O Maracatu, poesia de Sônia Carneiro Leão

22 03 2016

 

ROSINA BECKER DO VALLE (1914- 2000) - Maracatu em Pernambuco (Folclore Brasileiro),ost, 50 x 62. Assinado no c.i.e. e datado (1966)Maracatu em Pernambuco, 1966

Rosina Becker do Valle (Brasil, 1914-2000)

óleo sobre tela, 50 x 62 cm

 

 

O Maracatu

 

Sônia Carneiro Leão

 

 

Ouvi uma batucada

vindo da encruzilhada

de uma rua do Recife.

 

Parei para dar uma olhada

e vi uma frota armada

de alfafas e abes

num batuque alucinado

o tal do baque virado

batuque de endoidecer.

 

Não um baque arrumadinho

feito o pagode e o chorinho

que cantam devagarinho

coisas boas de dizer.

 

Não.

Era um baque puro corte

saudando a vida e a morte

indo fundo até doer.

 

E algo foi-me exibido

em pleno Recife antigo

que mexeu tanto comigo

como nunca aconteceu.

 

Minh’alma já desarmada

pelo baque seco e cru

viu descer do céu Xangô

e toda nação Nagô

pra dançar Maracatu.

 

 

 

Em: Remendando Trapos: poesias, Sônia Carneiro Leão, Olinda, PE, Babeco: 2010, p. 42-3.