Curiosidade literária

11 12 2023

A jovem e o cão

Pedro Lira (Chile,1845-1912)

óleo sobre tela

 

 

 

Nadar ou escrever?  Houve um momento em que o escritor brasileiro Fernando Sabino (1923-2004) considerou esta escolha.  Foi campeão de nado sul-americano, aos dezesseis anos, em 1939, nado de costas, tendo treinado no Minas Tênis Clube em Belo Horizonte.  As forças da natação e da escrita lutavam pela atenção de Sabino simultaneamente, também em 1939, ficou em segundo lugar na Maratona Nacional de Português e Gramática Histórica, empatando com Hélio Pellegrino (1924-1988).  Mas sua adolescência já formava o escritor que conhecemos, pois começou a publicar seus contos aos doze anos, a primeira publicação na revista Argus, publicação da polícia, onde cabia perfeitamente o conto policial que escreveu. E seu primeiro livro de contos, Os grilos não cantam mais (1941) que foi publicado Rio de Janeiro teve a contribuição de alguns contos escritos quando Sabino tinha quatorze anos.  Ainda bem que escolheu a escrita!

 

 

 





Curiosidade literária

4 12 2023

O prazer da leitura, 2020

Helene Beland (Canadá, 1949)

óleo sobre tela, 35x 45 cm

 

 

 

O escritor francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um inveterado fumante.  Fumava dois maços de cigarros e ainda diversos cachimbos de tabaco por dia.  Até mesmo para um país como a França, em que fumar naquele período de meados do século XX era considerado uma coisa normal, essa quantidade era muito maior do que a média dos fumantes do país.  Portanto, quando a Biblioteca Nacional Francesa produziu um cartaz comemorativo dos 100 anos do nascimento de Sartre, os responsáveis pelo projeto se viram forçados a manipular a fotografia escolhida para apagar da foto o cigarro na mão de Sartre.  Os costumes haviam mudado e para se adequarem aos novos tempos, em que leis proibindo a propaganda de tabaco haviam sido aprovadas na sociedade francesa, esse subterfúgio foi necessário.  Não havia fotos em consideração em que o cigarro não estivesse presente.

 

 

 

 





Curiosidade literária

13 11 2023

O desenho, 1879

David Oyens (Holanda, 1842-1902)

óleo sobre tela, 71 x 54 cm

 

 

Louisa May Alcott, a celebrada autora de Mulherzinhas (1868) morou em Concord, Massachusetts, mesma cidade em que  Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau eram residentes.  Louisa os conheceu.  Com Thoreau, o naturalista, teve os primeiros ensinamentos sobre a natureza, com poéticas descrições dos insetos aos cantos de pássaros.  Thoreau foi o primeiro amor de Louisa quando ainda criança. 

Já Emerson foi para Louisa, uma paixão adolescente.  Ela recebeu de presente do filósofo americano o livro Correspondência com uma Criança, de Goethe, coletânea de cartas escritas entre 1807-1808, para Bettina Brentano, quando esta tinha doze anos de idade e Goethe, sessenta.  É possível que Emerson estivesse mandando uma mensagem para Louisa, talvez ciente da paixonite de sua discípula por ele.  No entanto, isso não foi suficiente para deter Alcott que passou horas intermináveis escrevendo cartas apaixonadas para Emerson. No entanto, ela nunca as enviou.

 





Curiosidade literária

16 10 2023
Menino brincando com soldadinhos, 1930

 

 

Em 1895, H. G. Wells escreveu diversos contos e novelas hoje vistos como os parâmetros da ficção científica. Essas obras não foram bem recebidas pela crítica.  Mas, de que entendem os críticos, não é mesmo?  Aos poucos suas criações foram adquirindo leitores e mais leitores principalmente pela precisão de algumas das previsões sobre o futuro da humanidade. Ele previu a invenção do ar condicionado, da televisão, da gravação de vídeos, do uso de caminhões de muitas rodas, do aparecimento do avião e também do uso de aviões nas guerras.  E, surpreendentemente, H. G Wells previu o início da Segunda Guerra Mundial, assim como a revolução sexual, na segunda metade do século XX.

