Uma história fascinante sobre coragem e emancipação feminina, e sobre dois irmãos inseparáveis destinados a amar a mesma mulher. Anna Allavena, a carteira: a história extraordinária de uma mulher aparentemente comum que se muda do norte da Itália para o sul e se torna a primeira carteira em uma pequena cidade na região de Salento.
Em junho de 1934, Carlo e Anna descem do ônibus na praça principal de Lizzanello, em Salento. Ele está feliz por voltar para casa, no sul, mas ela, uma mulher do norte, tão bela quanto uma estátua grega, sente-se preocupada com o futuro nessa terra desconhecida.
Para os moradores, Anna nunca deixa de ser “a forasteira” – não frequenta a igreja, evita a pequena cidade e não participa das fofocas. Orgulhosa e determinada, desafia as tradições locais e, após ser aprovada em um concurso público, torna-se a primeira carteira do local – ou melhor, a primeira “carteira”, como prefere ser chamada.
A Carteira, uma história de romance e liberdade feminina.
SINOPSE
Inspirando-se na prodigiosa vida do maior filósofo português, José Rodrigues dos Santos nos mostra como Bento de Espinosa pôs fim à idade das trevas e inventou o mundo moderno.
Há perguntas cujas respostas têm um preço elevado a pagar.
Amsterdã, 1640. Um judeu é excomungado na Sinagoga Portuguesa por questionar as Sagradas Escrituras. Uma criança assiste a tudo. O pequeno Bento de Espinosa é considerado o maior prodígio da comunidade portuguesa de Amsterdã, mas o episódio planta nele a semente da dúvida: E se a Bíblia estiver mesmo errada?
A suspeita irá lançar Bento em sua maior busca intelectual. Quem realmente escreveu os textos sagrados? Qual é a verdade sobre Deus? O que é, afinal, a natureza?
Mas essa é uma busca proibida, e depressa o jovem judeu português descobre que terá de pagar um preço terrível pelas suas perguntas. Os rabinos judeus e os pregadores cristãos o perseguem e o acusam do pior dos crimes: a heresia.
SINOPSE
Quando o Ritz se torna o local favorito dos nazistas, um barman judeu não tem escolha senão continuar trabalhando. O que ninguém sabe é que, além de fazer coquetéis, ele também ajuda famílias judias a fugir. Baseado em uma história real e best-seller na França, O barman do Ritz de Paris, de Philippe Collin, é o grande romance sobre a Ocupação alemã.
Paris, 1940. Apesar da Ocupação nazista, o ilustre hotel Ritz consegue permanecer aberto. O bar do hotel logo passa a ser frequentado pela alta patente militar alemã, que busca experimentar ali o famoso refinamento francês. Frank Meier, o barman mais célebre do Ritz, precisa então se adaptar à nova clientela e manter em segredo algo que ninguém jamais pode descobrir: ele é judeu.
Frank se sente mais sufocado a cada palavra e sorriso que oferece. Ainda assim, o barman de origem austríaca, que lutou pela França na Primeira Guerra, se recusa a fugir. Frank ouve e age discretamente, fornecendo documentos falsos a outros judeus e contribuindo — inclusive de forma involuntária — para atividades conspiratórias. Afinal, quem desconfiaria de um barman?
Traições, mentiras e incertezas tornam a posição de Frank mais arriscada, mas ele está sempre um passo à frente do destino.
Com uma narrativa fascinante, O barman do Ritz de Paris traz uma perspectiva inusitada da Ocupação nazista na França, expondo os privilégios da alta sociedade francesa, além de nos colocar o dilema de Frank Meier: qual seria a dose perfeita entre a resignação, que o mantém vivo, e a coragem, que lhe dá motivo para viver?
Reunião do último encontro de 2025 do Papalivros, na Mercearia da Praça, em Ipanema. Infelizmente com algumas ausências.
O que o grupo leu em 2025:
1 – Eu vou, tu vais, ele vai, Jenny Erpenbeck
2 – O segredo de Espinosa, José Rodrigues dos Santos
3 — O barman do Ritz de Paris, Philippe Collin
4 — O colibri, Sandro Veronesi
5 — A carteira, Francesca Giannone
6 — Línguas, Domenico Starnone
7 — Claraboia, José Saramago
8 — A sangue frio, Truman Capote
9 – O que resta de nós, Virginie Grimaldi
10 — Tia Júlia e o escrevinhador, Mario Vargas Llosa
Há dias assim, mesmo na ausência de alguns membros importantes, a reunião foi muito boa, cheia de energia e alegre. É isso o que dá um encontro por mês, com pessoas que se tornaram amigas pessoais através dos anos, e um livro que marca a pauta de cada encontro.
