Às margens do Rio Piracicaba, 1941
Álvaro Paulo Sêga (Brasil, 1917-1991)
óleo sobre tela
Caminho do mirante, Piracicaba, 1933
Eugenio Luís Losso (Brasil, 1898-1974)
óleo sobre tela, 65 x 72 cm
Caminho do mirante, Piracicaba,1933
Eugênio Luís Losso (Brasil, 1898-1974)
óleo sobre tela, 65 x 72 cm
Touceiras de bambu
Alípio Dutra (Brasil, 1892-1964)
óleo sobre tela
Museu de Piracicaba
Arranjo Oriental, 2014
Douglas Okada (Brasil, 1984)
óleo sobre tela, 50x70cm
Câmara dos Vereadores de Piracicaba
Fábrica em Piracicaba, 1903
Joaquim Miguel Dutra (Brasil, 1864-1930)
óleo sobre tela, 60 x 100cm
Paisagem, da rua do Porto, Piracicaba, 1974
Álvaro Sega, (Brasil, 1917-1991)
óleo sobre tela, 32 x 40 cm
Escritor russo Eugênio Kulikov, 1904
Ivan Kulikov (Rússia, 1875-1941)
óleo sobre tela
“Por esse tempo começaram a cintilar os primeiros alvores de minha vocação literária. Estava eu certo de que meu pai se afogaria em júbilos, acaso me lesse um artigo de campanha contra a espada aventureira, que rasgou o ventre da Bahia e ameaçou decapitar São Paulo. Mas, tanto que me surpreendeu os intuitos, concentrou nas sobrancelhas todas as forças de sua energia e, chamando-me a um ajuste, ordenou, com dedo autoritário, que me fosse ocupar de ofício limpo. E não era limpo o da imprensa? Meu pai entendia que o tal mister calha ao patetas, aos inúteis, aos irresponsáveis. Tais os epitetos com que fulminava os jornalistas — por amor de meu futuro! Mas é bem notar, ele não detestava letrados. Ao contrário, acolhia-os, com regozijo, na usa consideração de boêmio tardiamente regenerado. E a prova está em que nunca deixou esmorecer a velha camaradagem, travada aos tempos da Academia, de alguns poetas de classe, notadamente de um tal José de Freitas, vivo ainda, parece-me que em Minas, o qual sempre escrevia para solicitar-lhe notícias e dinheiro. Meu pai, regra geral, só atendia à primeira parte das cartas do amigo, porém não se enfastiava a no-lo citar, à hora da mesa, amiudando-lhe gabos aos mérito de estilista e versejador.
O pobre José Freitas voltava, de novo, com os queixumes e soluços, estes simbolizados por um desperdício de reticências. Dizia-se na miséria, encravado com promissórias e oito filhos raquíticos. Para contê-lo, meu pai mandava-lhe duas ou três laudas de conselhos. O homem sossegava durante quinze dias, mas tornava, depois, lamuriante ainda, reclamando o vale-postal. Talvez mal compare, mas esse desgraçado José de Freitas me fazia lembrar alma penada, que suplicasse, do outro mundo, preces de alívio aos seus tormentos. Tenho por certo que o velho o tomou por exemplo do infortúnio, que me esperava, se me abandonasse aos impulsos da idade. Excelente pai!
Ora, não sei se erro, afirmando qua as paixões trazem a vantagem de nivelar índoles. Não me rebelei contra meu pai. Curvei-me resignado, às objurgatórias, como a receber a coroa de mártir que, no caso, me ficava a talho. Bem a contragosto, em casa dava de mão às consolações da pena. À noitinha, então sim, escapulia-me às vistas paternas e corria ao meu protetor, o Ferreira, que me oferecia lenitivo pronto às aflições: o conhaque, papel e tinta. Bom sujeito! Daqui ainda o vejo, alto, grosso, gordura consistente e pesada, ilhargas tão amplas como as espáduas, enormes bigodes retorcidos a modos de chifres, uma cicatriz angular na região frontal esquerda, sempre alegre, sempre loquaz, sempre desbocado… Bom sujeito. Tinha a mania de esmurrar o próximo por dê cá aquela palha, mas, afinal, isto é sestro de homem musculoso,e ninguém o recriminava por isto, afora os hermistas que lhe temiam o contato, como se evitassem pisar numa casca de banana.
Ferreira arrumava-me nos fundos da taverna, entre dois tabiques discretos, que ficavam por detrás das teias de aranha e das quartolas de azeite doce e de vinagre. Eu, meio desalentado, sentava-me defronte de um traste coxo e trêmulo e aguardava a inspiração… Ferreira trazia-me o conhaque… dois, três… a lambujem do trato, e as ideias, pouco a pouco destilavam no papel, seguindo a vertiginosa abalada de minha cólera contra o mundo e os adversários de Rui Barbosa.”
Em: Gente Moça, novela, (a primeira publicação em 1920), aqui, publicada junto ao romance Bagunça, David Antunes, São Paulo, Saraiva:1968, p. 115-117.
David Antunes, usou também o cognome Iago Joé, escritor brasileiro. Nasceu em Santa Branca, São Paulo em 1891 e faleceu em Campinas, SP, em 1969).
Obras:
Gente Moça, novela, 1920
Bagunça, romance, 1932
Incenso e pólvora, romance, 1937
Caminhos perdidos, romance, 1940
Briguela, romance, 1945
Lagoa Verde, romance, 1947
A face trágica da arte, ensaio, 1952
Obsessão, romance, 1956
Piracicaba, romance histórico, 1956
O pastor e as cabras, romance, 1968