Moça lendo próximo à janela
Walther Firle (Alemanha, 1859-1929)
óleo sobre tela, 81 x 64 cm
Sir Somerset A. Gough-Calthorpe, 1918
Philip Connard (Inglaterra, 1875-1968)
óleo
Imperial War Museums, Inglaterra
Leitora à luz meridiana
Maurice Asselin (França 1882-1947)
óleo sobre telam 61 x 50 cm
Costumo fazer minhas resenhas de livros logo após a leitura como uma maneira de concluir aquele período. Mas com O que resta de nós de Virginie Grimaldi esperei um bom tempo. Isso me permitiu ver que o grupo de leituras que o escolheu para o mês de setembro em maioria esmagadora teve opinião totalmente oposta à minha. Uma reflexão era necessária. Pretendo assumir minha perspectiva sobre esse livro, mesmo sabendo do aplauso das leitoras do meu grupo para a obra.
Há tempos estou pasma com as obras de origem francesa trazidas para o Brasil. Quase todas têm o que chamo de frases instagramáveis. Ponderações de fácil transitar como se fossem de profundo saber. Detalhes que o leitor experiente detecta de longe, como falsa reflexão. Ora, as participantes do Papalivros não são leitoras iniciantes. No entanto, aprovaram e acharam que o livro contribuiu para o bem-estar e para soluções difíceis de problemas do dia a dia. Eu, que havia dado no máximo duas estrelas de um total de cinco, me senti preocupada: meus padrões estão em total descompasso com leitores experientes. Afinal o grupo de leitura tem 22 anos de existência e até 2023 lia 12 livros por ano, passando a 11 livros por ano em 2024.
Virginie Grimaldi abusa das figuras de linguagem cujo objetivo é parecer reflexão profunda mas não é mais do que uma frase vestida de sabedoria de efeito. Tudo para ser facilmente colocado numa postagem das redes sociais. Cito aqui três dos muitos momentos em que isso acontece. Metáfora seguida de um paradoxo tem claramente o objetivo de ser sublinhada e colocada numa camiseta para aumentar a venda do livro. Eu não sonho, eu fujo. A realidade é minha prisão. O uso de paradoxo é um cacoete narrativo da autora: O silêncio me ensurdecia mais que o barulho. Ou ainda essa antítese: Cemitérios são para os mortos. A vida está do outro lado do portão. De novo um ready-made para funções sociais na internet ou para ser impresso na camiseta do momento.
Além desse vício narrativo temos nessa publicação um conto de fadas para adultos, que parece ser a norma da produção francesa do momento, pelo menos dos livros publicados por aqui. Situações que parecem fugir do comum (vejam, parecem fugir) e que acabam bem, apesar de… Não que eu queira que histórias não acabem bem, mas há uma benfazeja expectativa de que tudo vai dar certo. Seria uma influência Hollywoodiana ou talvez o resultado de uma sociedade em que todos estão mais ou menos felizes com o que tem, como vivem? Há muito que pensar nesse campo.
O enredo é simples: uma senhora viúva aluga quartos de seu apartamento para poder viver com maior conforto financeiro. Duas pessoas então começam a fazer parte de seu dia a dia. Cada qual com um problema no passado que os levou a essa solução. Aos poucos os três e os leitores da narrativa vão se enfronhando sobre a vida dos habitantes desse lar, suas dificuldades pregressas e esperanças para o futuro. Os personagens acabam por formar emocionalmente uma família que supera problemas e todos ficam felizes e satisfeitos.
Será? Será mesmo que isso é o melhor que a França tem para exportar de ficção? Ou será que nossos editores sabem que o conto de fadas para jovens adultos vende bem e podem deixar de lado alguma obra mais complexa, que demande mais do leitor? Não sei. As leitoras do Papalivros acharam que as soluções encontradas para os problemas de cada personagem foram boas, e todas gostaram da leitura. Eu achei uma história rasa, simplista. Mais apropriada para jovens sonhadoras, não muito diferentes das mocinhas que liam os romances da Biblioteca das Moças nos anos 60, 70 do século passado. Eu, dei duas estrelas. O grupo chegou a 4,5. Se essa história é de seu gosto, por favor leia. Não é do meu.
PS: Ah, sim a desculpa de que é um livro maravilhoso porque conta a história de superação dos personagens… Gente, todos nós estamos engajados em superação. Viver é isso. O tema já deu.
O livro
Helena Pinto Vieira
Os Livros eu sei que são
como portas encantadas
que nos levam a lindas terras
onde moram anões e fadas.
Lugares longe e tão belos
onde eu não podia ir
mas agora, com essa porta
é só ter cuidado e abrir.
Emily
Michael J. Downs (Canadá, contemporâneo)
óleo sobre madeira, 51 x 76 cm
“A real razão continua inescrutável – a leitura nos dá prazer. É um prazer complexo e um prazer difícil; varia de época para época e de livro para livro. Mas ele é suficiente. Na verdade, o prazer é tão grande que não se pode ter dúvidas de que sem ele o mundo seria um lugar muito diferente e muito inferior ao que é. Ler mudou, muda e continuará mudando o mundo.”
Virginia Woolf, O sol e o peixe, Autêntica: 2015
Seu espaço
Alejandra Caballero (Espanha, 1974)
óleo sobre tela, 100 x 100-cm
“O verbo ler, como o verbo amar e o verbo sonhar, não suporta o modo imperativo. Eu aconselho sempre os meus alunos que se um livro os aborrece o abandonem; que não o leiam porque é famoso, que não o leiam porque é moderno, que não o leiam porque é um clássico. A leitura deve ser uma das formas da felicidade e não se pode obrigar ninguém a ser feliz.”
Meio das férias, Alec em casa em férias, 1909
Elizabeth Adela Stanhope Forbes (Canadá-Inglaterra, 1859-1912)
óleo sobre tela, 122 x 97 cm
Quando as crianças estão dormindo, 1880
Thomas Faed (Escócia,1826-1900)
óleo sobre tela
Walker Art Gallery, Liverpool
Retrato de duas crianças numa poltrona, lendo
Margery Mostyn (Inglaterra, 1893-1979)
óleo sobre tela, 76 x 64 cm
Sam Levenson