Da minha mesa de trabalho

26 08 2025
Na foto:
Montesquieu, Cartas Persas (leitura vagarosa, aparecerá muitas vezes por aqui)
Flávio Moreira da Costa, ed. Os melhores contos de Cães e Gatos
Han Kang, O livro branco
Simenon, Maigret e o finado Sr. Gallet

 

 

Não moro na parte mais antiga de Copacabana.  Aquela dos anos trinta, tão bonita, tão cheia de prédios Art Deco, pelos quais o bairro ficou  mundialmente conhecido.  Lugar sofisticado, repleto de belas mulheres, vida noturna nas casas de show à moda Carmen Miranda, eternizadas em filmes dos anos 30, com Flying down to Rio.  Quando vim dos EUA para cá, realmente morei num prédio construído em 1930, exatamente, à beira da praia.  Foi quase uma década por lá podendo ver do Leme ao Posto Seis da varanda lá de casa. Meu marido como bom estrangeiro estava fascinado com o Rio de Janeiro, a praia, Copacabana, e todo resto romântico que se atribui ao local.

Saímos de lá, para morar na Gávea, mais sossegado, e de maior valor emocional para mim: cresci no bairro, para onde meus pais se mudaram quando eu tinha seis anos. Gosto da Gávea. Nas grandes cidades parece que sempre vemos o mundo pela perspectiva de onde se cresceu. Por praticidade, para estar mais perto de comércio, médicos, e outros centros de apoio, depois de alguns anos, acabamos voltando para a Princesinha do Mar.  Dessa vez, numa região diferente, numa ponta de terra que avança pelo mar,  a menos de 500 metros de três praias: Copacabana, Ipanema e Arpoador; a duas quadras do edifício onde Carlos Drummond de Andrade morava.  Décadas atrás, chamavam esse canto da cidade de Posto Seis.  Hoje parece haver preferência para chamá-lo de Copanema: nem Copacabana, nem Ipanema.  Essa área onde me encontro, teve a maioria de seus edifícios construída na década de 60 do século passado.  Na verdade, o edifício onde moro, começou a ser construído em 1959. 

 

 

 

 

Há vantagens e desvantagens em se morar num prédio como esse.  Não temos salão de festas, nem garagem para todos os apartamentos; não temos playground, nem temos jardim. Por aqui, um prédio é colado no outro.  Em compensação, as construções mais antigas têm pé direito mais alto, trazendo leveza aos cômodos que são generosos comparados aos construídos hoje. A construção antiga aos meus olhos parece mais sólida, e se você reformou o seu canto, e tem as tomadas elétricas necessárias para o cotidiano contemporâneo, é possível que a vida seja bastante confortável.  Há, portanto, vantagens e desvantagens nesse ambiente.  Meu canto parece apropriado para minha vida, hoje.  Nem muito grande, nem muito pequeno, tenho porteiros 24 horas por dia, poucos vizinhos.  É um lugar seguro e quieto. Com exceção do papagaio que mora no mesmo andar que eu, mas no prédio vizinho. Se morasse no mesmo prédio seria meu vizinho de parede e  meia.  Muito barulhento.  Muito. E deve ser grande. Quando por acaso a janela de meu quarto está aberta, de manhã cedo, digamos às 5 horas da manhã, consigo acordar só com o bater de suas asas, dentro da gaiola.  Por essa eu não esperava quando me mudei para cá.  Depois descobri que deveria me acostumar, porque papagaios são longevos!

Meu vizinho de cima morreu vendo um jogo do Flamengo. Morreu feliz, comemorando um gol, em um bar próximo onde se encontrava com amigos para acompanhar as vicissitudes do time.  Ataque cardíaco. Sua viúva, depois de algum tempo, se mudou e colocou o apartamento à venda.  Não conheci nenhum deles.  Mais ou menos um mês atrás, soube que o apartamento havia sido vendido.  O arquiteto responsável pela reforma, gentilmente me contatou para saber se havia algum problema de infiltração, porque obras de reforma iriam começar. Como não havia nada, ele simplesmente me avisou, que eu teria que conviver com muito barulho por algumas semanas. Derrubariam paredes, construiriam outras, haveria reforma dos banheiros, da cozinha e todo o chão do apartamento seria mudado.  Ele me garantiu, e manteve sua palavra, que começariam às nove da manhã e finalizariam às 16 horas todos os dias.  Concordei. Nessas circunstâncias, não há nada que se possa fazer. 

Só não contava com uma coisa: há um pouco mais de quatro semanas sou vítima de uma gigantesca alergia.  Pensei, inicialmente, ser gripe.  Afinal, o tempo no Rio de Janeiro anda muito esquisito.  Pessoas parecem gripar a qualquer hora.  Mas quando há uns dias acordei com os olhos vermelhos e inchados de tal maneira que quase não conseguia abri-los e com uma vermelhidão tão acentuada que parecia ter uma máscara, corri ao médico, apavorada. Alergia, provavelmente à poeira do apartamento de cima.  Medicada, ainda padeço. Hoje é o primeiro dia de muitos que posso olhar para a tela de meu computador sem chorar, chorar, chorar. A luminosidade intensa me derrubava. Os remédios, fortes, me deixam um pouco dispersa. Enfim. Fiz um plano para me mudar para um hotel no bairro pelos próximos dias até essa fase das obras acabarem.  Mas uma conversa com o mestre de obras fez com que eu mudasse de ideia.  Amanhã acabam com a destruição.  Devo, no entanto, manter o plano do hotel, para quando estiverem lixando as paredes para o acabamento final. 