Discussão do livro A CARTEIRA. Livro de maio de 2025. Muitas gostaram, algumas acharam mais ou menos, uma se decepcionou e eu realmente não gostei. Mas quem gostou…gostou muito. 😊
Às vezes é difícil imaginar que nos encontramos há 22 anos para conversar sobre um livro por mês. Nesses anos alguns de nós já saíram, outros entraram, alguns voltaram mas continuamos sempre com nossos encontros sempre que possível no terceiro domingo do mês, exceto quando o terceiro domingo se transforma em Páscoa, como neste ano. Com muitos feriados juntos, alguns membros já saíram de férias. Nossa comemoração foi menor,mas muito animada. Que venham mais 22 anos!
Este foi uma ano confuso no Papalivros e diferente de outros dos nossos 21 anos de encontros, Não lemos 12 livros, lemos 10. Decidimos também a partir de 2024 não escolher nenhum livro para leitura e discussão em dezembro porque o dia do nosso encontro é sempre de festa e a discussão se esvai. Por motivos excepcionais, não nos encontramos em maio.
Dentre as leituras do ano, tivemos dois clássicos brasileiros. Algumas de nós e eu estou incluída entres essas pessoas, não consideraram os clássicos na votação. No meu caso, ambos foram livros que já li mais de uma vez e achei injusto considerá-los no mesmo conjunto com livros contemporâneos alguns de autores recentes em suas primeiras publicações.
1 — O melhor do ano
Os enamoramentos de Javier Marías, tradução de Eduardo Brandão, Companhia das Letras: 2012
SINOPSE
O assassinato de um empresário madrilenho é o ponto de partida do romance de Javier Marías, que traz uma reflexão literária sobre o estado de enamoramento.
María Dolz, uma solitária editora de livros, admira à distância, todas as manhãs, aquele que lhe parece ser o “casal perfeito”: o empresário Miguel Desvern e sua bela esposa Luisa. Esse ritual cotidiano lhe permite acreditar na existência do amor e enfrentar seu dia de trabalho.
Mas um dia Desvern é morto por um flanelinha mentalmente perturbado e María se aproxima da viúva para conhecer melhor a história. Passa então de espectadora a personagem, vendo-se cada vez mais envolvida numa trama em que nada é o que parecia ser, e em que cada afeto pode se converter em seu contrário: o amor em ódio, a amizade em traição, a compaixão em egoísmo.
A história, narrada em primeira pessoa por María, sofre as oscilações de seus estados de espírito, de seus “enamoramentos”, evidenciando que todo relato é tingido pela subjetividade de quem conta.
Ao mesmo tempo, a presença incômoda dos mortos na vida dos que ficam é o tema que perpassa este romance, à maneira de um motivo musical com suas variações. Para desdobrar e reverberar esse mote, Javier Marías entrelaça a seu enredo referências a obras clássicas da literatura, como Os três mosqueteiros, de Dumas, Macbeth, de Shakespeare, e, sobretudo, o romance O coronel Chabert, de Honoré de Balzac.
Sustentando com maestria uma voz narrativa feminina, o autor eleva aqui a um novo patamar sua habilidade em nos envolver no mundo interior de seus personagens. Com Os enamoramentos, obra de plena maturidade literária, Javier Marías se reafirma como um dos maiores ficcionistas de nossa época.
Em 2º lugar
Olhai os lírios do campo, Érico Veríssimo, original 1938, Companhia das Letras: 2022
SINOPSE
“Olhai os Lírios do Campo” é um romance poderoso e comovente que convida à reflexão sobre os valores autênticos da vida. No livro, Eugênio Fontes recebe uma chamada do hospital que o alerta para o estado de saúde grave de Olívia. Na viagem até ao hospital evoca o seu passado: a infância infeliz e pobre, os traumas vividos na escola e em casa, o desejo de se tornar um homem rico…É graças aos sacrifícios dos pais que acede a uma educação de excelência e entra na Faculdade de Medicina, onde conhece o amor da sua vida, Olívia.Incapaz de assumir a relação com a colega de turma, Eugênio casa com a filha de um grande empresário, passa a viver de aparências, adultérios e eternas contradições. Mas será que o passado ficará para sempre lá atrás?
