Ler nas férias, longe da escola!

8 12 2025

boa leitura

Embora os adultos geralmente agarrem a chance de atualizar a leitura durante as férias, muitas crianças e adolescentes, especialmente em famílias de baixa renda, que já leem pouco durante o ano, quase não  leem nas férias de verão.

Pode até parecer natural, que o sol do verão nos chame incessantemente para as praias, banhos de sol, brincadeiras ao ar livre e que férias sejam encaradas como tempo LIVRE.  Mas ler pode não ser trabalho.  Ler também pode ser divertimento.  Fora isso o tempo seria livre do que?  De pensamentos?  De ideias?  O preço de manter livros fechados é alto demais para que pensemos assim É preço alto para as crianças, para os pais e certamente para a sociedade.  Ao fechar do verão no hemisfério norte, diversos estudos documentaram um “declínio de verão” na leitura.  Esse lapso da leitura é maior entre alunos de baixa renda. Por não lerem, por não serem expostos a novas ideia, a que perdem o equivalente a dois meses de escola em cada verão, segundo a National Summer Learning Association, um grupo de apoio à educação. E a perda se acumula a cada ano.

Agora, uma nova pesquisa oferece uma solução surpreendentemente simples e barata para o declínio de leitura no verão. Num estudo de três anos, pesquisadores da Universidade do Tennessee, em Knoxville, descobriram que simplesmente dar acesso a livros às crianças de baixa renda nas feiras da primavera – e permitir que elas escolham livros que mais as interessem – surtiu um efeito significativo na lacuna de leitura do verão.

O estudo, financiado pelo Departamento Federal de Educação dos EUA, acompanhou os hábitos de leitura e as notas de mais de 1.300 alunos da Flórida, vindos de 17 escolas de baixa renda. A maioria das crianças era pobre o bastante para receber almoços escolares grátis ou com desconto.

Os pesquisadores queriam ver se proporcionar livros às crianças durante as férias de verão afetaria seu desempenho ao longo dos anos. No início do estudo, 852 alunos da primeira e da segunda série, selecionados aleatoriamente, compareceram a uma feira escolar de livros na primavera, onde puderam escolher entre 600 títulos.

Era oferecida uma variedade de livros, desde aqueles sobre celebridades como Britney Spears e “The Rock“, até histórias de personagens ficcionais como o corajoso criador de casos Junie B. Jones. As crianças também podiam escolher livros culturalmente relevantes, com personagens afro-americanos, assim como livros em espanhol.

As crianças escolheram 12 livros. Os pesquisadores também selecionaram aleatoriamente um grupo de controle de 478 crianças que não receberam nenhum livro. A essas crianças, ofereceram atividades livres e livros de quebra-cabeças.

As feiras e distribuições de livros continuaram por três verões, até que os participantes do estudo chegaram à quarta e quinta séries. Então, os pesquisadores compararam as notas de testes de leitura para os dois grupos.

As crianças que haviam recebido os livros grátis atingiram notas significativamente mais altas que aquelas com livros de atividades. O efeito, correspondente a 1/16 do desvio padrão em notas de testes, foi equivalente a uma criança fazer três anos de cursos de verão, segundo o relatório a ser publicado em setembro no jornal “Reading Psychology“. A diferença nas notas foi duas vezes maior entre as crianças mais pobres do estudo.

As descobertas chegam num momento em que muitos distritos escolares consideram cortar os programas de verão para economizar verbas, de acordo com uma recente pesquisa pela Associação Americana de Administradores de Escolas. O estudo mostrou que oferecer livros gratuitamente, por um custo de US$50 por criança, é uma maneira muito mais econômica de estimular a leitura de verão, afirmou uma co autora do estudo, Anne McGill-Franzen, professora e diretora do centro de leitura da Universidade do Tennessee, em Knoxville.

Uma das descobertas mais notáveis foi que as crianças aprimoraram sua leitura mesmo sem escolher os livros do currículo escolar, ou os clássicos normalmente indicados pelos professores como leitura de verão. Essa conclusão confirma outros estudos sugerindo que as crianças aprendem melhor quando podem escolher seus próprios livros.

Surpreendentemente, o livro mais popular durante o primeiro ano do estudo na Flórida foi uma biografia da cantora Britney Spears.

