Um tecido único, naturalmente dourado, da seda de um milhão de aranhas

21 06 2010

Tecido de seda de aranha.  Cor natural.  Foto: American Museum of Natural History/R. Mickens.

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Hoje me lembrei de um artigo que eu havia lido no New York Times, sobre um tecido de seda de aranhas e que eu traduzia, quando uma pane no meu computador levou todo o meu trabalho para o éter.  Num sábado com um  único compromisso: ir ao jogo de vôlei Brasil x Coréia do Sul no Maracanãzinho, encontrei tempo suficiente para resgatar o assunto.  Procurei na rede  postagens brasileiras sobre os assunto, mas encontrei uma única enttrada no Boca Aberta.  Por que então postar?  Porque esta é uma oportunidade única de se conhecer um tecido feito de seda de fios de aranha.  Não há outro no mundo.  Mas sua fama é milenar.

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O tecido que foi exibido no Museu de História Natural  em Nova York é raro.  Foi feito com o fio de seda produzido por mais de um milhão de aranhas .  Para produzi-lo  um grupo de 70 pessoas, em Madagascar,  levou  4 anos coletando as aranhas que produzem este fio, enquanto um outro grupo de mais ou menos 12 trabalhadores extraia, cada um deles, aproximadamente 243 metros de cada aranha.  O resultado foi um tecido de 335 cm por  122 cm de largura.  Isso para fazer o único tecido de grandes proporções de seda de aranha no mundo, nos dias de hoje.

A seda da aranha é muito elástica e muito forte, incrivelmente forte mesmo de comparada ao aço ou ao Kevlar “[NT: Kevlar é uma fibra sintética muito resistente — marca registrada da Dupont}. Afirma Simon Peers, que é um dos líderes do projeto.  “ Há pesquisas no mundo inteiro hoje que tentam duplicar as propriedades de tensão do fio da aranha e aplicá-lo a  todo tipo de projeto da medicina à industria.  Mas ninguém ainda teve sucesso em conseguir todos as propriedades da seda da aranha”.

Simon Peers  teve essa idéia depois que soube de um missionário francês, Jacob Paul Camboué,  que trabalhou com aranhas em Madagascar no final do século XIX. Camboué construiu com auxílio de um sócio, M. Nogué,  uma pequena máquina de tecer à mão para extrair a seda de até 24 aranhas ao mesmo tempo, sem machucá-las.  O tecido obtido deu para fazer por esse processo um jogo completo de cama que  foi exposto na Exposição Universal de Paris em 1898, e depois perdido.   Antes de Camboué, na década de 1890, em Madagascar o fio de seda da aranha só era usado, na tradição secular, como fio para redes de pesca bastante rudimentares. 


As aranhas tecedeiras [Nephila madagascariensis] .

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Simon Peers então se propôs e conseguiu fazer uma réplica dessa máquina têxtil para 24 aranhas que foi usada no final do século XIX.  Junto com Nicholas Godley eles coletaram as primeiras 20 aranhas e as colocaram na máquina e começaram a rodá-la.  Para surpresa dos dois um belo e finíssimo fio de ouro começou a ser fabricado. 

O primeiro projeto do Comboué foi feito da maneira mais primitive possível.  As aranhas [Nephila madagascariensis ] eram colocadas numa caixa de fósforo e por um pequena compressão no seu abdome podiam extrair e enrolar num carretel movido à mão o fio que às vezes atingia até 450 metros.  Graças a invenção de M. Nougé que permite o fio de ser enrolado automaticamente e e e suas notas da construção da máquina que foi possível trançar e dobrar o fio de uma maneira prática e rápida.  Isso é feito por uma máquina difícil de descrever em que as aranhas são presas pela garganta, enquanto fabricam o fio.  Elas aceitam esta prisão de maneira bastante passive, e enquanto a seda é retirada elas permanecem completamente imóveis.  Mas para fazer um tecido de um tamanho razoável Peers e Godley tiveram que aumentar bastante o projeto.  14.000 aranhas dão aproximadamente  28 gramas de seda e o tecido exposto no museu, pesa 1.180 gramas.   Os números são gigantescos.  Assim, jovens meninas de Madagascar ião diariamente a um parque próximo à escola que freqüentavam e coletavam 300 a 400 aranhas.  Essas aranhas eram colocadas em cestos com tampas de madeira, para o transporte.   Em geral, depois de serem postas na máquina, e a seda retirada, as aranhas são recolocadas de volta no parque por algumas semanas.  Pode-se retirar a seda da mesma aranha passado algum tempo de Godley menciona que “é como um presente que se renova, que você continua recebendo”.  A seda quando é coletada já vem com a cor dourada e não precisa pentear nem de qualquer outro tipo de tratamento antes de ser usada na trama.  