H. G. Wells se tornou muito popular pela novela Guerra dos Mundos, publicada em 1898 e transmitida pela rádio CBS dos EUA, com a potente voz do ator Orson Welles.  Essa narrativa levou pânico a milhares de americanos em 30 de outubro de 1938, pois não se deram conta de estarem ouvindo uma obra de ficção e acreditaram na invasão de marcianos acontecendo naquele momento em que ouviam a rádio.

Mas Herbert George Wells acabou sendo um pacifista lembrado por guerras, foi imortalizado também como o autor das regras dos jogos de guerra de soldados de brinquedo.  Ele publicou dois livros um pouco antes da Primeira Guerra Mundial que abordava jogos de guerra entre soldadinhos de brinquedo.   Little Wars publicado em 1913 se tornou o primeiro livro de regras para este jogo de mesa.  Por essas contribuições à recreação dos jogos com participação de batalhões de soldados de brinquedo, H. G. Wells é reconhecido hoje como “o pai dos jogos de guerra em miniatura”.

 

 

 

 

 





Curiosidade literária

9 10 2023

A leitura, c. 1760

Pierre Antoine Baudouin (França, 1723-1769)

guache sobre papel

Museu de Artes Decorativas, Paris

 

 

 

Em sua noite de núpcias, Tolstoy, aos trinta e quatro anos, forçou sua noiva de dezoito anos, a ler seu diário com detalhadas descrições de suas aventuras sexuais com outras mulheres, inclusive com mulheres serviçais. Aparentemente essa era sua ideia de abertura e honestidade, mas foi informação demais, de acordo com Sonya.  No dia seguinte, ela escreveu em seu diário sobre o nojo que sentiu ao ser submetida a tanta imundície.

 

Tradução: Ladyce West

 

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On their wedding night, thirty-four-year-old Tolstoy forced his eighteen-year-old bride to read his diary accounts detailing his sexual escapades with other women, including female serfs. Apparently, that was his idea of openness and honesty, but it was “T.M.I.” as far as Sonya was concerned. The next day, she wrote in her diary of the disgust she felt at being subjected to such “filth.”

 


Secret Lives of Great Authors: What Your Teachers Never Told You about Famous Novelists, Poets, and Playwrights, Robert Schnakenberg, Quirk Books: 2008

 

 

 





Curiosidade literária

2 10 2023
Página de Frontispício de Milton, Um Poema, por William Blake, c. 1818

 

 

Pena que a maioria dos poetas ou escritores não conheçam a influência de seu legado.  John Milton (1608-1674), poeta, intelectual inglês, estaria satisfeito em saber que suas ideias serviriam de fundamento para nossa vida diária, hoje, no século XXI.  Milton é mais conhecido por seu poema em verso livre Paraíso Perdido. Mas foram suas ideias publicadas, no auge da Guerra Civil na Inglaterra, em Areopagítica, 1644, que fazem parte do nosso dia a dia.   Areopagítica, um discurso a favor da liberdade de expressão, foi a pedra fundamental para a primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos, escrita em 1787 e em uso desde 1789 que garante a liberdade de expressão, hoje considerada um direito essencial nos países livres de governos autoritários.





Curiosidade literária

21 09 2023

Autorretrato com bandagem, 1889

Vincent van Gogh (Holanda, 1863-1890)

óleo sobre tela, 60 x 50 cm

Courtauld Institute of Art, Londres

 

 

 

O escritor americano William Burroughs (1914-1997) amputou a falange de seu dedo mínimo da mão esquerda propositalmente.  Havia se apaixonado por Jack Anderson, homem que conhecera em 1939 e pensou em oferecer esta parte de si mesmo como prova de amor, depois que Anderson acabou com o relacionamento.  Em seguida, Burroughs mandou foto da falange amputada para Arnold Gingrich da revista Esquire para publicação.  Gingrich imediatamente respondeu com uma nota: “Meus cumprimentos pelo início de uma maravilhosa carreira, quando recebo o resto do cadáver?”  [“I greet you at the beginnings of a wonderful career, when do I get the corpse?”]. 