“O que isso significa para mim é que existe uma cultura e uma mídia jovens que transcendem o que achamos que as crianças deveriam ler”, disse a Dra. McGill-Franzen. “Eu não acho que a maioria dessas crianças lia qualquer coisa durante o verão, mas a oportunidade de escolher seus próprios livros e discutir o que sabem sobre ‘The Rock’ ou Hannah Montana era algo motivador para eles”.

Ellen Galinsky, presidente do Families and Work Institute e autora de um novo livro sobre o aprendizado infantil, “Mind in the Making”, disse esperar que as descobertas estimulem pais e professores a deixar que as crianças escolham seu próprio material de leitura.

“Os interesses de uma criança são uma porta para a sala de leitura”, afirmou Galinsky, acrescentando que seu próprio filho virava as costas aos livros durante a graduação. Como ele gostava de música, ela o encorajou a ler revistas de música ou livros sobre músicos. Seu filho acabou ganhando interesse na leitura e hoje possui um Ph.D.

“Se o seu filho não gosta de leitura, fazê-lo ler qualquer coisa é melhor do que nada”, explicou ela.

Porém, dar às crianças a escolha dos livros que leem é uma mensagem a que muitos pais ainda resistem.

Recentemente, numa livraria, a Dra. McGill-Franzen disse ter testemunhado uma conversa entre algumas mães estimulando suas filhas, da quinta e sexta séries, a ler biografias de figuras históricas, quando as meninas queriam escolher livros sobre Hannah Montana – uma personagem interpretada pela estrela adolescente Miley Cyrus.

“Se esses livros os fizerem ler, isso gera ótimas repercussões no sentido de deixá-los mais inteligentes”, disse a Dra. McGill-Franzen. “Professores e pais de classe média subestimam as preferências das crianças, mas eu acho que precisamos deixar de ser tão rígidos com suas escolhas em relação a livros”.

New York Times: Crianças que leem nas férias têm melhor desempenho escolar





Minutos de sabedoria: Emerson

4 12 2025

A carta

David Hettinger (EUA, 1946)

óleo sobre tela,  76  x 102 cm

 

 

“Termine cada dia e o dê por encerrado. Você fez o que podia. Sem dúvida, alguns erros e absurdos se infiltraram; esqueça-os assim que puder. Amanhã é um novo dia. Você deve começá-lo serenamente e com um espírito elevado demais para se deixar sobrecarregar com suas velhas bobagens.”

 

Ralph Waldo Emerson (EUA, 1802-1882)





O escritor no museu: Mary Borden

4 12 2025

Mary Borden and her Family at Bisham Abbey, 1925

Sir John Lavery (Escócia, 1856-1941)

óleo sobre tela, 64 x 76 cm

Coleção Particular





Imagem de leitura: Marie-François Firmin-Gerard

2 12 2025

Tarde de domingo, 1919

Marie-François Firmin-Gerard (França, 1838-1921)

óleo sobre tela, 25 x 33 cm





Imagem de leitura: Walther Firle

28 11 2025

Moça lendo próximo à janela

Walther Firle (Alemanha, 1859-1929)

óleo sobre tela, 81 x 64 cm





Imagem de leitura: Philip Connard

26 11 2025

Sir Somerset A. Gough-Calthorpe, 1918

Philip Connard (Inglaterra, 1875-1968)

óleo

Imperial War Museums,  Inglaterra

 





O que resta de nós, de Virginie Grimaldi

13 11 2025

Leitora à luz meridiana

Maurice Asselin (França 1882-1947)

óleo sobre telam 61 x 50 cm

 

 

Costumo fazer minhas resenhas de livros logo após a leitura como uma maneira de concluir aquele período.  Mas com O que resta de nós de Virginie Grimaldi esperei um bom tempo.  Isso me permitiu ver que o grupo de leituras que o escolheu para o mês de setembro em maioria esmagadora teve opinião totalmente oposta à minha.  Uma reflexão era necessária.  Pretendo assumir minha perspectiva sobre esse livro, mesmo sabendo do aplauso das leitoras do meu grupo para a obra.

Há tempos estou pasma com as obras de origem francesa trazidas para o Brasil.  Quase todas têm o que chamo de frases instagramáveis. Ponderações de fácil transitar como se fossem de profundo saber.  Detalhes que o leitor experiente detecta de longe, como falsa reflexão.   Ora, as participantes do Papalivros não são leitoras iniciantes.  No entanto, aprovaram e acharam que o livro contribuiu para o bem-estar e para soluções difíceis de problemas do  dia a dia.  Eu, que havia dado no máximo duas estrelas de um total de cinco, me senti preocupada: meus padrões estão em total descompasso com leitores experientes.  Afinal  o grupo de leitura tem 22 anos de existência e até 2023 lia 12 livros por ano, passando a 11 livros por ano em 2024.

