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O entrudo no Rio de Janeiro, 1823
Jean-Baptiste Debret ( França 1768-1848)
Aquarela sobre papel
Museu da Chácara do Céu
Rio de Janeiro
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O carnaval no Rio
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(NOTAS LIGEIRAS PARA UMA CRÔNICA)
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O Carnaval dos nossos antepassados era o entrudo.
Já nos tempos coloniais jogavam-no desembaraçadamente. As máscaras eram tidas como prejudiciais à ordem pública, serviam para ciladas, para os levantes e crimes. Em 1720, quando em Minas Gerais, o bando do mestre do campo Pascoal Guimarães desceu, alta noite, do Morro Velho sobre a moradia do prepotente ouvidor Martinho Vieira, os que o guiavam vinham mascarados. Dizem também que foi um mascarado quem assassinou o prisioneiro Almirante Du Clerc, em 1710, na casa que o governador desta cidade lhe dera por prisão na rua Direita… Outros crimes misteriosos são atribuídos a embuçados com máscaras. E certo é que a máscara foi tida como traiçoeira e criminosa, por quanto, em diversas épocas os governadores desta cidade mandavam fazer públicos vários alvarás proibindo o seu uso.
Por essas proibições o entrudo constituiu-se o mais apreciável folguedo carnavalesco.
Havia grande prazer nesse jogo brutal. Em algumas ruas grupos entrudescos agarravam os transeuntes a pulso, violentado-os, metiam-nos dentro de uma tina e, por sobre carga, toda a família do folgação despejava sobre a vítima jarros e barris d’água. Visitar alguém nesses três dias era uma temeridade. Só se animava a fazê-lo os que achavam graça no banho à força…ou não tinham escravos para abastecer a sua casa do precioso líquido. Assim o banho chegava a ser providencial.
O processo mais delicado dessa terrível pagodeira consistia no arremesso de limões de cera cheios d’água simples ou perfumada com essência de benjoim e canela, e jatos de seringas de irrigação. O fabrico desses limões tornou0se uma pequena indústria que ocupava por longos meses as famílias cariocas. Durante dezembro e janeiro muitas casas no Rio de Janeiro viviam em verdadeira azáfama, a fabricar esses projéteis, mas nem sempre com a cautela necessária à integridade física do próximo, porque alguns limões excediam a espessura de seus invólucros o quanto deveriam ter de bem aferido para não esborrachar narizes nem amachucar o rosto das vítimas. As seringas menos mal faziam contrapunham, porém, maior banho. Colaborando com a seringa apareciam frequentemente o moringue, o jarro, o alguidar e o barril.
A água não bastava, porque se era limpa poderia, quando muito, provocar bronquites, plurises, pneumonias, o que era preciso, o que era necessário, era ridicularizar a vítima, fazê-la irrisória, escorraçá-la com a vaia, e o obrigá-la a arrastar o seu ridículo por onde passasse.
Assim, como banho cobriam-na de farinha de trigo ou polvilho, algumas vezes de pós de sapato ou vermelhão. Este hábito esteve muito em voga entre a gente do povo, mormente os negros. A estampa de Debret que reproduzimos adiante, é um quadro de costumes. Aí está a pagodeira em todas as suas minúcias. Aí estão a seringa em ação, a tina preparada, os limões para a batalha e o polvilho posto ao serviço da folia. Nada lhe falta, nem mesmo a assuada dos que assistiam o ataque à crioula de anágua curta e cabeção rendado.
