Rosina Becker do Valle (Brasil, 1914-2000)
óleo sobre tela, 50 x 62 cm
O Maracatu
Sônia Carneiro Leão
Ouvi uma batucada
vindo da encruzilhada
de uma rua do Recife.
Parei para dar uma olhada
e vi uma frota armada
de alfafas e abes
num batuque alucinado
o tal do baque virado
batuque de endoidecer.
Não um baque arrumadinho
feito o pagode e o chorinho
que cantam devagarinho
coisas boas de dizer.
Não.
Era um baque puro corte
saudando a vida e a morte
indo fundo até doer.
E algo foi-me exibido
em pleno Recife antigo
que mexeu tanto comigo
como nunca aconteceu.
Minh’alma já desarmada
pelo baque seco e cru
viu descer do céu Xangô
e toda nação Nagô
pra dançar Maracatu.
Em: Remendando Trapos: poesias, Sônia Carneiro Leão, Olinda, PE, Babeco: 2010, p. 42-3.
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