Flash!

15 07 2025

Lygia Fagundes Telles à esquerda e Cecília Meireles à direita, 1945

 





Poesia infantil, O menino azul, Cecília Meireles

7 05 2025

O cavalo e o burro, 1912

Franz Marc (Alemanha, 1880-1916)

guache sobre papel, 38 x 31 cm

 

 

 

O Menino Azul

 

Cecília Meireles

 

O menino quer um burrinho

para passear.

Um burrinho manso,

que não corra nem pule,

mas que saiba conversar.

 

O menino quer um burrinho

que saiba dizer

o nome dos rios,

das montanhas, das flores,

– de tudo o que aparecer.

 

O menino quer um burrinho

que saiba inventar histórias bonitas

com pessoas e bichos

e com barquinhos no mar.

 

E os dois sairão pelo mundo

que é como um jardim

apenas mais largo

e talvez mais comprido

e que não tenha fim.

 

(Quem souber de um burrinho desses,

pode escrever

para a Ruas das Casas,

Número das Portas,

ao Menino Azul que não sabe ler.)





Flash!

11 04 2025
Cecília Meireles, 1959, embarcando para os Estados Unidos.





“Motivo” poesia de Cecília Meireles

26 03 2025

O manuscrito, 1921

Francis Ernest Jackson (Inglaterra, 1872 – 1945)

Ashmolean Museum, Oxford

 

Motivo

 

Cecília Meireles

 

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

 

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

 

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

 

No livro Viagem (1939)

 





Para o Ano Novo: Cântico XIII de Cecília Meireles

3 01 2025

Leitura matutina, 2010

Roberto Ploeg (Holanda,Brasil, 1955)

óleo sobre tela

 

Cântico XIII

 

Cecília Meireles

 

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

 

Em: Cânticos, Cecília Meireles, São Paulo, Moderna: 1981





Retrato, poesia de Cecília Meireles

10 07 2020

 

 

 

George Henry, Escocia, 1848, o espelho de tartarugaO espelho de tartaruga, 1903

George Henry (Escócia, 1858 – 1943)

óleo

The Paisley Art Institute, Paisley, Escócia

 

 

Retrato

Cecília Meireles

 

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?

 

Em: Antologia Poética, Cecília Meireles. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.





Sobre o Natal: Cecília Meireles

3 12 2019

 

 

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“São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes, os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, atilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos. Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo.”

 

Em: Ilusões do mundo, Cecília Meireles, Global: 2019





Motivo, poema de Cecília Meireles

17 10 2019

 

 

 

Aaron Shikler (EUA, 1922–2015)Mulher lendo (esposa do pintor), 1962, pastel sobre papelão, 50 x 44 cmMulher lendo (esposa do pintor), 1962

Aaron Shikler (EUA, 1922–2015)

pastel sobre papelão, 50 x 44 cm

 

Motivo

 

Cecília Meireles

 

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste

sou poeta.

 

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

 

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

– não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

 

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

– mais nada.

 

 

Em: Antologia Poética, Cecília Meireles,  Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira: 2001





Primavera: Cecília Meireles

20 09 2018

 

 

368cb49f53bfb6601fad1e5b43ce3ff4--vintage-flower-girls-roses-vintageCartão postal, 1ª metade do século XX.

 

 

“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.”

 

Cecília Meireles





A chácara do Chico Bolacha — poesia infantil de Cecília Meireles

23 10 2011

A chácara do Chico Bolacha

Cecília Meireles

Na chácara do Chico Bolacha,
o que se procura
nunca se acha!

Quando chove muito,
o Chico brinca de barco,
porque a chácara vira charco.

Quando não chove nada,
Chico trabalha com a enxada
e logo se machuca
e fica de mão inchada.

Por isso, com o Chico Bolacha
o que se procura
nunca se acha!

Dizem que a chácara do Chico
só tem mesmo chuchu
e um cachorro coxo
que se chama Caxambu.

Outras coisas ninguém procura,
porque não acha,
coitado do Chico Bolacha!

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (RJ 1901 – RJ 1964) poeta brasileira, professora e jornalista brasileira.

Obras:

Espectros, 1919

Criança, meu amor, 1923

Nunca mais…, 1924

Poema dos Poemas, 1923

Baladas para El-Rei, 1925

O Espírito Vitorioso, 1935

Viagem, 1939

Vaga Música, 1942

Poetas Novos de Portugal, 1944

Mar Absoluto, 1945

Rute e Alberto, 1945

Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948

Retrato Natural, 1949

Problemas de Literatura Infantil, 1950

Amor em Leonoreta, 1952

12 Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952

Romanceiro da Inconfidência, 1953

Poemas Escritos na Índia, 1953

Batuque, 1953

Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955

Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955

Panorama Folclórico de Açores, 1955

Canções, 1956

Giroflê, Giroflá, 1956

Romance de Santa Cecília, 1957

A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957

A Rosa, 1957

Obra Poética,1958

Metal Rosicler, 1960

Antologia Poética, 1963

História de bem-te-vis, 1963

Solombra, 1963

Ou Isto ou Aquilo, 1964

Escolha o Seu Sonho, 1964

Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965

O Menino Atrasado, 1966

Poésie (versão francesa), 1967

Obra em Prosa – 6 Volumes – Rio de Janeiro, 1998

Inscrição na areia

Doze noturnos de holanda e o aeronauta 1952

Motivo

Canção

1º motivo da rosa