Vila de Casas em Porto Seguro – BA,1978
Sérgio Telles (Brasil, 1936- 2022)
óleo sobre tela, 54 X 73 cm
Porto Seguro em homenagem ao dia 22 de abril, data do Descobrimento do Brasil.
Vila de Casas em Porto Seguro – BA,1978
Sérgio Telles (Brasil, 1936- 2022)
óleo sobre tela, 54 X 73 cm
Porto Seguro em homenagem ao dia 22 de abril, data do Descobrimento do Brasil.
Ilustração Elifas Andreato.
“Terra à vista!” – Um grito intenso
soou nos céus, como um cântico,
e o Brasil surgiu, imenso,
num parto às margens do Atlântico!
(José Ouverney)
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Pedro Álvares Cabral
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Às vezes tenho a impressão de que há um sentimento de “traição”, de “me ensinaram errado” quando falamos sobre o descobrimento do Brasil pela coroa portuguesa, como se tivéssemos sido logrados, enganados por séculos e séculos, sobre a nossa história. Esquecemos que os próprios portugueses não sabiam detalhes dessa grande aventura marítima que foi a viagem de Cabral e que na época poderia muito bem não interessar ao governo luso a divulgação de todo o conhecimento que tinha sobre mares e terras estrangeiras. Conheço alguns que por causa disso não querem celebrar o 22 de abril. Não me associo aos que assim pensam. Se fomos descobertos por acaso ou se a visita de Cabral foi intencional a data continua a mesma; se a costa brasileira foi visitada por outros navegantes, que não deixaram muitas pegadas, a importância da data continua a mesma. Para todos os efeitos foi só a partir de 22 de abril de 1500 que essas terras foram incorporadas ao império lusitano, foram exploradas regularmente e aos poucos a cultura portuguesa por aqui se estabeleceu dominante, mesmo sob constantes ameaças francesas, espanholas e holandesas. O descobrimento do Brasil é uma data importante para nós e para os portugueses.
Ressalto abaixo dois parágrafos do excelente historiador Eduardo Bueno que clarifica e simplifica essa questão.
“Por outro lado, o certo é que a expedição de Cabral foi, de fato, precedida pela de dois navegadores espanhóis. Embora nos anos 50 essa discussão tenha se revestido de um rancoroso “nacionalismo retroativo” – contrapondo historiadores lusos e espanhóis –, o fato é que tanto Vicente Yañez Pinzón quanto Diego de Lepe navegaram por costas brasileiras entre janeiro e março de 1500. Pinzón, capitão da Niña e companheiro de Colombo na descoberta da América em 1492, chegou à Ponta de Mucuripe (no Ceará) em fevereiro de 1500 e costeou o litoral até a foz do Amazonas (do qual foi o descobridor). Lá, encontrou-se com a expedição de Diego de Lepe, que avançaria até o Oiapoque, onde chegou em março.
Ainda assim, apesar de o tema ser ainda hoje tão polêmico, o próprio Capistrano de Abreu (que admitia a precedência de Pinzón e Lepe sobre Cabral) sepultou a questão já em 1900 ao afirmar-se que as consequências práticas dessas viagens espanholas foram irrelevantes e que o “descobrimento sociológico” do Brasil evidentemente coube aos portugueses. A tese de Capistrano também pode ser usada para encerrar a discussão sobre os supostos precursores lusos de Cabral: se alguma expedição portuguesa de fato chegou ao Brasil antes da de Cabral, seu significado histórico foi praticamente nulo. O país só seria integrado ao império ultramarino lusitano após o desembarque de Cabral – e, ainda assim, muito lentamente, como se sabe. De todo modo, o descobrimento do Brasil continua sendo um capítulo aberto na história da expansão ultramarina portuguesa – e isso só aumenta o seu fascínio.”
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Em: A viagem do descobrimento — a verdadeira história da expedição de Cabral, Eduardo Bueno, Rio de Janeiro, Objetiva: 1998.
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[http://memoriadosdescobrimentosnaceramica.blogspot.com.br]
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“Em junho de 1499, logo que Vasco da Gama chegou a Lisboa com a notícia longamente aguardada de que a Índia podia ser alcançada por mar, o rei de Portugal, D. Manoel, tratou de organizar o envio de uma nova expedição para o fabuloso reino das especiarias. Em sua jornada de ida, essa expedição poderia explorar também a margem ocidental do Atlântico, cuja posse Portugal assegurara desde o Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494.
Assim, em 9 de março de 1500, oito meses depois do retorno de Gama a Portugal – e enquanto Vicente Pinzón e Diego de Lepe já navegavam pelos limites setentrionais da América do Sul –, uma frota imponente, formada por dez naus e três caravelas, zarpou de Lisboa, com 1500 homens a bordo. Sob o comando de Pedro Álvares Cabral, essa armada fora incumbida da missão de instalar uma missão em Calicute, na costa ocidental da Índia. Lá deveria obter – pela diplomacia ou pelas armas – o monopólio do comércio de pimenta e canela, que, até então, se mantinha nas mãos de mercadores árabes. Esse era o objetivo primordial da missão comandada por Cabral.