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Para conseguir a quantidade de seda de que necessitavam,  Godley e Peers empregaram dezenas de pessoas para pegarem as aranhas: coletar e colocá-las na máquina.  “Tivemos que procurar pessoas que se interessassem em trabalhar com as aranhas, porque elas mordem”.   No final do projeto foram usadas mais de um milhão de aranhas fêmeas para conseguirem a seda necessária.  Essas aranhas  são membros da família Nephila genus e encontradas nos trópicos.  São de fácil identificação: grandes teias douradas, que podem ser vistas entre postes de luz ou telefone, ou entre fios de luz e que podem chegar em tamanho à largura de uma estrada para um carro.  Os fios dourados só são produzidos durante a estação das chuvas, por isso os trabalhadores as coletam entre outubro a junho.  O milhão de aranhas usado no projeto,  foi coletado em Antananarivo, capital de Madagascar e  arredores.

Precisa ser dito o quão intrigante é ver que as aranhas usadas no processo parecerem dóceis ao se deixarem ser manuseadas.  Por que elas são conhecidas por sua ferocidade, pelo menos contra os seres de seu próprio meio.  Só aranhas fêmeas produzem o fio de seda.  Elas, em geral, degustam seus parceiros depois do acasalamento e comem também com alguma freqüência, outras aranhas fêmeas mais fracas do que elas mesmas.  Quase toda a seda é feita dos casulos de lagartas da seda, mas de tempos em tempos, as pessoas tentaram fazer seda do fio de aranha.  Um dos grandes problemas é o canibalismo das aranhas que se devoram quando cativas, e colocadas num único ambiente, o que não acontece com as lagartas. 

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Há muito tempo pesquisadores tentam entender as propriedades da seda de aranha que são únicas,que as fazem mais fortes do que se fossem feitas com fios de aço ou Kevlar e ainda por cima muito mais flexíveis, se esticando até 40 % além do seu comprimento normal sem quebrar.  O fio também é mais forte do que o aço e à prova d’água.  Infelizmente a seda de aranha é muito difícil de ser produzida em grande quantidade. 

E é claro que gastar 4 anos produzindo um único tecido de seda de aranha não é muito prático para os cientistas tentando estudar todos os aspectos dessa seda, nem companhias que gostariam de manufaturar um tecido que pudesse ter uso biomédico, — no campo de batalha, nas viagens espaciais, em coletes à prova de bala,  ou como simples alternativa ao Kevlar — poderiam fazer isso.  Alguns pesquisadores tentaram inserir alguns genes de aranha em bactérias ( até mesmo vacas e cabras) para a produção de seda, mas até hoje, essas tentativas têm tido pouco sucesso.

Parte do problema de produzir a seda da aranha em laboratório é que ela começa como uma proteína líquida que é produzida por uma glândula especial no abdome da aranha.   A aranha usa de força em suas pequenas rocas para re-arrumar a estrutura molecular da proteína e torná-la  em seda.

Quando se fala de uma aranha produzir seda, estamos , na verdade, falando em como ela aplica suas forces para produzir a transformação de um líquido em sólido,” disse o conhecedor de seda Todd Blackledge da Universidade de Akron, que não teve participação no projeto do tecido.  “Os cientistas não conseguem duplicar o que as aranhas fazem tão bem.  A cada ano que passa estamos cada vez mais próximo de poder produzir essa seda em grande quantidade, mas ainda falta chegarmos lá”.  

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Tecendo.

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O tecido em exposição foi feito com um desenho e pássaros e flores baseado na longa tradição tecedeira da região montanhosa de Madagascar.  Essa arte tecelã era reservada só para as pessoas da família real e das classes mais altas, como o povo Merina.  Seda natural de lagarta há muito que é utilizada em Madagascar, mas não há lá nenhuma tradição de tecelagem com seda de aranha.   O tecido ficou em exposição em Nova York por seis meses e está agora em Londres onde também ficará exposto ao público por algum tempo antes de passear pelo mundo de museu em museu.





Cai o número de pássaros marinhos migratórios

18 09 2008
Escher, anel de moebius com pássaros

Escher, anel de moebius com pássaros

 

No 4° Encontro da AEWA Wetlands International for the African-Eurasian Migratory Waterbird Agreement [ Acordo sobre os Pássaros Migratórios de Pântanos da África-Eurásia] que acontece esta semana (15-19 setembro) em Madagascar houve uma queda de 41% no número na população destes pássaros.  Para os pássaros usando as rotas que passam pela Ásia Central e Ocidental a situação é ainda de maior perigo, com um declínio na população dos pássaros de 55%.   O anúncio para a imprensa destes dados foi acompanhado da explicação de que isto está acontecendo principalmente pela destruição do meio ambiente nestes locais de pouso/ parada dos pássaros migratórios, pela falta de planejamento econômico e na execução da exploração destas terras na Eurásia e na África.  Lugares tradicionalmente retidos como parada/pouso destes pássaros para a jornada de inverno estão desaparecendo pela ação do homem.  

80 países tem representantes neste encontro na cidade de Antananarivo, mas mesmo assim, é essencial que haja cooperação internacional para que programas de conservação das rotas sejam mantidos e ampliados.  Pássaros que precisam de longos vôos, indo de um lado da Terra para o outro, com rotas estabelecidas através de séculos são os que mais sofrem com as mudanças climáticas, com o aquecimento da Terra e com a destruição dos lagos e pântanos onde estão acostumados a parar para recomeçar vôo depois do descanso. Um apelo a que se preste atenção a este problema e que se fomente maior cooperação internacional é até agora o resultado deste encontro.

 

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