Nem sempre é fácil morar em sociedade.  

 

 

Estou de volta, pessoal!

 

©Ladyce West, agosto de 2025





Vento do mar e o sol no meu rosto a queimar…

7 02 2025

Copacabana, 2009

Pedro Guedes (Brasil, 1960)

óleo sobre lona colada em madeira, 13 x 50 cm





Rio de sol, de céu, de mar…

1 11 2024

Paisagem de Copacabana e Morro do Cantagalo

Eliseu Visconti (Itália-Brasil, 1866-1944)

óleo sobre tela, 26 x 41 cm





Rio de Janeiro: entre mar e montanhas

14 04 2023

Rua Pompêo Loureiro, Copacabana, 1964

Aldo Bonadei (Brasil, 1906-1974)

óleo sobre tela, 76 x 61 cm

 





Rio de Janeiro: entre mar e montanhas

10 02 2023

Praia de Copacabana

Cadmo Fausto (Brasil, 1901-1983)

óleo sobre tela, 46 x 74 cm





Rio de Janeiro, uma joia tropical

28 05 2021

Canoa na Praia do Posto 6 em Copacabana, 1930

Virgílio Lopes Rodrigues (Brasil, 1863-1944) 

óleo sobre madeira





Rio de Janeiro, um parque à beira-mar

24 01 2020

 

 

 

ANGELO CANNONE - Paisagem do Rio de Janeiro - óleo sobre eucatex - ass. inf. dir. - 20 x 30 cm.Paisagem do Rio de Janeiro, Praia de Copacabana vista da Pedra do Leme

Angelo Canonne (Itália/Brasil, 1899 – 1992)

óleo sobre eucatex, 20 x 30 cm.





Rio de Janeiro, à beira da Guanabara!

27 12 2019

 

 

BENIGNO - Praia de Copacabana, 1992,ost16 x 22 cmPraia de Copacabana, 1992

José Benigno (Brasil, 1955)

óleo sobre tela, 16 x 22 cm





Rio de Janeiro, minha cidade natal!

6 04 2018

 

 

 

Antônio Garcia Bento (1897-1929). Paisagem do Rio de Janeiro, visto do Posto SEIS . Óleo sobre tela colado em papelão. Assinado e datado cid. 1929. 27 x 34,5 cmPaisagem do Rio de Janeiro, visto do Posto Seis, 1929

Antônio Garcia Bento (Brasil, 1897-1929)

Óleo sobre tela colado em papelão, 27 x 34 cm





Escrevendo resenhas

20 03 2018

 

 

 

escrevendo, perfil

 

 

Muitas vezes me perguntam a razão de escrever resenhas de livros.  É minha maneira de colocar um ponto final na leitura.  Não tenho treinamento em literatura, em história da literatura, apesar de ter inicialmente começado meus estudos universitários na Universidade Federal Fluminense em francês.  Mas logo saí para a história da arte.

Nessa época, eu já estava familiarizada com muitas obras da literatura francesa, por ter frequentado desde os onze anos de idade a Alliance Française. O método de ensino da Aliança sempre utilizou textos da literatura para ilustrar a cultura e a língua.  Além disso, tive muita sorte de ter usufruído, quando ainda estava com meus quinze, dezesseis, dezessete anos,  das aulas de Monsieur Cox, na Aliança de Copacabana, à rua Duvivier, em que ouvíamos as gravações de peças de Molière, Racine e outros dramaturgos clássicos franceses, feitas pela Comédie-Française. Acompanhávamos as vozes dos atores lendo os textos e parando de vez em quando para as explicações de M. Cox, em francês, é claro, linha por linha, colocando em contexto de época, social e cultural aquilo que ouvíamos, o que se passava no palco.  Era só som.  Nada mais.  Nenhum filme ou vídeo.  Uma das melhores maneiras de se treinar o ouvido, e certamente um dos mais interessantes cursos de francês e de literatura que já tive.  Talvez seja por isso que tenho muito carinho pela cultura francesa e que não deixo de assistir ao programa La Grande Librairie, na TV5, com François Busnell, que todos podem acessar pela internet também e ganhar conhecimento testemunhando as maravilhosas conversas de Busnell com escritores da atualidade franceses ou não.  Mas essa é uma grande digressão.

Escrevo resenhas em parte para resolver para mim mesma as razões de ter “gostado” ou não de um romance.  Em geral só escrevo sobre aqueles livros que são bons, muito bons, ou espetaculares.   Livros de que não gosto, em geral deixo passar.  A não ser que o não gostar tenha chegado a um nível de desgosto tão grande, mas tão grande que não posso me conter e preciso espalhar a notícia a todos que ainda pensam em poder ler aquele traste.  São poucos os que me afetam dessa maneira.

Uma coisa que talvez passe desapercebida para os leitores é que mudo de opinião à medida que vou escrevendo minha resenha.  Um livro às vezes vai do bom ao brilhante, quando percebo, por ter que pensar nele e em suas diversas correlações, o quão complexo ele é, e o quanto eu poderia ter apreciado ainda mais na minha leitura.  Um livro em que isso aconteceu recentemente foi A vida peculiar de um carteiro solitário, do canadense Dénis Thériault, que considerei bom, mas melhor ainda quando escrevi sobre o livro, e ainda mais espetacular quando, após ter escrito a resenha, contei para amigos a história do carteiro.  De repente, eu vi que tinha lido um daqueles livros muito, muito bons.  Mas raramente o contrário acontece.  Então, a resenha, sedimenta as minhas primeiras observações.  Isso não quer dizer que eu não mude de ideia mais tarde.