“Minha nossa é o carro deles!… Pare, por favor… eu desço”, Tintin o detetive belga, por Hergé.
Todo “barbeiro” sustenta
que a batida foi assim:
– Veio um poste a mais de oitenta,
na contra-mão, contra mim!…
(Izo Goldman)
Todo “barbeiro” sustenta
que a batida foi assim:
– Veio um poste a mais de oitenta,
na contra-mão, contra mim!…
(Izo Goldman)
O aplauso é a mais justa loa
que a um artista se concebe:
tão pouco, para quem doa;
tão bom, para quem recebe!
(José Ouverney)
“Não gosto de férias. Devo dizer que não sinto necessidade delas, já que não trabalho com as mãos. Nem mesmo sei o que é tirar férias. Parece que é descansar, mudar de ritmo e de hábitos. Não tenho vontade disso. Meu ritmo é o que é. Lento e sem surpresas. Maus hábitos estão mais para manias, e tenho medo de perdê-los se, como todo mundo, sair de férias no mês de agosto. Meus hábitos me suportam e me ajudam a me suportar. Eles são simples e eu só peço uma coisa: que não os perturbem, que me deixem com eles do jeito como são.
Todos os que partem pelas estradas ao mesmo dia e na mesma hora têm também suas manias: ser como todo mundo, agir como os outros, não perder nada da empolgação coletiva, um modo de se tranquilizarem, de garantir que não vão morrer sozinhos ou idiotas. Não é o meu caso. Morrer idiota ou inteligente tanto faz!
Não gosto de férias porque não gosto de viajar. Correr para uma estação carregando uma mala pesada numa das mãos, uma bolsa na outra, as passagens entre os dentes, fazer fila num aeroporto para despachar a bagagem, suportar o nervosismo dos veranistas que têm medo de avião ou que se sentem obrigados a levar consigo a avó, que está perdendo a memória e adoraria ficar em casa com suas pequenas manias, ser acotovelado por um grupo de desportistas descuidados, partir atrasado, chegar exausto numa hora impossível, procurar um táxi… tudo isso eu deixo para vocês e prefiro me recolher num canto da casa, para escutar o silêncio e sonhar com os amores cruéis…”
Em: O primeiro amor é sempre o último — contos, Tahar Ben Jelloum, tradução de Joana Angélica d’Ávila Melo, Rio de Janeiro, Editora Vieira Lent: 2002, pp 60-1
Você conhece a origem do nome Hergé? O criador de Tintin, popular e imbatível herói de quadrinhos belga, usou, por extenso e invertidas as primeiras letras de seu nome,escritas: Georges Rémi. [ERRE + GE].
Tintin ia viajar, ilustração de Hergé. (O trem para Nyon?… Muito tarde, Senhores: lá vai ele, agora mesmo.)
Quem vai sem fé… sem coragem,
no embarque do trem da vida,
decreta o fim da viagem
antes mesmo da partida!
(José Almir Loures)
Ilustração de Hergé.
A maleta da Sra. Sinclair é uma história contada em dois tempos: nos dias de hoje, com foco em Roberta Pietrykowski, mulher que trabalha por onze anos na livraria e sebo Old & New, e Dorothy Sinclair, sua avó, que, morando nas proximidades de Lincolnshire, Inglaterra, viveu um romance fora do casamento com o piloto de guerra polonês Jan Pietrykowski. Enquanto descobrimos as razões que levaram Dorothy a se apaixonar pelo piloto de guerra, descortinamos seu passado infeliz desde a infância, casamento e abandono pelo marido; também vamos aos poucos descobrindo a vida sem alegrias de Roberta que carrega uma paixão encruada por Philip, proprietário da livraria, sem qualquer possibilidade de reciprocidade. Roberta se submetendo, por falta de melhores perspectivas, a um “affair” com homem casado, e simultaneamente trabalha para entender o segredo da vida de sua avó, cujas mentiras sobre a família, Roberta acabara de descobrir.
Apesar do roteiro melodramático, não há proximidade emocional suficiente do leitor com qualquer personagem para que a leitura chegue a germinar sentimentos mais fortes. Nenhuma das duas mulheres, Roberta ou Dorothy, é retratada com vigor e dimensão; profundidade de caráter passa ao largo. Nenhuma tem perspectiva de melhorar a vida que leva. São quase vítimas e não são heroínas. Cada qual tem uma única preocupação ou desejo: Roberta persegue a história da família e deambula pelo cotidiano sem horizonte ou esperança. Dorothy, submissa, aceita as consequências de uma escolha errada no casamento e a única coisa que deseja, a ponto de obsessão, é ser mãe. Falta a ambas maior complexidade. E um foco que supere as vidas amorosas frustradas.
