Mo Lagbara (Sou forte)
Vanessa Endeley (Nigéria/Inglaterra, contemporânea)
Fotografia sobre papel, série limitada a 20, 40 x 61 cm
Mo Lagbara (Sou forte)
Vanessa Endeley (Nigéria/Inglaterra, contemporânea)
Fotografia sobre papel, série limitada a 20, 40 x 61 cm

Bom dia, Dorival Caymmi!
Rio de Janeiro como eu gosto: 20º C e sol. Uma delícia!
Praia de Copacabana, Posto Seis, RJ
Bronze: escultura de Otto Dumovich
Essas são algumas de minhas fotos. Sempre tive como hobby a fotografia. E aqui estão representadas fotos tiradas com diversas câmeras. Depois que meu marido começou a ter dificuldade para andar, minhas aventuras pela cidade diminuíram muito. Em 2023 retomei devagarinho a fotografia. Desta vez usando o celular. Mas ainda prefiro a câmera digital sem o formato do celular. Uma de minhas decisões para 2024 é voltar a fotografar com maior assiduidade. O calor não tem ajudado muito às saídas ao ar livre. Mas o verão não será para sempre. Deste ano, 2024, aqui neste grupo, só mesmo a foto do Café da Casa da Firjan em Botafogo.

As fotografias de Lalla Essaydi andam falando comigo. São fotos cuidadas, abordando de maneira delicada, artística, dentro de tradições tanto da cultura ocidental como da região do Magreb, a condição feminina. Elas têm me perseguido como fantasmas poderosos de vidas passadas.
Comecei com a foto acima, porque ela para mim representa uma completa junção de referências. Primeiro veio a imagem da Grande Odalisca, de Ingres, que vemos abaixo. A tela, da coleção do Museu do Louvre, foi pintada em 1814, para a irmã mais nova de Napoleão Bonaparte, Caroline Bonaparte, Rainha Consorte de Nápoles.
A grande odalisca, 1814
Jean-Auguste-Dominique Ingres (França, 1780-1967)
óleo sobre tela, 91 x 162 cm
LOUVRE
Há aceno óbvio à obra de Ingres que representa justamente a influência francesa na região do Magreb, iniciada no final do século XVIII como parte da Grand Tour das classes mais abastadas da Europa e acentuadas depois das façanhas napoleônicas nas primeiras décadas do século XIX, assim como local para descobertas do exótico tão finamente cultivado pelas sociedades europeias da época.
Ainda que A grande odalisca de Ingres não seja uma obra abertamente sexual, a ideia de uma mulher em um harém, disponível, mesmo com o olhar frio e distante como nesta tela, atiçava a imaginação dos observadores do século XIX, aumentando a curiosidade sensual sobre as possibilidades aventurescas facultativas no Norte da África. A mulher nua, em uma alcova, rodeada por cortinas de seda bordadas, joias de ouro no braço, lenço bordado a ouro no turbã, cabelos adornados por cabuchon de pérolas e pedra preciosa, com o exótico abano de plumas de pavão e cabo de marfim, narguilé em laca vermelha, anunciando o uso do tabaco ou ópio, apoiado em caixa de joias e ainda o cinto com grande fivela coberta de pérolas e pedras preciosas, displicentemente largado por sobre lençóis de linho, tudo isso, esse luxo e a sugestão de encontros fáceis se insinuavam marcando os discretos prazeres de um harém, exploravam a aventura sensorial do observador, desabrochando numa sedutora expectativa de deleite.





