Se fossem mulheres será que a história as trataria com tanta gentileza?

16 09 2008

 

No dia 11 de setembro o jornal americano Wall Street Journal publicou uma resenha de Philip Terzian do livro The Irregulars, escrito por Jennet Conant e acabado de ser lançado, pela editora Simon & Schuster.   

 

O livro relata uma curiosa arma usada por Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial, mas antes do ataque de Pearl Harbor.  Isto quer dizer, antes da entrada oficial dos Estados Unidos na guerra.   O famoso primeiro ministro inglês, preocupado em aliciar a ajuda americana, em convencer os americanos a se envolverem mais com a guerra que já consumia as forças britânicas, decidiu mandar para Washington DC um grupo de jovens rapazes finamente educados para que se inserissem na sociedade americana e seduzissem com  seu charme e suas boas maneiras os poderes americanos para que a Grã Bretanha viesse a ganhar a guerra européia.  

 

O grupo destes rapazes, levava o jocoso nome de “ The Baker Street Irregulars” numa direta referência ao endereço do famoso detetive de ficção Sherlock Holmes, criado por Sir Arthur Conan Doyle, estavam dois jovens que mais tarde seriam conhecidos escritores de âmbito mundial:  Roald Dahl e Ian Fleming.   Mas a intenção era de espionagem e advocacia da causa britânica.  

 

Como ainda não li o livro não posso julgá-lo.  Muito menos posso fazer  juízo sobre os que pensaram em tal plano de espionagem.   Mas houve duas observações que ficaram me perseguindo depois de ler a matéria:

 

1 – Não é curioso que tanto Roald Dahl como Ian Fleming, que ainda não tinham escrito uma palavra, que ainda não haviam publicado seus livros, ambos viessem a contar com as habilidades de espionagem e decodificação de textos nas suas ficções?  Ian Fleming como todos se lembram é o autor de talvez o mais famoso espião da segunda metade do século XX:  James Bons, Agente 007.  Enquanto que Roald Dahl mais conhecido por sua literatura infantil quando escreveu para adultos produziu textos repletos de suspense.  Alguns de suas histórias chegaram até a serem filmadas por Alfred Hitchcock, para o seu programa semanal de televisão  Alfred Hitchocok Apresenta.  

 

2 – Será que se as pessoas escolhidas para fazer espionagem tivessem sido jovens mulheres britânicas, de boas famílias, com boa escolarização, que tivessem tido ordens de se infiltrar na sociedade local, de uma Washington DC ainda bem provinciana e seduzir e convencer senadores, jornalistas e outros personagens de relativa importância,  a história, ou seja, a narrativa deste acontecimento, deste plano governamental inglês teria sido contado com a boa vontade, com a curiosidade e o tom divertido que ao que indica a narrativa de The Irregulars tem?  Tivessem elas se inserido na sociedade local, imiscuindo-se nos quartos e leitos da capital americana, como ao que tudo indica The Irregulars fizeram, será que elas seriam, mesmo hoje, tratadas com a simpatia com que estes jovens parecem ser tratados?  

 





Na Inglaterra, livros favoritos dos adolescentes em 2 décadas

18 06 2008

 John Gannam,(EUA 1907-1965) -- aquarela e gouache, anúncio para lençóis.

Recentemente uma amiga me passou uma lista dos livros mais vendidos na Inglaterra nos anos 70 e os mais vendidos — lá também — nos anos 90. Todos só para o público adolescente, ou seja aquele público entre os 12 e 15 anos. Falávamos de um assunto pelo qual batalhamos que é uma maior e melhor formação de leitores no Brasil. E conversávamos sobre as diferenças entre os adolescentes brasileiros e os de outros países.

A lista era a seguinte: [Os títulos estão em português quando houve tradução.]

10 livros mais lidos por leitores de 12 anos de idade em 1971.