Em 3º lugar— houve empate e curiosamente ambos os autores residem no Paraná.
SINOPSE – Cora do Cerrado
Na década de 80, Cora,uma jovem mãe interrompe seus estudos para se casar e ir viver na fazenda de seu novo marido, no Cerrado brasileiro.
Vivendo longe da cidade, entre grandes extensões de terra vermelha, árvores retorcidas e uma complexa dinâmica familiar, Cora tenta criar seus filhos, produzir alimentos e se proteger dos olhares alheios.
Da interação com as mulheres locais, aprende a curar com ervas e a viver em harmonia com a natureza selvagem. Descobre que a solidariedade é a resistência silenciosa contra as convenções que as aprisionam. Seu maior desafio a vencer não é o lugar inóspito, mas sim as pessoas que ali habitam.
SINOPSE — Ojiichan
Terceiro romance do escritor paranaense e vencedor do Jabuti Oscar Nakasato, Ojiichan, que em japonês significa “vovô”, retrata a vida de Satoshi a partir do seu aniversário de setenta anos.
A aposentadoria compulsória do colégio onde ele lecionou por décadas é o primeiro dos eventos que o obrigam a confrontar as muitas faces da velhice. Seus colegas preparam uma festa de despedida e os alunos, que carinhosamente o apelidaram de Satossauro, prestam homenagem ao professor. Preocupados em celebrar o merecido descanso após uma vida de trabalho, ninguém ao redor parece enxergar a dor de Satoshi em deixar a rotina e dar início a uma nova fase.
Em casa, as coisas não estão muito melhores. A perda de memória de Kimiko, sua esposa, vai se agravando, e os cuidados com ela recaem sobre ele, sobretudo depois que uma tragédia acomete a filha do casal. Com o outro filho vivendo no Japão e o neto ausente, Satoshi experimenta, de modo estoico, os primeiros sinais da solidão, que só pioram quando ele é obrigado a se mudar para um apartamento menor e se despedir de Peri, seu cachorro. No novo prédio onde passa a morar, a solidão de Satoshi dá as mãos à de d. Estela e Altair, seus vizinhos, cuja história de vida o protagonista descobre aos poucos.
Com a coragem de representar o desamparo em toda sua crueldade, porém avesso a melodramas, Oscar Nakasato toca em pontos sensíveis da sociedade brasileira e provoca a reflexão ao desafiar o final trágico que parece se anunciar: quando Satoshi contrata Akemi como cuidadora de sua esposa, sua vida particular ganha novos contornos e a configuração do cotidiano e da família se alteram de modo inusitado.
Em sua prosa a um só tempo austera e atenta aos detalhes, tão característica da cultura japonesa na qual Nakasato cresceu, Ojiichan mostra que a terceira idade não é a linha de chegada, mas um caminho a ser trilhado, e transborda a beleza e a serenidade necessárias a um mundo ocidental de supervalorização da juventude e da velocidade.
Hoje foi a festa de fim de ano do Grupo de Leitura Papalivros. Foi a 21ª reunião de Natal. Ainda que ao longo destes anos o grupo tenha mudado de perfil, há cinco membros que pertencem ao primeiro ano de leituras. Este é um ótimo histórico. Crescemos juntas nesses anos e continuamos firmes. Leitoras que se divertem e têm opiniões. Que 2025 nos traga muitas alegrias, bons livros, grandes oportunidades, muitas viagens pessoais e imaginárias através de nossas leituras! Obrigada meninas. Três de vocês não puderam participar, mas estaremos juntas de novo para mais um ano de aventuras!
Aos curiosos: há uma página neste blog, ali, no canto direito. clique em PAPALIVROS e vocês verão todos os livros que lemos nesses vinte e um anos!
Listas, listas, listas de livros quem não as ama? Uma coincidência hoje em fez com que eu passasse a tarde refletindo sobre livros lidos e listas de livros. Uma amiga me mandou um artigo do The New YorkTimes, [Book Review’s Best Books Since 2000– Looking for your next great read? We’ve got 3,228. Explore the best from chosen by our editors] e como não poderia deixar de ser, fui investigar que livros eles consideraram os melhores de duas décadas e meia no século XXI. E será que os meus favoritos estariam nesta lista? Vou levar vocês às coisas sobre as quais rumino neste fim de semana.