Quando comparamos a obra de Lalla Essaydi com a de Ingres, lado a lado, temos finalmente a certeza inabalável da citação visual feita pela fotógrafa marroquina.
Basta olharmos para as posições das cabeças, os turbãs, deixando aparecer, com descuido, um pouco dos cabelos na testa e frontes; os braços, os de apoio à esquerda assim como os que delineiam languidamente as linhas do corpo da mulher no harém, são igualmente paralelos. Os pés nas mesmas posições traem as culturas que representam. Enquanto a obra de Ingres mostra uma mulher com pele lisa, branca sem manchas, como porcelana, até mesmo nos pés, a fotografia de Essaydi exibe os pés com solas cobertas por henna como é de uso típico das mulheres no Magreb, para proteção e bençãos. Ambas as obras também sugerem o aprisionamento inescapável deste lugar, dessa alcova, onde não há espaço para fuga; onde ambas mulheres. colocadas do lado oposto ao espectador, se acham na vitrine, digamos assim, de encontro a uma parede fechada, sem abertura, sem ar para respirar. Na obra de Ingres há um fundo escuro, com algumas nuances tonais. Será madeira, será azulejo, lajota, pedra? Não sabemos. No horizonte da mulher do harém de Essaydi temos um desenho na parede cega. Parecem tijolos, chapisco ou papelão corrugado. De qualquer maneira, ela assim como sua companheira francesa de mais de um século de idade, tampouco tem escapatória.
Enquanto a Grande Odalisca trabalha na imaginação sensual do espectador, a jovem no harém marroquino não apresenta qualquer traço de sedução, de prazer carnal. Muito pelo contrário, ela olha, quase com desconfiança, para quem a observa e seu corpo se mescla com os lençóis, coberto por palavras que poderia usar e com elas distinguir sua existência. Em escrita cursiva as mensagens, o próprio discurso feminino, ultrapassam os limites das cobertas. Elas tomam conta do corpo da mulher, espalhando-se como os males liberados por Pandora, sem esperança de contenção. Elas transformam as costas, os braços, o rosto da odalisca moderna na mesma substância da coberta, insinuando que este corpo é mais um dos objetos presentes no harém.
Mas as associações culturais não param por aí. O corpo da mulher na obra marroquina lembrou-me também do documentário que Ayaan Hirsi Ali e seu sócio o cineasta Theo Van Gogh produziram que levou ao assassinato de Theo e à perseguição de Ayaan Hirsi Ali, escritora do livro Infiel. Neste documentário (que pode ser visto no YouTube) os corpos filmados, também aparecem cobertos de dizeres, que refletem em tudo aquilo que as mulheres pensam e calam, por não terem permissão de se manifestar. São submetidas à vida que levam sem o direito a objetarem.
Portanto, é natural que a belíssima obra de Essaydi tenha me movido e a todos que tiveram oportunidade de observá-la. Não é só uma obra de grande finesse no tratamento da fotografia e uma de revolta quieta, de denúncia, como só uma mulher que cresceu, viveu ou recebeu essa cultura de herança poderia fazer. Vale a pena considerar a obra de Lalla Essaydi. Procure por ela na internet. Você ficará encantado com a beleza e a força de suas imagens.
NOTA:
Este texto é um trabalho em andamento…. parte de futura publicação — Notas da história da arte: observações aleatórias das salas de aula
©Ladyce West, Rio de Janeiro, 2024
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Ladyce West é uma historiadora da arte. Em sua vida acadêmica, antes de abrir uma galeria de arte e antiquário, dedicou-se ao estudo do surrealismo belga. Seu livro: Humor, Wit and Irony in the Works of Belgian Surrealists, baseado em tese da Universidade de Maryland, está em processo de tradução para o português.
Saudando a estrela nascente, 2022
Katerina Belkina (Rússia, contemporânea)
fotografia e pintura digital, 110 x 95 cm
série de 3 impressões mais 2 provas de artista
[Da série Para toda humanidade, 2022-2023]

Nascimento da lua, 2022
Katerina Belkina (Rússia, contemporânea)
fotografia e pintura digital, 110 x 95 cm
série de 3 impressões mais 2 provas de artista
[Da série Para toda humanidade, 2022-2023]

Sussurro, 2019
Katerina Belkina (Rússia, contemporânea)
fotografia e pintura digital, 140 x 185 cm
série de 3 impressões mais 1 prova de artista
[Da série Sonâmbulos, 2019]

