![Passeio Público, Rio de Janeiro](https://peregrinacultural.com/wp-content/uploads/2008/06/pp2.jpg?w=300&h=225)
Uma das grandes invenções do urbanismo do mundo romano foram as praças públicas. E elas estão conosco até hoje. Gosto muito destas pequenas ilhas de verde, um repouso para todos nas grandes cidades. E adoro as praças públicas no Rio de Janeiro. Dentre elas tenho o Passeio Público ocupando um lugar especial no meu coração. Em parte porque fui muitas vezes lá quando era pequena com meu pai, quando aos sábados de manhã eu o acompanhava nas compras da semana. Assim desde cedo entendi o prazer de uma ilha de quietude e resguardo no meio da agitação.
Esta foi a primeira praça pública do Rio de Janeiro, planejada e construída entre 1779 e 1783. Decorado e desenhado por Mestre Valentim, que seguiu o estilo francês da época, com aléias in linhas retas. Passeando por entre as sombras de suas árvores centenárias hoje em dia é difícil imaginar que ali, onde colocamos tão firmemente os nossos pés havia água. Muita água. Ele é o aterro da Lagoa do Boqueirão. O líquido espelho negro, onde as lavadeiras cuidavam e quaravam as roupas, transformou-se numa área sólida, terra firme, com a terra do morro do cujas terras, Terras férteis pelo que se vê, pelo viço do que aqui foi plantado. A razão principal do aterro foi a salubridade. Os temporais tropicais aumentavam o volume e a força das ressacas. E logo após as chuvas quando as tormentas se voltavam para o Atlântico, carregando consigo as nuvens cinzentas e pesadas que por dias formavam uma abóbada densa sobre a cidade; quando os ventos deixavam de ser perigosos transformando-se em meras brisas marinhas, a Lagoa do Boqueirão se tornava num foco para epidemias de tifo e varíola. Ela havia sido já por mais de 150 anos uma fonte de dores de cabeça para os administradores locais.
Construído durante o governo do Vice-Rei D. Luis Vasconcelos e Sousa, no final do século XVIII, o Passeio Público ficou esquecido pela população e acabou se deteriorando por falta de manutenção. Sua degradação piorou de vez durante as fortes ressacas de 1817, quando o mar, implacável, subiu sobre os canteiros do parque afetando as estruturas de dois pavilhões quadrangulares que existiam no terraço, onde paisagens brasileiras do pintor Leandro Joaquim faziam parte de uma exposição permanente no local. Foi D. João VI, — na época Príncipe Regente, residindo no Brasil – que mandou que estas construções fossem demolidas e que o terraço fosse ampliado. Conservou-se pouco do desenho original: a Fonte dos Jacarés e as pirâmides esculpidas em 1807, em suma as obras de Mestre Valentim.
A última grande reforma do Passeio Público foi durante o Segundo Império. De 1860 a 1861 o parque passou por remodelação orientada administrada por Francisco José Fialho, que escolheu para dirigir as obras o botânico francês Auguste François Marie Glaziou, botânico, paisagista e arquiteto. As alamedas que oitenta anos antes haviam sido planejadas num estilo neo-clássico amigo das linhas retas foram modificadas e tomaram curvas sensuais. O muro junto à rua do Passeio foi trocado por gradil de ferro sobre base de alvenaria. Enquanto pequenos rios, e lagos foram adicionados, com pontes imitando bambu. O traçado francês, original, foi modificado para parecer mais natural recebendo assim um sotaque de jardim inglês.
O papel de Glaziou foi muito importante, Fascinado com a flora tropical ele procurou incluir neste parque uma grande variedade de plantas nativas. O charme e encanto deste parque, onde a temperatura é permanentemente amena, foram tantos que ainda no século XIX, o frei franciscano José da Conceição Vellozo passou a dar aulas públicas de botânica no jardim do Passeio Público.
São muitas as espécies vegetais dignas de admiração. Aproximadamente 96 espécies de vegetais superiores [só 14 haviam sido introduzidos por Mestre Valentim] entre eles, árvores frutíferas, uma carreira de baobás africanos, árvores decorativas e de madeira nobre, imensas figueiras e gameleiras. Além de belas arvores, arbustos, sombras fresquinhas e bancos para sentar e deixar as horas passarem, o Passeio Público tem um grande número de pequenos animais: gatos, patos, gansos, caxinguelês, e centenas de passarinhos. Na minha infância não era raro vermos pequenos bandos de periquitos voando por entre as copas largas das árvores mais altas. Levantando vôos curtos daqui pra lá e acolá eles eram como uma nuvem verde, facilmente reconhecida pela algazarra dos gritos e pelo incessante palrear. Eles em geral agitavam toda a vizinhança e os micos se excitavam também matraqueando entre eles, como se contassem as novidades do jardim.
Hoje há poucos animais silvestres no parque. Mas há muitos patos, marrecos, gansos, garças e outras aves. As belas árvores, os arbustos, as sombras fresquinhas e os bancos para sentar e deixar as horas passarem hoje nos alegram com também com gatos, caxinguelês e centenas de passarinhos.
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Adiciono aqui conexão para outra postagem com fotos sobre o Passeio Público. AQUI.