 

 

 

 

Virginie Grimaldi abusa das figuras de linguagem cujo objetivo é parecer reflexão profunda mas não é mais do que uma frase vestida de sabedoria de efeito.  Tudo para ser facilmente colocado numa postagem das redes sociais.  Cito aqui três dos muitos momentos em que isso acontece. Metáfora seguida de um paradoxo tem claramente o objetivo de ser sublinhada e colocada numa camiseta para aumentar a venda do livro. Eu não sonho, eu fujo. A realidade é minha prisão.  O uso de paradoxo é um cacoete narrativo da autora: O silêncio me ensurdecia mais que o barulho.  Ou ainda essa antítese: Cemitérios são para os mortos. A vida está do outro lado do portão. De novo um ready-made para funções sociais na internet ou para ser impresso na camiseta do momento. 

Além desse vício narrativo temos  nessa publicação um conto de fadas para adultos, que parece ser a norma da produção francesa do momento, pelo menos dos livros publicados por aqui.  Situações que parecem fugir do comum (vejam, parecem fugir) e que acabam bem, apesar de…  Não que eu queira que histórias não acabem bem, mas há uma benfazeja expectativa de que tudo vai dar certo.  Seria uma influência Hollywoodiana ou talvez o resultado de uma sociedade em que todos estão mais ou menos felizes com o que tem, como vivem?  Há muito que pensar nesse campo.

 

 

Virginie Grimaldi

 

 

O enredo é simples: uma senhora viúva aluga quartos de seu apartamento para poder viver com maior conforto financeiro.  Duas pessoas então começam a fazer parte de seu dia a dia.  Cada qual com um problema no passado que os levou a essa solução. Aos poucos os três e os leitores da narrativa vão se enfronhando sobre a vida dos habitantes desse lar, suas dificuldades pregressas e esperanças para o futuro.  Os personagens acabam por formar emocionalmente uma família que supera problemas e todos ficam felizes e satisfeitos. 

Será? Será mesmo que isso é o melhor que a França tem para exportar de ficção?  Ou será que nossos editores sabem que o conto de fadas para jovens adultos vende bem e podem deixar de lado alguma obra mais complexa, que demande mais do leitor?  Não sei.  As leitoras do Papalivros acharam que as soluções encontradas para os problemas de cada personagem foram boas, e todas gostaram da leitura.  Eu achei uma história rasa, simplista.  Mais apropriada para jovens sonhadoras, não muito diferentes das mocinhas que liam os romances da Biblioteca das Moças nos anos 60, 70 do século passado.  Eu, dei duas estrelas.  O grupo chegou a 4,5.  Se essa história é de seu gosto, por favor leia.  Não é do meu. 

 

PS: Ah, sim a desculpa de que é um livro maravilhoso porque conta a história de superação dos personagens… Gente, todos nós estamos engajados em superação.  Viver é isso.  O tema já deu. 





Imagem de leitura: Henrik Lunde

12 11 2025

Lendo, 1912

Henrik Lunde (Noruega, 1879-1935) 

óleo sobre tela





O livro, poesia infantil de Helena Pinto Vieira

7 11 2025

 

 

O livro

 

Helena Pinto Vieira

 

Os Livros eu sei que são

como portas encantadas

que nos levam a lindas terras

onde moram anões e fadas.

 

Lugares longe e tão belos

onde eu não podia ir

mas agora, com essa porta

é só ter cuidado e abrir. 





Leitura por Virginia Woolf

5 11 2025

Emily

Michael J. Downs (Canadá, contemporâneo)

óleo sobre madeira, 51 x 76 cm

 

 

“A real razão continua inescrutável – a leitura nos dá prazer. É um prazer complexo e um prazer difícil; varia de época para época e de livro para livro. Mas ele é suficiente. Na verdade, o prazer é tão grande que não se pode ter dúvidas de que sem ele o mundo seria um lugar muito diferente e muito inferior ao que é. Ler mudou, muda e continuará mudando o mundo.”

 

Virginia Woolf, O sol e o peixe, Autêntica: 2015