A introdução dos bailes carnavalescos populares sem corrigir logo este estúpido folguedo, veio indiretamente modificá-lo. Foi em 1847 que eles estavam em maior voga. Um hotel que aqui existiu, com o título de Hotel di Itália, dava-os como alguma animação e a Sociedade Constante Polka aumentava-lhes o brilho com a assistência dos seus associados. Ao mesmo tempo o Tívoli, que era um estabelecimento de recreio, na chácara n. 9 do Campo d’Aclamação (Campo de Sant’Anna, em nossos dias Praça da República) engalanava-se para a alegria das quatro noites de Carnaval. Em 1849 o Tívoli transformou-se, sob o título de Paraíso, num aprazível botequim campestre com salas de jogos e pavilhão para danças, então os seus bailes tornaram-se famosos, tal o preparo, o brilhantismo, a concorrência que tiveram. O Teatro S. Francisco e o Salão da Floresta também deram bailes devendo-se notar que por causa perdida pela negligência das crônicas da época, o empresário do Salão da Floresta arrepiou carreira publicando na quarta-feira de cinzas daquele ano, solene protesto de não mais dar bailes carnavalescos…. A partir desse tempo os bailes públicos carnavalescos entraram nos nossos costumes e com eles veio o atrativo das fantasias e o prazer da máscara em tal desenvolvimento, que em 1851, foram organizadas duas sociedades carnavalescas: o Congresso das Sumidades e a União Veneziana.
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![carnaval, kosmos, 1907](https://peregrinacultural.com/wp-content/uploads/2011/02/carnaval-kosmos-1907.jpg?w=112&h=293)
Ilustração original do texto, revista Kosmos, 1907, sem indicação de autor.
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O aparecimento das sociedades carnavalescas não foi o bastante para por cobro ao entrudo brutal, grande parte da população sentia prazer em se molhar e entregar-se delirantemente às suas violências, das quais, uma vez por outra, resultavam conflitos mais ou menos graves; outra parte, porém, propendia para a alegria do Carnaval mascarado e fantasiada e essa queixava-se da dificuldade em sair à rua formar bandos, organizar passeatas por causa dos vexames, contrariedades e prejuízos a que ficaria exposta com o desbragamento do entrudo.
Fizeram, então uma persistente campanha contra o entrudo. A polícia empregou energia, perseguindo os entusiastas desse divertimento. Os primeiros resultados dessa perseguição apareceram em 1854, cujo carnaval correu animadíssimo, vendo-se pelas ruazinhas cariocas carruagens com famílias fantasiadas, muitos máscaras avulsos e alguns montando cavalos azaejados. Dois anos depois, em 1856, o chefe de Polícia Dr. Alexandre Joaquim de Sequeira conseguia reprimir o entrudo. Datam desse tempo as vitórias do Carnaval do Rio. O Congresso das Sumidades Carnavalescas obtinha grande sucesso com as suas passeatas, que ficaram memoráveis. Em 58, a União Veneziana, estimulada pela vitória das Sumidades, organizou um suntuoso préstito, em que figuravam Felipe I de Castela, o duque de Buille, um Montmoroncy, o conde de Charnay, capitão das guardas de Maria Antonieta, o marquês de Salures , o conde d’Arcos, o cavalheiro Ruy Lopes de Villa Lobos… em suma, numeroso conjunto de reis, príncipes, duques, marqueses, condes, barões, cavalheiros e pajens. Apesar da mistura das idades históricas e dos personagens, a marcha da União Veneziana assumiu a importância de um acontecimento social. A população prestou-lhe ovações atirando-lhe flores e confeitos, saudando-a com palmas e bravos. Durante muitos anos essa passeata foi narrada e comentada e os nossos bisavós arregalando os olhos, suspendendo a pitada, murmuravam ainda cheios de assombro: Que luxo! que dinheirão!
Apareceram por esse tempo, os Zuavos, com o título: banda marcial da Sociedade Euterpe, e, segundo cremos, o celebérrimo Zé Pereira, o tremendo rompe-rasga do charivari pagodeiro.
O infatigável cronista de nosso passado, o sr. Vieira Fazenda, em um dos seus interessantes folhentins da Notícia, o de 15 de fevereiro de 1904, conta-nos o aparecimento desse barulhento e alegre estúrdio carnavalesco, mas esqueceu-se de nos dizer o ano em que isso foi. É de crer que fosse por essa ocasião ou mais um ano depois ou menos um ano antes, que o incansável Zé Pereira zabumbou pelas ruazitas lôbregas da populosa sebastianópolis. A data precisa escapou à pena, senão à memória do narrador dos nossos costumes e modos d’antanho; em compensação tivemos o nome do seu primeiro zabumbador, que o cronista lega à posteridade.