Tenho refletido muito sobre escolha de livros, sobre o quanto me transformei numa pessoa mais exigente e sem paciência para algumas narrativas. E avaliei durante este mês de abril, quando meu primeiro grupo de leitura, Papalivros, chegou à sua maioridade, 21 anos de existência, se vale a pena continuar. Tenho considerado o desempenho do grupo, mas principalmente o meu desempenho como organizadora, porque vinte e um anos são uma geração inteira, e o mundo mudou nestas duas décadas. O mundo mudou, mudei eu e mudaram os membros. O grupo, hoje, já não está mais tão alerta, mais tão energético quanto era. Basta ver a maior similaridade daquilo que lemos com a lista dos favoritos dos editores do NYT. Estávamos mais engajados no passado. E me pergunto se vale a pena continuar, com o grupo nos termos estabelecidos, tanto para mim como para os membros. Uma coisa é certa: há uma alteração óbvia nos três grupos que organizo. Há um afastamento, um relaxamento depois da pandemia. Nenhum dos grupos é o mesmo. Nem eles são do mesmo tamanho. O comportamento das pessoas mudou. Considero portanto o que poderia ser feito para que o grupo continuasse com mais interesse e mais curiosidade pela leitura.
O modelo que escolhi em 2003 foi uma adaptação carioca de grupos de leitura que frequentei, mais que um, em diversas cidades americanas, nas décadas que morei fora do Brasil. Lá, talvez porque o hábito da leitura já esteja absorvido, há uma naturalidade nos encontros que não acontece aqui. Lá os grupos são mistos, aqui os homens que entraram desistiram. Os encontros são nas casas das pessoas, em rotatividade, sempre. Nunca participei de um grupo de leitura que se encontrasse em lugar público. Estabelece-se um horário, sempre dia da semana, sempre à noite. O americano janta cedo, de modo que 20 horas é um horário que todos têm livre e já é depois do jantar. Os encontros são cada vez na casa de um membro. Dependendo do grupo, aquele membro oferece um café, chá, alguns biscoitos, talvez um bolo. Ninguém vai “para comer ou beber”, comer ou beber é secundário. Outros grupos funcionam com “potluck” cada membro traz uma coisa de comes e bebes ou alguém fica responsável pelos biscoitos ou por assar um bolo para aquele encontro. Todo americano sabe cozinhar: homem ou mulher, ou sabe comprar (muito mais raro) algum biscoito especial, e traz uma garrafa de vinho, Mas a atenção é no livro, nas leituras, na troca de experiências literárias ou pessoais. O americano também fala no seu turno, acho que essa é uma diferença fundamental aprendida na escola quando crianças e adolescentes aprendem a organizar grupos e a aceitar propostas, a votar nelas. Eles aprendem desde cedo a seguirem a Robert’s Rules of Order, algo de que nunca ouvi falar no Brasil, mas que todo americano conhece e segue. Sendo assim, um americano nunca atrapalha o outro ou corta o outro na fala. Esse hábito não é mantido por aqui, linhas de argumentação se perdem e frequentemente conversas paralelas surgem, o que põe qualquer troca de ideias a perder. Esse é verdadeiramente um hábito carioca, cultural, ao qual não consigo me acostumar. Lá, o assunto revolve sobre o livro, o tema abordado, a vida do escritor, que mais aquele escritor publicou. “E vocês viram o artigo… no NYT, ou no Post, ou no N&O?” E como e se aquilo reflete no que você conhece da sua vida. Por volta das 22 horas todos mais ou menos se preparam para ir embora, todos trabalham no dia seguinte. Antes, um novo livro foi acordado para o próximo mês. Neste aspecto os americanos são bem mais participativos do que os cariocas. Não sei bem porque.
A mesa, 1928
Georges Braque (França, 1882-1963)
óleo sobre tela, 81 x 131 cm
National Gallery, Washington DC
A adaptação que fiz para o Rio de Janeiro foi principalmente o ajuste do local de encontro. Inicialmente, nos primeiros seis anos, os encontros foram na minha moradia. Ainda mantenho o hábito de receber, gosto de juntar amigos. Gosto de fazer pratos especiais. Mas o carioca está acostumado a se encontrar fora de casa, no bar, no restaurante. Portanto, quando me mudei para um apartamento menor, as reuniões passaram a ser feitas em restaurantes. Nessa época o grupo tinha 14 membros Os problemas se intensificaram: a conversa sobre o livro é sempre interrompida por pedidos de mais uma laranjada… gelo… e a minha ordem? Pode trazer o sal, por favor? Fulana, você já experimentou o pastel? É bom? Ah, eu não posso comer … aqui não tem nada que eu possa comer… a atenção não se mantém no livro. Conversas paralelas surgem numa fração de segundos. O assunto gerado pelo livro é abortado. É difícil manter a atenção dos participantes.