O foco na vida de mulheres durante a Segunda Guerra Mundial é muito bem-vindo. Este é um assunto ainda por explorar na literatura. Foi um período de grandes mudanças no papel da mulher. De repente com homens na linha do fronte aos milhares, espaço se abriu para um papel mais dinâmico, profissional e essencial das mulheres na sobrevivência dos países envolvidos. Mulheres tornaram-se bombeiros, eletricistas, enfermeiras, mecânicas. Foram em massa ao trabalho nas fábricas do mundo todo. Dorothy, no entanto, não se junta a essa grupo de mulheres da guerra. Ao contrário, ela se encolhe incapaz de ultrapassar os limites impostos pelos bisbilhoteiros do vilarejo que a cerca. Tal avó, tal neta. Nos anos 2000, Roberta também se auto destrói num romance sem futuro com um homem vinte e dois anos mais velho, cujo ponto culminante é um ato de ciúmes da esposa traída, à maneira do século XIX. Ou seja, ambas as personagens parecem ter comportamentos incongruentes com a época em que vivem.
Louise Walters é dona de um estilo narrativo claro, leve que não se perde em figuras de linguagem ou outros preciosismos. Conseguiu que eu levasse a leitura até o fim, um feito que muitos livros não atingem. E a trama interessante sugere ao leitor ponderações sobre as diferenças de comportamento entre os que viviam nos anos 30 do século passado e setenta anos mais tarde, na primeira década deste século. O que faltou ao romance foi um bom editor. Um editor à moda antiga, que questionasse a autora sobre a necessidade de alguns personagens ou até mesmo de algumas reviravoltas na trama. Menos é mais, com frequência; porque nos dá a chance de aprofundar a caracterização de época, de ambiente ou de personagem, enquanto uma linguagem um pouco mais variada traria, sem negligenciar a clareza, um vigor penetrante ao texto.
Louise Walters
Desde O nome da rosa, de Umberto Eco em 1980, A sombra do vento de Carlos Luiz Zafón (2001), da série de Harry Potter, anos 2000; e de filmes como Mensagem para você (1998), Um lugar chamado Notting Hill (1999), e dezenas de outras obras, que livrarias e bibliotecas têm sido ambiente ou até mesmo personagem de histórias populares escritas ou filmadas. Digamos que é fruto do Zeitgeist (‘Espírito da época’). Gente que lê e que escreve em geral tem simpatia por bibliotecas ou livrarias. Mas, justamente porque é uma assunto corrente, me pareceu um excesso da trama ter Roberta Pietrykowski trabalhando numa livraria. Com poucas modificações, ela poderia trabalhar num açougue ou numa agência de banco. A mim, me pareceram nulas as conexões dos livros citados por ela e variações na trama. Teria sido apenas um atrativo para o leitor que se delicia com referências a autores ou listas de obras interessantes?
Aqui estão alguns dos livros citados: Jane Eyre de Charlotte Bronte, Madame Bovary de Gustave Flaubert, A morte do coração de Elizabeth Bowen, Narciso Negro de Rumer Godden – O deus das pequenas coisas, de Arundhati Roy, A Bouquet of Barbed Wire, Andrea Newman, Os homens são de marte e as mulheres de Vênus, de John Grey, Circle of Friends de Maeve Binchy. E um livro de Agatha Christie que agora me foge o nome.
A maleta da Sra. Sinclair é um livro leve, de leitura fácil que satisfará quem procura por passatempo de fim de semana e que não espera de suas leituras mais do que o texto lhes dá. Entretenimento.
Ilustração por Hergé.
J. G. Araújo Jorge
Hoje
quando na minha rua de arranha-céus
passou um realejo trauteando a “viúva alegre”
as crianças correram alvoroçadas
para ver…
No meu tempo
era o avião.
Em: A outra face, J. G. de Araújo Jorge, Rio de Janeiro, Vecchi:1958, 2ª edição, p. 175.
Tintin observa o resultado dos pneus furados, ilustração de Hergé.
Todo “barbeiro” sustenta
que a batida foi assim:
– Veio um poste a mais de oitenta,
na contra-mão, contra mim!…
(Izo Goldman)
Tintin e Milou estão na Lua, ilustração Hergé.
Se o homem conquista o espaço,
por que é que, lutando a esmo,
é incapaz de dar um passo
para dentro de si mesmo?!…
(Izo Goldman)