Perdido e achado, 2019
Katerina Belkina (Rússia, contemporânea)
fotografia e pintura digital, 130 x 130 cm
série de 3 impressões mais 1 prova de artista
[Da série Sonâmbulos, 2019]
Onze milimetros por segundo, 2018
Katerina Belkina (Rússia, contemporânea)
fotografia e pintura digital, 150 x 150 cm
série de 3 impressões mais 1 prova de artista
[Da série Apartamentos de dois quartos, 2019]
Sem espaço, 2019
Katerina Belkina (Rússia, contemporânea)
fotografia e pintura digital, 150 x 150 cm
série de 3 impressões mais 1 prova de artista
[Da série Apartamentos de dois quartos, 2019]
Desjejum cedo, 2015
Katerina Belkina (Rússia, contemporânea)
fotografia e pintura digital, 138 x 180 cm
série de 2 impressões mais 1 prova de artista
[Da série Repastos]
O jantar, 2016
Katerina Belkina (Rússia, contemporânea)
fotografia e pintura digital, 138 x 180 cm
série de 2 impressões mais 1 prova de artista
[Da série Repastos]
Fiz questão de montar a árvore de Natal, mesmo que não haja comemoração alguma de seu aniversário. Para Harry, Natal precisava de árvore. Mesmo quando passamos a data em viagem – Grécia, Alemanha e Espanha -, em nossos aposentos nos hotéis sempre havia alguma decoração natalina, trazida conosco ou comprada no local. Certa vez nos mudamos de endereço nessa época e Harry saiu às pressas, dia 24, para comprar nossa árvore, como é costume nos Estados Unidos, para que o dia 25 contasse com o esplendor merecido. A árvore era um pouco capenga e calva de um lado, mas pusemos num canto da sala e saiu tudo perfeito. Não éramos religiosos, mas crescemos dentro do cristianismo, eu católica, ele presbiteriano, e mantivemos os rituais das principais comemorações cristãs. Seria impensável passar em branco este primeiro Natal sem ele. Estou feliz por ter enfeitado a casa como de costume. Harry está presente, hoje aqui comigo.
O tema das minhas meditações nesses dias tem sido sincronicidade, mão do destino, sorte, coincidência. Porque tudo conspirava para que jamais nos conhecêssemos e para nosso encontro não dar certo desde então. Não tínhamos amigos em comum, não fomos apresentados um ao outro, nos apresentamos. Morávamos em cidades diferentes, em estados diferentes, profissões diferentes. Experiências de vida diversas: eu, nascida, crescida no Rio de Janeiro; ele americano, crescido inicialmente na Carolina do Norte, depois dos quinze anos estabelecido na Pensilvânia, em colégio interno, The Hill School. Em comum: ciências humanas.
Naquela ocasião Harry passava quatro dias no Distrito de Columbia, pesquisando fontes de inspiração para o escritor Nathaniel Hawthorne, na Biblioteca do Congresso (uma das maiores, se não a maior dos EUA). Eu acabara de defender minha tese de mestrado e pensava em fazer o PhD em história da arte. Como estudava na Universidade de Maryland, em College Park, um subúrbio de Washington DC, usava a Biblioteca do Congresso regularmente, a uma pequena viagem de metrô da porta da minha casa.
Minhas manhãs e muitas tardes se passaram no local. Eu estava familiarizada com os pesquisadores regulares, com os quais era comum tomar café ou trocar ideias nas pausas da pesquisa. Portanto, quando Harry entrou no salão Thomas Jefferson, eu sabia que era alguém novo por ali. Pensei tratar-se de algum membro do staff de um senador ou deputado federal, comum por lá, porque estava vestido de maneira mais formal do que pesquisadores: gravata a meio mastro, paletó de tweed e capa London Fog (pois chovia naquela segunda-feira em DC). Além disso, entrando pela porta secundária, ele parou para se localizar, o porte seguro, confiante e calmo, que mais tarde eu viria a descobrir ser típico dos alunos do colégio interno em que ele estudou. Estas escolas preparam o jovem, naquela época só rapazes, não apenas para o sucesso acadêmico, mas também para assumirem seus destinos profissionais e sociais. Linguagem corporal é importante. Harry entrou na biblioteca como se a ela pertencesse, como a comandasse, mesmo sendo aquela sua primeira vez lá.
Impossível descrever a falta que ele faz. Sua voz, suas ideias, seu toque, os olhos sempre carregados de paixão pela vida, pelos textos. Aprendi muito com ele. Foi uma vida a dois inesperada, incomparavelmente feliz. Hoje é dia de honrá-la com especial alegria e gratidão.
Happy birthday, love.
O grupo de leitura PAPALIVROS comemora sua 19ª festa de fim de ano… Com direito a espumantes, festa encomendada, vista para o mar, e votação dos melhores do ano! VIVA! O grupo fará 20 anos de atividades ininterruptas em abril de 2023!

Samambaias, foto: Ladyce West
Hélio Pellegrino
As samambaias
debruçadas no espaço
esplendem seu silêncio.
Que farta verdade
em seu verde farfalha!
Rio, 2/10/1980
Em: Minérios Domados, poesia reunida, Hélio Pellegrino, Rio de Janeiro, Rocco: 1993, p. 47.

Barbete vermelho e amarelo do Kênia( Trachyphonus erythrocephalus ) é um pássaro encontrado na África oriental. Sua plumas parecem fazer desenho de bolinhas brancas sobre fundo negro, papo amarelo e cabeça vermelha. Machos e fêmeas têm o mesmo desenho, mas nas fêmeas as cores são menos fortes. Eles se alimentam de sementes, frutas e invertebrados.