Paisagens brasileiras…

13 07 2025

Marinha, 1967

Alice Brill (Alemanha-Brasil, 1920-2013)

óleo sobre tela colada em placa, 23 x 27 cm

 

 

 

Barcos a vela, 1958

Arcangelo Ianelli (Brasil, 1922-2009)

óleo sobre tela

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Tecnicamente essas telas não são paisagens.  Seriam colocadas na categoria de marinhas.  Mas já há anos coloco marinhas na mesma classificação de paisagens.  É uma escolha minha, para simplificar.

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Dois artistas contemporâneos que exploram as formas geométricas da natureza e daquilo que veem.  A tela de Alice Brill mostra menos barcos a vela, mas as montanhas ao fundo replicam a forma triangular.  Arcangelo Ianelli por outro lado, cobre toda a superfície da tela com os triângulos das velas e suas montanhas ao fundo, arredondadas, dão um respiro ao espaço, trazem um equilíbrio entre a rigidez dos triângulos e a repetição suave das montanhas ao fundo.  Ambos têm outra maneira de se expressar: Alice era fotógrafa também e Arcangelo era escultor.  Talvez tenha sido mais fácil para ambos enfatizar a geometria das formas, por causa desses enfoques.  Mas também o geometrismo já havia se instalado na pintura desde Cézanne. Gosto de ambos, ainda que haja falta de espaço visual e com isso um ar asfixiante em ambas as obras. 





Flores para um sábado perfeito!

30 12 2022

Vaso com flor (Bico de papagaio) 1985

Alice Brill (Alemanha-Brasil, 1920 – 2013)

óleo sobre tela, 40 x 30 cm

NOTA:  O bico-de-papagaio, ou poinsétia, ligado no hemisfério norte às festas de fim de ano, natural do México, tem flores muito pequenas, que ficam no centro das folhas modificadas.  As partes vermelhas são folhas modificadas que rodeiam as pequeníssimas flores no centro.  Aqui no Brasil as folhas modificadas, vermelhas, aparecem no inverno, ou seja de junho a agosto.





Flores para um sábado perfeito!

5 09 2020

Jarro de flores sobre mesa, 1986

Alice Brill (Alemanha-Brasil, 1920 – 2013)

óleo sobre tela, 70 x 42 cm





Nossas cidades: São Paulo

5 09 2016

 

 

ALICE BRILL - (1920) - Cidade - ost - 40 x 30 - cid - 1982Cidade, 1982

Alice Brill (Alemanha/Brasil, 1920-2013)

óleo sobre tela, 40 x 30 cm





Oportunidades perdidas, texto de Rosa Montero

15 11 2014

 

ALICE BRILL - Casario - OST - CID - dat 1988 - 79 x 42 cm.Casario, 1988

Alice Brill (Alemanha/Brasil, 1920-2013)

óleo sobre tela, 79 x 42 cm

 

“A máquina reduziu a velocidade e entrou em Bernal bufando. Antônia olhou pela janela, ainda meio tonta: uma estação vazia e quente; um carrinho de menino abandonado na plataforma; mais além, por cima das cercas onduladas, as torres de cimento de um bairro em expansão.  Antônia nunca tinha descido em Bernal, e esta cidade era para ela como um cenário de teatro: o costume havia convertido todo o itinerário em uma sucessão de cromos planos, de modo que Valbierzo era só os azulejos quebrados da estação; Valones, o relógio de marco de madeira que estava pendurado em um poste; e Bernal, estas plataformas e a ponta das torres sujas de cimento.  Mas agora Bernal adquiriu volume de repente, e Antônia compreendeu, pela primeira vez, que a cidade se estendia além do fragmento que abarcava a janela: centenas de ruas que nunca havia pisado, milhares de pessoas às quais nunca tinha visto. Engoliu saliva, deslumbrada frente a imensidão do mundo.  E se descesse? E se ficasse aqui? O colossal da ocorrência deixou-a sem fôlego. O trem tremia com respiração hidráulica e os minutos de parada se consumiam rapidamente. E se me levantasse, tirasse a maleta do compartimento, saísse dali, descesse do vagão? Que vertigem, que desfalecimento, que emoção. Estava com a passagem de volta, 5 mil pesetas que Antônio tinha dado para a mãe, 1.200 pesetas suas, uma muda de roupa interior, uma blusa sobressalente, uma camisola, as pantufas, uma escova de dentes, um pente, pó compacto, os remédios que o médico tinha receitado, uma garrafinha de plástico com colônia, dois lenços, as meias de seda da senhora Encarna, um pequeno estojo de cretone com utensílios de costura, uma jaqueta para o caso de fazer frio, um tubo de aspirinas, uma estampa de Niño del Remédio, um envelope com tirinhas, uma revista feminina. E se descesse? Agora era diferente. Agora as mulheres iam e vinham sozinhas para todos os lados, e eram médicas, e advogadas, e até policiais. Imaginou-se de pé na estação vazia, agarrada à sua nécessaire, contemplando como o trem apitava e se perdia ao longe, o caminho de Malgorta; tentou ir além e ver a si mesma saindo da estação em direção ao desconhecido, mas a cena desapareceu: era incapaz de imaginar aquilo que não conhecia. A locomotiva apitou, anunciando a saída. Agora, agora ou nunca, Bernal aí fora, esperando-a, Bernal imensa, cidade fabril, seca cidade da planície. Agora, agora ou nunca, mas o vagão rangia, e já começava a deslizar e Bernal resvalava lentamente ao outro lado da janela e suas dimensões contraíam-se ate fechar de novo no cromo plano e conhecido.

Antônia encostou-se no assento e suspirou com decepção e alívio. O trem ia adquirindo velocidade e atravessava já colinas nuas a caminho de Ruigarbo. O rapaz continuava lendo com o livro apoiado na opulência de suas coxas, o avô cuspia os brônquios em um acesso de tosse, as freiras passavam as contas do rosário entre seus dedos, e Antônia, fechando os olhos, decidiu se unir a elas em suas rezas e começou a murmurar para si mesma o terceiro mistério doloroso.”

Em: Te tratarei como uma rainha, Rosa Montero, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 2014, pp 84-86; tradução de Marcelo Barbão.

NOTA: Em espírito, este trecho me lembrou um dos mais interessantes contos de Henry James, A fera na selva, que no Brasil foi publicado como um romance, e nos Estados Unidos como um conto.  Se você não conhece essa obra de James vale a pena dedicar umas duas horas do seu tempo. É um trabalho muito importante.