Chamava-se José Nóbrega de Azevedo Paredes, tinha a profissão de sapateiro e era de origem portuguesa. Foi o José Nóbrega quem, por uma tarde de nostalgias, numa segunda-feira de carnaval na Corte do império do Brasil, sob o reinado do sr. D. Pedro II, o formidável Zé P´reira das folias minhotas. E teve êxito completo, foi um sucesso!
Toda a suja cidadezinha, esconsa e fedorenta, estremeceu ao ruído ritmado da estrondosa pandorga; e se o Nóbrega tinha pulso capaz de vencer um touro, melhor teve-o para zabumbar galhardamente no couro curtido dum boi. O sapateiro da rua São José, sem calcular o resultado da sua pândega nem prever a celebridade que o esperava, fez mais rápida escola com alegre barulhada dos bombos do que com a perícia da sua sovela.
De então em diante os Zé Pereiras surgiram às dúzias, aos centos. As sociedades agarraram-se-lhe com fervor e toda a doidice do Carnaval e animou-se com esse retumbante bater de tambores e bombos. No sábado do Momo, após o badalar das 10 horas do Aragão de S. Francisco de Paula, a barulhada começava. Parecia que um sopro de loucura passara sobre a cidade. Em diversas ruas o Zé Pereira estrugia. Ajuntavam-lhe buzinas, cornetins, campainhas. Era o seu domínio. Mas esse útil ao Carnaval porque distraiu o povo das brutalidades do entrudo. Começou, então, o Carnaval das ruas. Os princezes passeavam a sua capa de belbutina e os seus calções de cetim; ao arremedo de falsificados pajens medievais traziam cabeleiras de cachos frisados, e pregavam obreias pequeninas e multicores no rosto.
Fazia-se espírito. Dominós impiedosos troçavam e intrigavam. Alguns tornaram-se notáveis, e se os designava pela cor, porque guardavam rigoroso incógnito.
Dessa alegria, dessa animação surgiu a Boêmia, que, dizia França Júnior num folhetim da Gazeta de Notícias, de 7 de março de 1878, “marcou uma era memorável no Carnaval. Foi o império do Chicard do espírito”.
Essa sociedade era composta dos mais elegante leões do tempo e foi ela que introduziu aqui o vestuário chicard, de gavarni, dando à Madame Niobey, costureira parisiense domiciliada no Rio, uma larga e longa celebridade por ter sido a confeccionadora da maior parte dessas fantasias.
Com a Boêmia, vieram os Estudantes da Heidelberg, a Internacional, o Clube X, e outras mas já sem o caráter familiar dos primeiros, exceção do Clube X que afinal, teve de desistir de suas pretensões e ceder ao carnaval licencioso que Paris criava.
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![carnaval, kosmos, 1907-2](https://peregrinacultural.com/wp-content/uploads/2011/02/carnaval-kosmos-1907-2.jpg?w=236&h=399)
Ilustração original do texto, revista Kosmos, 1907, sem indicação do autor.
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Apareceram também os diabinhos vermelhos, os velhos, cabeçudos, de enormes casacas com pães da rala por botões e báculos; o ás-de-copas, em camisas de mulher e trazendo por capacete um vaso, que não é de sala… E, pouco a pouco, os estalos fizeram a sua entrada; ao princípio alegremente atirados, dando uma nota ruidosa mas inofensiva aos folguedos; depois ultrapassando os limites d’alegria para entrar nos impulsos da perversidade, queimando roupas, chamuscando braços e colos. E, sorrateiramente, sob maneiras de elegância e galanteios, surgiu a bisnaga, discreta, esguichando finamente, à guisa de um pulverizador, produtos das retortas de Lubin e Pinaud, conceituados perfumistas da época.
Não obstante os males provocados pelos estalos e a vulgarização das bisnagas, as sociedades folgavam e divertiam o povo. O Carnaval do Rio de Janeiro ganhara foros de grande festa. Arredadas, como foram, as famílias, os préstitos carnavalescos ostentavam um luxo que o maillot fazia deslumbrante.