Esta pequena mudança de um ambiente fechado para um ambiente público foi determinante no comportamento dos participantes. Mudou. O grupo se tornou menos dedicado às trocas de ideias sobre a leitura e mais inclinado a escapulir da agenda a qualquer momento. Poucas vezes alguém cuida de trazer um artigo sobre o livro, sobre o escritor, até mesmo sobre o país em que a trama se desenvolve. As conversas empobreceram. E, houve um agravante pior: nos sujeitamos à troca de lugares de encontro, a mercê da economia local. Se a economia na cidade ia bem, podíamos contar com a estabilidade dos locais de encontro. No momento em que a economia ia mal também nós sofríamos. A lanchonete onde nos encontrávamos fechou, o café que a substituiu, fechou, fomos para um restaurante tradicional, tivemos problemas: não queriam servir só salgados ou coisas rápidas; mudamos para outro restaurante mais tradicional que não nos recebeu mal mas a sala especial no terceiro andar, que haviam nos prometido não pode ser acionada depois da segunda vez que nos encontramos lá, porque a receita não era grande suficiente para eles nos abrirem o local. Nossos encontros de domingo à tarde (horário estabelecido pelos participantes) sempre têm pessoas que almoçam tarde e não querem comer nada. Nenhum restaurante pode segurar lugares sem receita por duas ou duas horas e meia. Até que este mesmo restaurante, que nos abrigou, fechou para obras e nem nos avisou! Fomos para outro lugar. Mas a luta continua sempre: ou não consumimos o suficiente, ou não há lugares para dez pessoas. Não há acesso para deficientes. Muito barulho. Muita música alta ou o som da televisão com o futebol não pode ser baixado. Tudo contribui para dispersão, para falta de atenção dos componentes do grupo, mesmo aqueles que estão verdadeiramente interessados. Durante a pandemia, o grupo diminuiu de tamanho. Os encontros foram online. Muitos acharam que não valia a pena. Quando voltamos ao encontro presencial, nem sempre todos aparecem. A presença varia muito, como se tivéssemos perdido o hábito. Como se a leitura e sua discussão não tivesse mais lugar, a não ser como um aposto, um extra e não um compromisso. Ultimamente só uma ou duas pessoas se interessam de sugerir leituras. Tem sido uma decepção. Então, desde meados de abril, me pergunto se vale a pena o esforço de manter o grupo. Se não é hora de fechar. As amizades que se formaram devem perdurar. Afinal, tudo tem seu tempo. 21 anos já é uma vitória!
Natureza morta com fruteira na mesa, 1914-15
Pablo Picasso (Espanha, 1881-1973)
óleo sobre tela, 64 x 80 cm
Colombus Art Museum, Ohio
Aí vejo a lista dos melhores livros destas duas décadas e meia do século XXI, publicada pelo The New York Times. E quando já estava praticamente decidida a ter a última reunião do Papalivros neste mês de maio, faço a listagem dos livros selecionados por eles. Comparo com a nossa lista de leitura e começo a reconsiderar.
Venho de uma família de leitores. Todos liam na família, pais, avós, tios, tias. Houve uma única vez, uma restrição a um livro que eu queria ler e minha mãe recusou. Era Trópico de Câncer, de Henry Miller. Eu tinha 15 anos. Isso ficou marcado para mim. Mas meus pais acreditavam em deixar que nós escolhêssemos o que iríamos ler. Nunca, a não ser na escola, fomos requisitados a ler alguma coisa. Essa tradição eu trouxe para o grupo. E muitas vezes leio o que jamais escolheria na livraria, Às vezes tenho boas surpresas, outras simples confirmações de que não era um livro para mim. Também nunca me considerei uma especialista em literatura mas fica claro, para mim, que sou uma pessoa que já leu muito mais do que a maioria e muitas vezes me calo. Não há pecado maior do que mostrar conhecimento em certos momentos. Mas, agora me pergunto, e se eu fosse um pouco mais incisiva sobre os livros que fôssemos ler? Ou, e se eu pedisse maior envolvimento destes leitores com as obras escolhidas? Porque quando comparo o que lemos nesses últimos 21 anos com a lista do NYT, temos muita coisa em comum. Um grande número de acertos mesmo em se tratando de livros que precisam de tradução e portanto aparecem no Brasil, mais tarde. Vou pensar melhor amanhã. Obrigada por me acompanharem neste solilóquio.
