William Mulready (Irlanda, 1786-1863)
óleo sobre madeira, 22 x 18 cm
Augustus Edwin Mulready (Irlanda, 1844-1905)
óleo sobre tela, 40 x 30 cm
Cecília Rosslee (África do Sul, contemporânea)
óleo sobre tela
Achei interessante a descrição do valor da paisagem para Karilan Altenberg, escritora britânica, nascida na Suécia, que explicou no artigo, Karin Altenberg: ‘landscape in my novels is not just backdrop – it is both stage and actor’ no jornal The Irish Times, a importância da localização em suas histórias. Para ela, a paisagem é muito mais que o simples ambiente em que a trama se desenvolve, ela é parte intrínseca da história.
“A localização do romance para mim é tão importante quanto a trama. O lugar é um conceito existencial, intimamente ligado ao nosso estar no mundo. Experimentamos nossa identidade, de maneira significativa, através do lugar e da comunidade a qual sentimos que pertencemos: uma espécie de lar arquétipo do qual podemos sempre escapar e para o qual podemos regressar. E todos nós somos, até certo ponto, socializados através de paisagens, nomeando os lugares que nos são conhecidos familiares – é assim que existimos, através de uma cartografia da linguagem e de lugar. E isto é, em grande parte, o que a arte tenta fazer: a classificação e o mapeamento de um lugar de existência.”
Para ela é necessário se infiltrar no ambiente em que sabe que colocará sua história, e só depois de ter assimilado e armazenado as informações do local, ela consegue ver seus personagens interagindo e tomando vida nas histórias que cria.
“Acho que o local que um escritor escolhe para sua narrativa está relacionado à sua sensibilidade. Sou sintonizada – e já observava de perto – o espaço ao ar livre, desde que era criança. Outros escritores podem ser mais conscientes da arquitetura, de interiores ou de paisagens urbanas. Também gosto de olhar para trás e sentir que a paisagem do passado é ao mesmo tempo terrivelmente real e totalmente de outro mundo – uma ficção maravilhosa.”
(tradução minha)
Cremilda recebe flores, ilustração de Maurício de Sousa.
Ladyce West
Louro. Natural.
E daí?
Não nega a origem
Brasileira
Portuguesa
Celta
Escocesa, irlandesa
Dos antepassados.
Meu cabelo crespo
Pixaim, Judeu
Cristão-Novo,
Que começa a manhã
Arrepiado,
Rebelde, espantado
É só uma herança,
Bonança do passado,
Sobrevivente de guerras,
Da perseguição
Aos católicos,
Aos protestantes.
Da inquisição
E das mãos de Hitler.
Sim, meu cabelo
É louro, pixaim, rebelde,
Europeu,
Brasileiro,
Como eu.
©Ladyce West, Rio de Janeiro, 2014
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Ken Hamilton (Irlanda, 1956)
óleo sobre tela, 31 x 26 cm
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François René de Chateaubriand, Visconde de Chateaubriand
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Henry McGrane (Irlanda,1969)
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Heinrich Heine
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Por entre os pinheiros, 1915
Stanhope Alexander Forbes (Irlanda 1857-1947)
óleo sobre tela
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Stanhope Alexander Forbes nasceu em 1857 em Dublin na Irlanda. Estudou arte na Escola de Arte Lambeth e mais tarde completou sua educação em Paris, no ateliê de Léon Bonnat. Na França ele desenvolveu a técnica de pintura “ao ar livre”. Retornou à Irlanda em 1884 e imediatamente se tornou um líder no movimento artístico do país sendo um dos membros fundadores da chamada Escola de Newlyn, fundada em 1899 com sua esposa, a também pintora, Elizabeth Forbes. Faleceu em 1947.
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Gina lendo
Daire Lynch (Irlanda, contemporânea)
óleo sobre tela
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Daire Lynch nasceu em Dublin na Irlanda e hoje vive em Cong, no condado de Mayo. Estudou desenho e animação em Ballyfermot. Também se dedica à música.
Prospect Park, Brooklyn, s/d
William Merrit Chase ( EUA, 1849-1916
óleo sobre tela
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Há um nicho literário que cobre as experiências de deslocamento social de imigrantes. Países do Novo Mundo como os Estados Unidos e o Brasil têm tido regularmente em sua literatura adições significativas da experiência do imigrante. No Brasil, esta experiência pode ser delineada mais recentemente, nas obras de Milton Hatoum, Nélida Piñon, Salim Miguel, Francisco Azevedo, para nomear alguns. Essa tradição ainda é mais vigorosa nos EUA que, assim como o Brasil, receberam levas e levas de imigrantes do mundo inteiro, Michael Chabon, Amy Tan, Jhumpa Lahiri, Bernard Malamud estão entre dezenas de escritores americanos que desde o século XIX, se dedicaram aos desassossegos funcionais e emocionais causados pela imigração.