Os bailes nos teatros iam perdendo a sua animação de outrora, porque as sociedades deixaram de os frequentar para se precaverem contra os contínuos conflitos que neles se davam, conflitos em que um pobre francês de nome Cosenave perdeu a vida.
Todos os anos surgiam novos clubes. Eram os Fenianos, os Acadêmicos do Koenigcher, os Inimitáveis, a Paulicéia Vagabunda, os Estudantes de Salamanca, que cantavam à guitarra peteneras e malaguenhas, e grupos mais ou menos numerosos e efêmeros, como os das Sabichonas, Fragata Fraca, Corveta Terrível, Parasitas de Casacas, aos quais se reuniam clubes musicais, na sua maioria franceses…
Desapareciam uns, surgiam outros.
O Congresso das Sumidades desorganizou-se, em 63 já não existia; dez anos depois pretenderam reorganizá-lo com o título de Novas Sumidades; mas a sua existência não logrou duração. Os Zuavos (Isto é, a Euterpe) passaram a ser Tenentes do Diabo, os Democráticos formaram-se com dissidentes de outras sociedades.
À proporção que se formavam novas sociedades, que seus préstitos atingiam a um luxo extraordinário, para cujas alegorias eram disputadas a ouro as mais bonitas alcasarinas, as mais moças e vistosas mundanas e os espirituosos máscaras da rua cediam lugar aos capoeiras vestidos de diabo, trazendo as caudas de rabo de velame, aos princezes armados para o que desse e viesse de porta-voz colossal, e mortes e macacos que escondiam nos cintos as navalhas assassinas. E com isso o entrudo ressurgia. As delicadas bisnagas, de fino jato de pulverizadores, passaram a bisnagões que jorravam esguichos de repuxos; os limões não só de cera, também de borracha re-entravam na cena. As mulheres, que faziam parte dos préstitos das sociedades, viam-se obrigadas a se munirem de chicotinhos de montaria para castigar os que as molhavam brutalmente.
Demais, parece que o entrudo, apesar da sua bruteza, das moléstias que provocava e dos conflitos que despertava, afinava-se perfeitamente com a nossa educação, porque muita gente boa tinha-lhe queda. O Sr. Vieira Fazenda conta-nos que o Sr. D. Pedro II, quando em Petrópolis, não passava incólume sob a saraivada dos limões e esguichos das bisnagas. Sua majestade achava-lhes graça e ao retornar a palácio, molhadinho como qualquer mortal, ria-se a bom rir dos desrespeitos das lindas veranistas petropolitanas. Um jornalista houve, e dos mais célebres em nosso tempo, que comprava limões de cheiro aos milheiros. E a pequenina redação do seu jornal, na rua do Ouvidor, transformava-se num verdadeiro arsenal, num depósito bélico de entrudo. Dizem que, d’uma feita, andando a polícia a reprimir o entrudo, o alegre e gordo jornalista pediu ao delegado Macedo de Aguiar que subisse à sala da redação para intimar o numeroso grupo de damas e senhoritas a abandonar o divertimento. Era um ardil. O delegado subiu e mal punha o pé na sala uma legião de moças acometia-o de tal modo que, para sair, teve necessidade de mandar o seu ordenança buscar outras roupas em sua casa.
Contudo o Carnaval resistia, brilhava com a riqueza dos seus préstitos, atraía à cidade uma grande massa da população.
O Club X exibia uma caravana oriental montada em camelos, que mandara vir da Ásia, propositalmente para esse fim; os Tenentes, Fenianos, Inimitáveis e Democráticos, rivalizavam em riqueza de vestuários e espírito nas críticas, porque as sociedades tendiam ao aproveitamento jocoso dos fatos, mais salientes do ano. Apareceram os Carbonários, Pingas, Filantes, Cínicos, Femmes Parisiennes, Badanas, Regresso do Rocambole, Tagarelas do Diabo ou Velhos Esponjas e, antes de todos os clubes de curta duração, os Cucumbis, que faziam suas danças selvagens nas ruas.