Desde 2003, ou seja há vinte anos, o grupo de leitura Papalivros se encontra mensalmente para um papo e discussão do livro do mês. Hoje comemoramos nosso último encontro do ano. Conversamos, brincamos com as crianças, falamos sobre Noites Brancasde Dostoiévski, livro do mês, votamos nos três melhores livros do ano, e tivemos o prazer de estarmos envolvidas, como espectadoras, no acender da quarta vela da cerimônia de Chanucá, a festividade que comemora a vitória da luz contra a escuridão, a preservação do espírito de Israel e a liberdade religiosa. Não poderia ter sido um momento mais apropriado para nos lembrarmos desse significado. Foi uma reunião memorável. Algumas de nós estamos juntas desde o primeiro encontro. Envelhecemos juntas. Mas mesmo a mais recente participante está no grupo há muitos anos. Nem todas puderam vir hoje: de dezesseis, doze estavam presentes.
Houve muitos pontos altos nesta reunião. Entre eles, é claro, a votação dos melhores do ano. Aqui vão os candidatos, ou melhor, os 12 livros lidos durante o ano de 2023.
Lições, Ian McEwan
Ninféias negras, Michel Bussi
A tenda vermelha, Anita Diamant
O mistério de Henri Pick, David Foenkinos
Hotel Portofino, J. P. O’Connell
Orgulho e preconceito, Jane Austen
A última livraria de Londres, Madeline Martin
Uma mulher singular, Vivian Gornick
Caderno proibido, Alba de Cespedes
O sol também se levanta, Ernest Hemingway
Véspera, Carla Madeira
Noites Brancas, Fiódor Dostoiévski
Como são computados os votos. Cada participante recebe um cédula com a lista dos livros livros. Ao lado do título colocará a classificação de acordo com seu gosto. Só os três primeiros colocados. Cada número 1 recebe 3 pontos; cada segundo lugar, recebe 2 pontos e 1 ponto os que ficaram em terceiro lugar. Ao final somamos os pontos e temos a classificação.
1º lugar em 2023:
A última livraria de Londres, de Madeline Martin
2º lugar em 2023
Orgulho e preconceito, Jane Austen
3ª lugar em 2023 deu empate:
Caderno Proibido, Alba de Céspedes e Noites Brancas, Fiódor Dostoiévski
O grupo de leitura PAPALIVROS comemora sua 19ª festa de fim de ano… Com direito a espumantes, festa encomendada, vista para o mar, e votação dos melhores do ano! VIVA! O grupo fará 20 anos de atividades ininterruptas em abril de 2023!
O grupo de leitura Papalivros encontrou-se mais uma vez de maneira virtual através do ano de 2021. Consideramos voltar a encontros ao vivo no ano de 2022. Mas esperamos ver os resultados das infecções por variantes do Covid-19 depois das festas de Reveillon no Rio de Janeiro para voltar aos encontros da maneira tradicional.
Nos dezoito anos de vida, o grupo sempre escolheu as melhores leituras do ano no encontro de dezembro que este ano caiu no domingo dia 12.
Os livros lidos foram:
A vida mentirosa dos adultos, Elena Ferrante
O mundode Sofia, Jostein Gaarder
Na boca do leão, Anne Holt
Torto arado, Itamar Vieira Junior
Pachinko, Min Jin Lee
O enigma do quarto 622, Joel Dicker
O clube do crime das quintas-feiras, Richard Osman
Na corda bamba, Kiley Reid
O clube de leitura de Jane Austen, Karen Joy Fowler
Sira, Maria Dueñas
A Porta, Magda Szabó
A pediatra, Andréa del Fuego
Você encontrará abaixo os três melhores livros do ano para o grupo:
Em primeiro lugar, empatados, e listados por ordem alfabética, A porta e Sira:
A porta, Magda Szabó
Escritora húngara, descoberta tardiamente fora de seu país, é lançada pela primeira vez no Brasil com romance impactante sobre a relação tensa e misteriosa entre duas mulheres.