Esse incidente demonstrou para seus pais que a saúde emocional de Burroughs não estava bem. Eles então o internaram em uma instituição mental por meses. Dois anos depois, quando William Burroughs foi convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial, seu pai apresentou documentação da automutilação, com o laudo psiquiátrico para as forças armadas que decidiram não o forçar ao serviço militar.  Mais tarde, a amputação serviu de tema para o conto O Dedo, que William Burroughs publicou.

 





Curiosidade literária

12 09 2023

Mulher lendo à mesa

Toine Corstjens (Holanda, 1920-2015)

técnica mista sobre tela

 

 

 

Henry David Thoreau, autor de Walden, foi praticamente mantido financeiramente, por toda vida, por amigos e em particular por Ralph Waldo Emerson.  Thoreau foi segurança dos filhos e da esposa de Emerson.  Além disso foi um faz-tudo em Concord, Massachusetts, onde era líder de entretenimento para as crianças locais, levando-as a passeios na floresta onde as ensinava sobre plantas, flores e o canto dos pássaros.  Nos dias de maior desespero financeiro, Thoreau voltava a trabalhar na fábrica de lápis de seu pai.





Curiosidade literária

4 09 2023

Muitas mulheres encontraram barreiras para publicar livros.  Por causa disto muitas delas adotaram pseudônimos masculinos, ou nomes não identificáveis como femininos quando impressos.  Aqui vai a lista de 10 mulheres que usaram pseudônimos em seus livros e ficaram famosas:

 

1 – Amantine Lucile Aurore Dupin, (França, 1804-1876), pseudônimo George Sand

2 – Mary Ann Evans (Inglaterra, 1819-1880), pseudônimo George Eliot

3  – Louisa May Alcott, (EUA, 1832- 1888) pseudônimo A.M. Barnard

4 –  Violet Paget (França, 1856-1935),  pseudônimo  Vernon Lee

5 – Karen Blixen  (Dinamarca, 1885-1962), pseudônimo Isak Dinesen

6 – June Tarpé Mills (EUA, 1912-1988), pseudônimo Tarpé Mills

7 – Alice Bradley Sheldon (EUA, 1915-1987), pseudônimo James Tiptree, Jr.

8 – Joanne Rowling (Inglaterra, 1965), pseudônimos: J.K.Rowling e Robert Galbraith

9 – Christina Lynch e Meg Howrey (EUA, contemporâneas), pseudônimo Magnus Flyte

10 – Robyn Thurman (EUA, contemporânea), pseudônimo Rob Thurman

 





Curiosidade Literária

14 08 2023
Esperando o trem, ilustração de Thornton Utz, 1955.

 

Ernst Hemingway se transformou ao longo dos anos em ícone da masculinidade.  Desde criança dizia “não ter medo de nada”,  Mais tarde, jovem, fez de tudo para ir à guerra, quando se feriu gravemente.  Bebia muito, praticava o boxe e se dedicava à pescaria.  Acreditava que era necessário sempre manter boa compostura quando encarava o medo.  É surpreendente saber, no entanto, que quando pequeno, sua excêntrica mãe, que muito desejara uma gêmea para a filha mais velha Marceline, o vestia com roupinhas de menina, dando-lhe cortes de cabelo de menina e apresentava Ernst aos vizinhos, como sua filha Ernestina.

 

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Duas fontes:

Secret Lives of Great Authors: What Your Teachers Never Told You about Famous Novelists, Poets, and Playwrights, de Robert Schnakenberg, Kindle Edition, 2008

“Hemingway and Masculinity”, Mark M. Dudley e Suzanne del Guizzo, na Hemingway Review