talho. Bem a contragosto, em casa dava de mão às consolações da pena. À noitinha, então sim, escapulia-me às vistas paternas e corria ao meu protetor, o Ferreira, que me oferecia lenitivo pronto às aflições: o conhaque, papel e tinta. Bom sujeito! Daqui ainda o vejo, alto, grosso, gordura consistente e pesada, ilhargas tão amplas como as espáduas, enormes bigodes retorcidos a modos de chifres, uma cicatriz angular na região frontal esquerda, sempre alegre, sempre loquaz, sempre desbocado… Bom sujeito. Tinha a mania de esmurrar o próximo por dê cá aquela palha, mas, afinal, isto é sestro de homem musculoso,e ninguém o recriminava por isto, afora os hermistas que lhe temiam o contato, como se evitassem pisar numa casca de banana.

Ferreira arrumava-me nos fundos da taverna, entre dois tabiques discretos, que ficavam por detrás das teias de aranha e das quartolas de azeite doce e de vinagre. Eu, meio desalentado, sentava-me defronte de um traste coxo e trêmulo e aguardava a inspiração… Ferreira trazia-me o conhaque… dois, três… a lambujem do trato, e as ideias, pouco a pouco destilavam no papel, seguindo a vertiginosa abalada de minha cólera contra o mundo e os adversários de Rui Barbosa.”

 

Em: Gente Moça, novela, (a primeira publicação em 1920), aqui, publicada junto ao romance Bagunça, David Antunes, São Paulo, Saraiva:1968, p. 115-117.

 

David Antunes, usou também o cognome Iago Joé,  escritor brasileiro. Nasceu em Santa Branca, São Paulo em 1891 e faleceu em Campinas, SP, em 1969).

Obras:

Gente Moça, novela, 1920

Bagunça, romance, 1932

Incenso e pólvora, romance, 1937

Caminhos perdidos, romance, 1940

Briguela, romance, 1945

Lagoa Verde, romance, 1947

A face trágica da arte, ensaio, 1952

Obsessão, romance, 1956

Piracicaba, romance histórico, 1956

O pastor e as cabras, romance, 1968

 

 





Sobre cartas

18 05 2015

 

Teacher. Yuri Belov (Russia, 1929)A professora

Yuri Belov (Rússia, 1929)

 

 

“Uma carta implica dedicação. Quem escreve uma carta suspende a vertigem do tempo para refletir, para melhor sentir, para pensar no outro. Uma carta de amor é realmente uma carta de amor.”

 

José Eduardo Agualusa

 

Em: “A convulsa solidão dos nossos dias, José Eduardo Agualusa, O Globo, 18/05/2015, 2º caderno, página 2.





Imagem de leitura — Victoria Harchencko

18 05 2015

 

 

Harchencko VictoriaPoema, 2008

Victoria Harchencko (Rússia, 1978)

óleo sobre tela, 123 x 80 cm

Victoria Harchencko





Soneto de abril, Lêdo Ivo

22 04 2015

 

Konstantin Makovsky (Russian, 1839-1915) - Portrait of Julia Makovsky (The Artist's Wife), 1881Retrato de Julia Makovsky, 1881

(Esposa do pintor)

Konstantin Makovsky (Rússia, 1839-1915)

óleo sobre tela

 

 

Soneto de abril

 

Lêdo Ivo

 

 

Agora que é abril, e o mar se ausenta,

secando-se em si mesmo como um pranto,

vejo que o amor que te dedico aumenta

seguindo a trilha de meu próprio espanto.

 

Em mim, o teu espírito apresenta

todas as sugestões de um doce encanto

que em minha fonte não se dessedenta

por não ser fonte d’água, mas do canto.

 

Agora que é abril, e vão morrer

as formosas canções dos outros meses,

assim te quero, mesmo que te escondas:

 

amar-te uma só vez todas as vezes

em que sou carne e gesto, e fenecer

como uma voz chamada pelas ondas.

 

Em: Central poética, Lêdo Ivo,  Rio de Janeiro, Nova Aguillar: 1976, p. 47.





Mais uma sugestão de leitura: Sofi Oksanen

19 04 2015

 

Fran Peppers, jovem lendo, ost,20x24nchsJovem lendo

Fran Peppers (EUA, contemporânea)

óleo sobre tela, 50 x 60 cm

www.franpeppers-art.com

 

 

Cá pelo Rio de Janeiro, temos 9 dias de folga em pleno mês de abril. Amigos me pedem dicas de leitura.  Todos sabem que vou sempre preferir algo um pouquinho menos conhecido. Como a volta ao trabalho só está programada para segunda-feira, dia 27, há tempo de sobra para se ler bons livros.

Hoje, li a entrevista de Sofi Oksanen no jornal inglês The Guardian, e me lembrei que a autora está representada no Brasil, por pelo menos dois títulos.  Com ela conhecemos melhor as histórias de colonialismo soviético, que como o The Guardian lembra, é assunto pouco abordado. E sabê-lo pelo olhos de uma escritora finlandesa, uma raridade no nosso horizonte, parece interessante pois sugere um distanciamento político raramente preservado nos meios intelectuais brasileiros em relação à antiga União Soviética.  Estes livros são de leitura empolgante, thrillers, daqueles que não se quer deixar de lado para nada.  Perfeitos para férias.

 

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SINOPSE — Em 1992, uma velha senhora que vive solitária em uma floresta da Estônia, Aliide, acolhe em sua casa uma jovem russa, Zara. Apesar das desconfianças e precauções iniciais, as duas começam a se conhecer melhor e desenvolvem uma relação de amizade. Zara era uma escrava sexual na Rússia, e depois que fugiu passou a ser caçada por dois mafiosos russos que estão envolvidos no mercado sexual. Já Aliide vê na nova amiga uma oportunidade de contar sua trajetória e suas experiências pela União Soviética, tentando se livrar dos próprios fantasmas.

Expurgo, de Sofi Oksanen, Editora Record: 2012, 350 páginas

 

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SINOPSE — Este é um poderoso romance, épico, único, que ao contar a história de Sofia, Katariina e Anna — avó, mãe e filha — perpassa todo o século 20 até chegar na atualidade. Desde a fome durante a guerra aos distúrbios alimentares para alcançar uma magreza ideal típica dos nossos tempos: está tudo aqui escrito com a visceralidade de uma das autoras contemporâneas mais aclamadas.

Na década de 1970, Katariina deixou a Estônia soviética em busca da promessa de felicidade ocidental que a Finlândia, país vizinho porém com realidade distante, representava. Sua mãe Sofia vivera desde o início os terrores da repressão soviética e assim que pôde incentivou a filha a ir embora mas agora é Anna, justamente a neta nascida na Finlândia e de hábitos ocidentais, que precisa de salvação: desde a doentia relação com seu corpo à estranha relação que tem com o sexo e com as pessoas.

 

As vacas de Stalin, Sofi Oksanen, Record: 2013, 420 páginas