O deslocamento cultural tem sido também objeto de estudo do escritor Amin Maalouf, cujo fantástico In the Name of Identity: Violence and the Need to Belong, [Penguin: 2003] – demonstra as falhas de requerermos que um indivíduo faça uma única escolha de identidade, quando somos de fato a comunhão dos fatores que nos formam. Maalouf está hoje entre os mais influentes pensadores contemporâneos no assunto. Talvez porque eu tenha vivido a maior parte da minha vida adulta fora da minha identidade de nascença, este assunto há algumas décadas me fascina e sensibiliza.
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Em Brooklyn [Cia das Letras: 2011] Colm Tóibín se dedica ao assunto retratando a imigração de Eiliss Lacey, uma jovem irlandesa que vai para os Estados Unidos na década de 1950. O romance é simultaneamente um romance em que a protagonista principal cresce e aprende, na tradição literária do Bildungsroman [romance de educação] e um retrato da impotência feminina diante do papel que lhe é reservado nas relações familiares da época.
Eiliss Lacey é a filha mais moça de uma família irlandesa. Introvertida e tímida, depois de um curso técnico em contabilidade não consegue encontrar um emprego satisfatório na pequena cidade onde mora. Seus irmãos já saíram de lá à procura de melhores oportunidades. Sua irmã mais velha, calorosa, cheia de vida, ainda está em Enniscorthy. Eiliss sobrevive dentro dos parâmetros de uma vidinha limitada e medíocre, até que é surpreendida pela família que arranja de emigrá-la – através de um contato com um padre irlandês nos EUA – para o outro lado do Atlântico. Sua opinião não é requisitada. E Eiliss embarca, com seus muitos receios abafados, na estarrecedora viagem transatlântica.
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Com a chegada a Nova York o mundo de Eiliss se amplia. Diferente de muitos imigrantes ela não precisa lidar com dificuldades por causa da língua. De fato, seu mundo tem muitas similaridades com o que deixou para trás, como se os elementos que o compõem fossem os mesmos, só que arranjados de maneira diversa. Esses ecos servem para contrastar, ao final da leitura, os dois mundos em que vive a jovem: são dois rapazes com quem se envolve; são duas chefes de trabalho difíceis; são duas matronas irlandesas que dispõem a bel-prazer da vida de Eiliss; são dois grupos de amigas irlandesas, são dois salões de dança. A distância que os separa também os une e encontram terreno fértil nas emoções da moça.
Colm Tóibín dá continuação, em Brooklyn, a diversas tendências da literatura inglesa. Eiliss Lacey, tem parentesco com Elizabeth Bennet, de Orgulho e Preconceito [Jane Austen] apesar de não ter o mesmo senso de humor. Como ela, no entanto, vive presa pela teia das convenções sociais e dos laços familiares. Além disso, ele retrata as pequeninas transformações na vida de uma pessoa comum, com a precisão e o colorido de dezenas de outros escritores britânicos, que se superam no retrato rigoroso dos detalhes da vida cotidiana. Desta maneira, Colm Tóibín consegue extrair do particular, o universal. Ampliando em muitas vezes a relativa grandiosidade das decisões tomadas por seu personagem.
Com uma narrativa enxuta que não desmerece as minúcias reveladoras que nos auxiliam no entendimento de Eiliss Lacey, e de sua época, Colm Tóibín nos induz a compreender as dúvidas e a solidão da personagem. Percebemos também o vazio daqueles à sua volta; a autoridade dos familiares e dos homens com quem se relaciona; as teias sociais que a aprisionam em ambos os lados do Atlântico. Mas como na vida há surpresas, e algumas tão grandes que mudam a projetada trajetória do destino, assim acontece aqui. E o que parece ser um final surpreendente torna-se simplesmente um final em aberto, como também são as grandes decisões que tomamos na vida. Apesar de um início vagaroso, a história ganha um ritmo crescente e de suspense que arrebata o leitor até o último parágrafo, deixando um travo ou uma pergunta. Este é um livro cuja história continua a ser contada nas nossas imaginações, muito depois da última palavra lida.
Richard Moynan ( Irlanda, 1856-1906)
óleo sobre tela
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Richard Moynan ( Irlanda 1856-1906) Começou estudando medicina, mas um pouco antes de prestar aas provas finais, deu uma guinada em sua vida e entrou para a Escola Metropolitana de Arte em Dublin, em 1879 e teve um sucesso quase imediato conseguindo os dois primeiros prêmio de sua carreira. Em 1883 foi para Antuérpia para continuar seus estudos de pintura. Em 1885 vai para Paris continuando seu processo de aprendizado. Ao retornar a Dublin, é empregado pelo jornal The Union como um cartunista político. Em 1890 torna-se membro da Academia Real.