Mas, antes de partir, Cabral manteve vários encontros com Vasco da Gama. O descobridor da Índia redigiu instruções náuticas detalhadas para o futuro descobridor do Brasil. Esse documento – que Cabral levou consigo a bordo – sobreviveu aos séculos e está preservado na Torre do Tombo, em Lisboa. Seguindo tais indicações a frota de Cabral zarpou de Lisboa em direção à Índia.
Depois de 44 dias de viagem, no entardecer de 22 de abril de 1500 – quando a frota, por motivo nunca compreendido plenamente, se encontrava muito mais a oeste do que o necessário para contornar o Cabo da Boa Esperança (a última ponta da África) –, Cabral e seus homens vislumbraram um morro alto e redondo, que batizaram de Monte Pascoal. Esse morro ficava no sul da Bahia. Foi a descoberta oficial do Brasil pelos portugueses.”
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Em: Náufragos, Traficantes e Degredados: as primeiras expedições ao Brasil, 1500- 1531, de Eduardo Bueno, Rio de Janeiro, Objetiva: 1998.
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(a Pedro Álavares Cabral)
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Cabral,
Navegador,
Bom soldado,
Cristão,
Leal,
Chefe ideal
Da esquadra de Portugal.
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Partiram as treze naus,
Semanas e semanas no oceano,
Com medo de dragões,
Serpentes aladas
Que brotavam dos sonhos maus.
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As caravelas ligeiras
Singravam os mares,
Uma sumira;
De repente, algas marinhas,
Aves nos ares,
De terra à vista,
O sinal.
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Em: Casa e Castelo, Raquel Naveira, São Paulo, Escrituras: 2002, [Poemas dos livros Casa de Tecla e Senhora].
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Cabral olhando o infinito,
Viu um cruzeiro de luz
E chamou a nossa Terra
de Ilha de Santa Cruz.
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(Walter Nieble de Freitas)
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Desconheço a autoria dessa ilustração.–
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Cassiano Ricardo
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E começa a longa história
do navio que ia e vinha
pela estrada azul do Atlântico:
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Ia, levando pau-brasil
e homens cor da manhã, filhos do mato,
cheios de sol e de inocência;
vinha trazendo delegados…
–
Ia, levando uma esperança;
vinha trazendo foragidos de outras pátrias
para a ilha da Bem-aventurança.
–
Ia levando um grito de surpresa;
————- da terra criança;
e vinha abarrotado de saudade
————–portuguesa…
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Em: Martim Cererê de Cassiano Ricardo, Rio de Janeiro, José Olympio: 1974
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Cassiano Ricardo Leite (São José dos Campos, 26 de julho de 1895 — Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 1974) foi um jornalista, poeta e ensaísta brasileiro.
Obras:
Dentro da noite, poesia, 1915
A flauta de Pã, poesia, 1917
Jardim das Hespérides, poesia, 1920
Atalanta, poesia, 1923
A mentirosa de olhos verdes, poesia, 1924
Borrões de verde e amarelo, poesia, 1925
Vamos caçar papagaios, 1926
Martim Cererê, poesia, 1928
Canções da minha ternura, poesia, 1930
Deixa estar, jacaré, poesia, 1931
O Brasil no original, crítica, teoria e história literárias, 1937
O Negro na Bandeira, crítica, teoria e história literárias, 1938
Pedro Luís: visto pelos modernos, crítica, teoria e história literárias, 1939
Academia e a poesia moderna, crítica, teoria e história literárias, 1939
Marcha para Oeste, crítica, teoria e história literárias, 1942
O sangue das horas, poesia, 1943
Paulo Setúbal, o poeta, crítica, teoria e história literárias, 1943
A academia e a língua brasileira, crítica, teoria e história literárias, 1943
Um dia depois do outro (1944-1946), poesia 1947
Poemas murais, 1947-1948, poesia, 1950
A face perdida, poesia, 1950
Vinte e cinco sonetos, poesia, 1952
Poesia na técnica do romance, crítica, teoria e história literárias, 1953
O Tratado de Petrópolis, crítica, teoria e história literárias, 1954
Meu caminho até ontem, poesia, 1955
O arranha-céu de vidro, poesia, 1956
João Torto e a fábula : 1951-1953, poesia 1956
Pequeno Ensaio de Bandeirologia, crítica, teoria e história literárias, 1956
Poesias completas, poesias, 1957
Poesia, poesia, 1959
Martins Fontes, 1959
Homem Cordial, crítica, teoria e história literárias, 1959
Montanha russa, poesia, 1960
A difícil manhã, poesia, 1960
O Indianismo de Gonçalves Dias, 1964
A floresta e a agricultura, crítica, teoria e história literárias, 1964
Algumas Reflexôes Sobre Poética de Vanguarda, 1964
Poesia praxis e 22, crítica, teoria e história literárias, 1966
Jeremias sem-chorar (1964)
Viagem no tempo e no espaço (Memórias) poesia, 1970
Serenata sintética, poesia XX
Sobreviventes, mais um poema Circunstancial , poesia, 1971
Seleta em Prosa e Verso, miscelânea, 1972
Sabiá e sintaxe, crítica, teoria e história literárias, 1974
Invenção de Orfeu (e outros pequenos estudos sobre poesia), poesia, 1974

Descobrimento do Brasil, 1956
Cândido Portinari (Brasil, 1903-1962)
Óleo sobre tela, 199 x 169 cm
Banco Central do Brasil,
Distrito Federal
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.
Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha a El Rei D. Manuel I