Uma escritora culta, com uma relação nebulosa com as autoridades comunistas na Hungria moderna do pós-Segunda Guerra Mundial, contrata Emerenc ― camponesa, analfabeta, impassível, bruta e de idade indefinida ― como sua governanta. Emerenc mora sozinha em uma casa onde ninguém pode passar da porta de entrada, nem mesmo seus parentes mais próximos. Ela assume o controle do lar da patroa, tornando-se indispensável, experimentando um tipo de amor ― pelo menos até o tão desejado sucesso da escritora trazer à tona uma revelação devastadora.
A força sobre-humana de Emerenc, sua disposição para ajudar os outros e fragmentos de sua biografia dolorosa constroem o mosaico do que parece uma existência transpassada por segredos. Na relação de dependência desenvolvida entre as protagonistas se encerram dúvidas e mistérios sobre a personalidade daquela que personifica um país que já não existe mais.
A cada nova informação sobre a excêntrica governanta, emerge o cenário de uma Hungria ocupada e dividida, e até a relação de Emerenc com seus pertences é questionada. Teria roubado dos judeus ou ganhado os bens de uma família judia que ela havia ajudado a fugir? Quem é essa mulher e por que ela está fechada a qualquer intimidade com seus patrões? Todas as possibilidades são plausíveis até que as portas, metafóricas e literais, sejam, por fim, abertas.
Em um romance revelado tardiamente ao grande público, mas muito debatido e elogiado pela crítica, Magda Szabó oferece uma visão generosa sobre táticas de sobrevivência, sobre tudo o que pode ser dito no silêncio e sobre o papel da autenticidade na arte e na vida.
Sira, Maria Dueñas
Em Sira, María Dueñas traz de volta essa personagem que cativou milhões de leitores no mundo, e ela retorna não mais como uma costureira inocente, mas sim com a força inabalável de uma mulher que fará o que for preciso para atingir seus objetivos. Depois dos horrores da Segunda Guerra, o mundo começa a se reerguer lentamente. Sira, depois de concluir suas funções como colaboradora do Serviço Secreto Britânico, só consegue pensar em uma coisa: paz. Mas nem tudo é tão simples. Um trágico acontecimento colocará os planos de Sira em xeque, e, mais uma vez, ela terá que tomar as rédeas de seu próprio destino e buscar em si a coragem e as forças para seguir lutando. Entre perdas e reencontros, participando de momentos históricos em lugares como Jerusalém, Londres, Madri e Tânger, Sira Bonnard – antes conhecida como Arish Agoriuq e Sira Quiroga – vai correr riscos inimagináveis, a fim de garantir um futuro tranquilo para seu filho.
Pachinko, Min Jin Lee
Livro narra a saga de três gerações de imigrantes coreanos no Japão do século XX e foi recomendado por Barack Obama.
No início dos anos 1900, a adolescente Sunja, filha adorada de um pescador aleijado, apaixona-se perdidamente por um rico forasteiro na costa perto de sua casa, na Coreia. Esse homem promete o mundo a ela, mas, quando descobre que está grávida ― e que seu amado é casado ―, Sunja se recusa a ser comprada. Em vez disso, aceita o pedido de casamento de um homem gentil e doente, um pastor que está de passagem pelo vilarejo, rumo ao Japão. A decisão de abandonar o lar e rejeitar o poderoso pai de seu filho dá início a uma saga dramática que se desdobrará ao longo de gerações por quase cem anos.
Neste romance movido pelas batalhas enfrentadas por imigrantes, os salões de pachinko ― o jogo de caça-níqueis onipresente em todo o Japão ― são o ponto de convergência das preocupações centrais da história: identidade, pátria e pertencimento. Para a população coreana no Japão, discriminada e excluída — como Sunja e seus descendentes —, os salões são o principal meio de conseguir trabalho e tentar acumular algum dinheiro.
Uma grande história de amor, Pachinko é também um tributo aos sacrifícios, à ambição e à lealdade de milhares de estrangeiros desterrados. Das movimentadas ruas dos mercados aos corredores das mais prestigiadas universidades do Japão, passando pelos salões de aposta do submundo do crime, os personagens complexos e passionais deste livro sobrevivem e tentam prosperar, indiferentes ao grande arco da história.