Dia a dia…

3 07 2025

Claraboia foi um livro de José Saramago escrito em 1952.  Mas ele não conseguiu publicá-lo até os anos 80. Não tem aquela forma por que Saramago ficou conhecido.  Tem parágrafos, pontuação tradicional. Trata-se das histórias de diversas famílias vivendo em um edifício.  Tem um gostinho dos anos cinquenta do século passado, é um tantinho moralista. Afinal trata-se da era de Salazar. Saramago usa da insinuação em temas delicados, que hoje seriam abertamente ilustrados, fala de política, de amores e paixões, de seres humanos.  Cativa com sua linguagem, seduz mesmo. É tão bom reconhecer palavras que são usadas em contextos  diferentes e com maestria! Foi uma excelente tarde nesse papo delicioso. 





Silêncio, José Saramago

21 06 2025
Não conheço a autoria dessa imagem.  Só há uma fonte na internet para ela.  Reproduzida muitas vezes.  Não confio. Tenho a impressão de que é feita por IA, ainda que alguns atribuam a um pintor do final do século XIX.  Nem vou mencionar seu nome para evitar que um rumor se propague.  Totalmente fora de seu estilo.   É no entanto uma interessante superimposição ao texto que segue. Serve também para alertar a todos vocês que aqui aparecem que há horas em que temos que confiar nos nossos instintos. 

 

“O som do relógio, que expulsara o silêncio, morria em vibrações cada vez mais ténues e distantes. Depois de apagar todas as luzes, Justina foi sentar-se numa cadeira, perto da janela que dava para a rua. Gostava de ali estar, imóvel, desocupada, as mãos abandonadas no regaço, os olhos abertos para a escuridão, à espera nem ela sabia de quê. A seus pés veio enroscar-se o gato, seu único companheiro de serões. Era um animal tranquilo, de olhos interrogadores e andar sinuoso, que parecia ter perdido a faculdade de miar. Aprendera com a dona o silêncio e, como ela, a ele se abandonava.”

 

 

Em: Claraboia, José Saramago, Cia das Letras.  Original de 1953, publicação póstuma em nova edição.