Moça lendo jornal
Karl Hofer (Alemanha, 1878-1955)
“Os livros têm os mesmos inimigos que os homens: o fogo, a umidade, os animais, o tempo e o próprio conteúdo.”
Paul Valéry
Moça lendo jornal
Karl Hofer (Alemanha, 1878-1955)
Paul Valéry
Princesa Marie von Preußen numa cena em jardim romântico, 1838
Pintor alemão anônimo
Deutscher Kunstverlag Munique Berlim
Retrato de Johann Joachim Winckelmann, 1762
Anton Raphael Mengs (Alemanha, 1728 — 1779)
Oleo sobre tela, 69 x 49 cm
Metropolitan, NY
Retrato da mãe do pintor, 1902
Franz Marc (Alemanha, 1880-1916)
óleo sobre tela, 98 x 69 cm
Lenbachhaus, Munique
Paisagem de Fazenda no Estado do Rio de Janeiro, 1904
Karl Ernst Papf (Alemanha/Brasil, 1833-1910).
óleo sobre tela, 41 x 58 cm
Marie Louise Catherine Breslau (Alemanha, 1856-1927)
óleo sobre tela
Museu de Arte de Berna
A língua alemã não é uma língua exótica. Noventa e cinco milhões de pessoas no mundo têm o alemão como língua materna. São pessoas letradas e escolarizadas. Além disso, o alemão é lido e compreendido por outras pessoas, muitas delas nas humanidades e nas ciências, que precisam usá-la profissionalmente como segunda língua. É uma língua em que grandes escritores se revelaram: Goethe, Schiller, Hesse, Grimm, Günter Grass, Rilke, entre outros. Há centenas de dicionários em alemão, sobre o alemão, do alemão para outras línguas. Portanto, traduzir um romance ou um conto, um ensaio filosófico, deveria apresentar simplesmente, ou somente, os problemas normais de uma tradução: uma ou outra dificuldade de se achar equivalência de uma expressão típica, de algum conceito alheio ao leitor em português. Isso não aconteceu com o romance que escolhi para leitura nesta semana.
Estou pasma com a má qualidade da leitura por causa de problemas na tradução de Marcelo Backes do livro de Saša Stanišić Antes da Festa. O tradutor cometeu erros crassos de português como a palavra acento usada no lugar de assento.
“Agora faz exatamente um ano, no dia anterior à última Festa, que Ulli arrumou sua Garagem, botou um punhado de acentos, cinco mesas e um aquecedor, pendurou uma cortina de tule vermelho e amarelo diante da única janela, pregando na parede…” [p.18]
Note-se: mesmo que fossem assentos, não se pode usar a expressão um punhado. Punhado é o que cabe em um punho. [ “…botou, alguns assentos, cinco mesas…”] seria o mais correto.
“O povoado em cadeiras. A ordem dos acentos é um tema explosivo. Quem irá ficar com a mesa de bar na parte da frente, junto à figueira?” [p. 28]
Além dessas belezas acima, o tradutor optou por usar um texto em português quase ao pé da letra do que está em alemão. Ou seja subjugou o entendimento em português para preservar a fidelidade às expressões, à ordem de palavras, ou a modos de dizer que não fazem sentido em português. Temos, assim, frases como:
“Com o sistema de climatização de hoje em dia, até a lua seria possível.” [SIC][p. 37]
“O povoado reza diariamente por um mero mais ou menos.” [SIC] [p.31].
“Certa vez, os que estavam procurando cogumelos.” [SIC] [p.41]
Ou problemas com um parágrafo inteiro, notem que o itálico é meu:
“O tenente-coronel Schramm acompanhou os coletores de cogumelos até o parâmetro extremo.[SIC] [?] Numerosos eram os cogumelos ao lado do caminho. [SIC] [Porque não usar a forma direta? “Eram numerosos os cogumelos ao longo do caminho?”] Mas aquelas pessoas não sabiam mais se podiam ou não colhê-los. De modo que Schramm tomou a iniciativa e botou um cogumelo bem suculento no cesto da menina. E depois foi obrigado a ver que nem era um boleto. [SIC] [?] A mãe voltou a tirá-lo do cesto sem dizer palavra.” [p.45]
Erros de grafia abundam:
“No verão, a morte anda não era uma ideia, no verão o senhor Schramm queria tentar a vida mais uma vez, talvez se apaixonar.” [p.110]
Mais tarde somos agraciados com um português com grafia excepcional. A intenção é dar ao texto um cunho de antigo, de ter sido escrito no século XVI, pois o capítulo começa “No ano da graça de 1587…”. Mas o tiro saiu pela culatra e o maneirismo da letra ‘l’ dobrada, das palavras um começarem com ‘h’ , não surtiu o efeito desejado pois a essa altura já são tantos os problemas com a leitura, que esse detalhe se torna uma distração a mais.
“Os homens se junctaram em roda. Parecia até que tentavam esconder o leitão. O mandachuva dividiu o ar ao meio movendo as mãos à esquerda e à direita — e já os homens abriram hum buraco no centro.” [p. 70]
Enfim, chegada à página 110, desisti da leitura. É muito pouco caso com o leitor. Deixei uma queixa no site da editora, mas eles não se dignaram a responder. Não quero colocar a culpa exclusivamente no tradutor, ainda que 90% da responsabilidade seja dele. Há duas pessoas mencionadas como responsáveis pela revisão: Rafael Alverne e Thais Carlo. Não vejo sinais do trabalho deles. Talvez estivessem de férias, ou pior, confiaram em programas de computação para a revisão. Esses programas não percebem erros entre assento e acento, ou seja não sabem as diferenças entre palavras homófonas. Fato é que ninguém responsável por esta publicação leu o livro. Uma vergonha.
A Editora Foz perde sua credibilidade porque publica um livro ilegível. O autor alemão não entenderá a razão de sua obra não ter sucesso no Brasil, quando é sucesso em outros cantos do mundo. Os leitores que mantêm editora, autor, tradutor e revisores trabalhando, pois compram o livro, não podem fazer nada além de reclamar, ou será que deveríamos ir ao PROCON? Dá vontade.
Leitor em biblioteca de estilo Rococó
Alois Heinrich Priechenfried (Áustria, 1867 -1953)
óleo sobre tela, 48x 36cm
Abbott Fuller Graves (EUA, 1859 – 1936)
óleo sobre tela
Samuel Carrington, o pai da artista, 1915
Dora Carrington (EUA, 1893-1932)
óleo sobre tela
Cathy Jourdan (EUA, contemporânea)
acrílica sobre tela.
Chad Gowey (EUA, 1987)
Nicolas Waaij Weesmeisjes (Holanda, 1855-1936)
óleo sobre tela
Djanira da Motta e Silva (Brasil, 1914-1979)
óleo sobre tela, 65 x 55 cm
Edvard Munch (Noruega, 1863-1944)
óleo sobre cartão
Retrato de meu pai, José Alberto Ramos Román
Ramos Cortés (Espanha, contemporâneo)
óleo sobre tela colada em placa, 90 x 90 cm
Camille Pissarro (França, 1830-1903)
óleo sobre tela, 7 x 9 cm
Coleção Particular
Marcel Semblat lisant, 1910-1920
Georgette Agutte (França, 1867-1922)
óleo sobre tela
Musée de Grenoble