Mulherezinhas de Louisa May Alcott
Beleza Negra: autobiografia de um cavalo de Anna Sewell
A ilha do tesouro de Robert Louis Stevenson
O leão, a feiticeira e oguarda-roupa, de CS Lewis ( 1° volume das Crônicas de Nárnia)
Jane Eyre de Charlotte Bronte
Heidi de Johanna Spyri
Oliver Twist de Charles Dickens
The Secret Seven de Ian Serraillier – não achamos a tradução para o português
Tom Sawyer de Mark Twain

10 livros mais lidos por meninas de 12 anos nos anos 90:

Point Horror coleção de vário autores — não achamos a tradução para o português
Sweet Valley de Francine Pascal (série) — não achamos a tradução para o português
Babysitters Club de Ann M Martin — não achamos a tradução para o português
Matilda de Roald Dahl
As bruxas de Roald Dahl
Os pestes de Roald Dahl
A fantástica fábrica de chocolates de Roald Dahl
Adrian Mole na crise da adolescência de Sue Townsend
What Katy Did series de Susan Coolidge — não achamos a tradução para o português

10 livros mais lidos por meninos de 12 anos nos anos 90:
O BFA de Roald Dahl
As bruxas de Roald Dahl
A fantástica fábrica de chocolates de Roald Dahl
Point Horror coleção de vário autores — não achamos a tradução para o português
Adrian Mole ( a série) de Sue Townsend
Astérix ( série) de Rene Goscinny
O parque dos dinossauros de Michael Crichton
Os pestes de Roald Dahl
O Hobbit de JRR Tolkien

Como vemos há pouca diferença entre meninos e meninas nos anos 90. Há uma ligeira prefência pelos livros de ficcção científica e quadrinhos pelos meninos, mas quase insignificante considerando-se que os primerios colocados em ambas as listas são praticamente os mesmos.

Recentemente recebi por email uma lista das séries de livros mais populares na Grã Bretanha no último 10 anos. Elas incluem:

JK Rowling – Harry Potter
Philip Pullman – His Dark Materials
Eoin Colfer – Artemis Fowl
Philip Ardagh – Awful End
JR Tolkein – Lord of the Rings series
Terry Pratchett – Discworld series, e outros
Jacqueline Wilson – Tracy Beaker
GP Taylor – Shadowmancer
Anthony Horrowitz – Alex Rider (não encontrei tradução para o português)
Lemony Snicket – A Series of Unfortunate Events

Fora a série de JK Rowling e seu Harry Potter os outros não me parecem tão populares no Brasil, apesar da maioria dos escritores terem pelo menos alguns de seus livros traduzidos no Brasil.

Uma breve pesquisa no portal da livraria virtual Submarino hoje inclui entre seus livros mais vendidos nesta faixa etária o seguintes títulos:

JK Rowling — Harry Potter e as relíquias da morte
JK Rowling — Harry Potter e o enigma do príncipe
A. Saint-Exupéry — O Pequeno Príncipe
Meg Cabot — Princesa Mia: o diário da princesa
Conn e Hal Iggulden — O livro perigoso para garotos
L. F. Veríssimo — Mais comédias para ler na escola
Malba Tahan — O homem que calculava
Bill Watterson — Calvin & Haroldo: e Foi Assim que Tudo Começou
C. von Ziegesar — Gossip Girl: você sabe que me ama (vol. 2)
C. von Ziegesar — Gossip Girl: Eu mereço (vol. 4)

Correndo o perigo de fazer conclusões com poucos dados, uma vista d’ollhos sobre a lista brasileira mostra uma leitura provavelmente feita por meninas [veja Meg Cabot e von Ziegesar] e bem leve.

PS: aliás eu me pergunto por quê? Por quê? A expressão Gossip Girl não foi traduzida? A mais óbvia tradução é: A fofoqueira, ou menina fofoqueira, Menina mexeriqueira, fuxiqueira, intrometida, alcoviteira, etc Tenho certeza de que se eu for ao dicionário ainda arranjo pelo menos mais dez sinônimos. Então por quê? Deixo aqui a dúvida, a pergunta as observações para quem queira ruminar.