A pouco e pouco as sociedades mais dinheirosas desfaleciam, liquidavam seus últimos recursos. Em 1878 só estavam em campo os Fenianos, Tenentes e Democráticos; os demais, mesmo o novo Club X, sucumbiu. E aquelas três entravam num grave período de rivalidades que teve por desfecho uma tremenda luta, porfiada a cacete e pedradas, em um terça-feira, no momento em que Fenianos e Tenentes se cruzaram na rua do Hospício, esquina dos Ourives ou Quitanda.
Daí por diante, ou melhor dizendo, durante dois a três anos foi o entrudo quem fez o carnaval.
A seringa volveu a participar ativamente dos folguedos, não já a seringa de irrigação, mas a de borracha, destinada a outros usos; os limões atingiram as proporções disformes, deixaram de ser limões, transformaram-se em bananas, laranjas, abacaxis, jacas, melancias, pelo tamanho e pela forma: quem os levasse pela cara apanhava um banho completo e uma tapona de ver estrelas…entre chuva; as bisnagas pesavam litros e pareciam mangueiras de bombeiros, o polvilho e o pó de sapato entraram em atividade.
Não satisfeitos com isso os entrudistas voltaram às bombas de jardim e aos baldes d’água, e a perversidade, que é quem tira partido dos desregramentos, entrou a encher bisnagas com água suja e líquidos corrosivos e a fabricar limões que rivalizavam com cathaos na dureza e poder ofensivo. Para coroamento dessa obra de feios costumes e relaxamento policial não faltou a bordoada. Quem descesse à cidade para assistir o carnaval, deveria dar graças a Deus quando voltasse sem chapéu e com as roupas em frangalhos, porque muitos voltavam com os olhos queimados, a cabeça em pontos falsos e o braço numa tipóia!…
Enquanto assim corria o Carnaval, os Cucumbis, como o Zé-Pereira n’outro tempo, mudavam o aspecto dos folguedos, comunicando a sua selvageria aos instintos rudes do povo. Dir-se-ia uma afinidade. Deles nasciam os cordões, esses horríveis, fétidos, bárbaros cordões, que dão ao nosso Carnaval de hoje algo de boçal e selvagem com a sua imutável melopéia de adufes e pandeiros e a babugem desbocada de suas cantilenas. Quanto o Zé-Pereira, apesar de sua pobreza de ritmo, tem de ruidosamente alegre, esses tantãs e bufe-bufe dos cordões possuem de bruto, atroador, irritante e estúpido.
Já não há alegria nem espírito, há berreiro de taba, de mistura com uivos de africanos em samba. E para completar a insipidez de um carnaval de cabindas e botocudos o lança-perfume vai abrindo caminho ao entrudo como outrora a bisnaga, pequenina, discreta e perfumada.
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[Texto integral, mas com grafia atualizada para facilitar a leitura. As duas ilustrações em preto branco são as ilustrações originais do texto que também tinha a reprodução de O Entrudo de Debret, em preto e branco. Troquei-a para uma reprodução colorida.]
Em: Kósmos, revista artística, científica e literária, Ano IV, número 2, Fevereiro de 1907, Rio de Janeiro.
NOTA:
Américo Fluminense foi um dos pseudônimos do escritor Gonzaga Duque.
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![retrato-de-gonzaga-duque, por eliseu Visconti](https://peregrinacultural.com/wp-content/uploads/2011/02/retrato-de-gonzaga-duque-por-eliseu-visconti.jpg?w=510&h=725)
Retrato de Gonzaga Duque [pseudônimo: Américo Fluminense], 1908
Eliseu Visconti ( Brasil, 1866-1944)
óleo sobre tela, 52 x 91 cm
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
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Luiz Gonzaga Duque Estrada (RJ 1863 — RJ, 1911) foi um jornalista, crítico de arte, pintor e escritor. Atuou na imprensa carioca escrevendo em jornais e revistas importantes da cidade: O Paiz, A Semana, Diário de Notícias, Folha Popular, Kósmos e Fonfon, entre outros.
Obras:
A Arte Brasileira, 1888
Mocidade Morta, 1899
Graves e frívolos, 1910
Horto de Máguas, contos, 1914 – póstuma
Contemporâneos, s/d