Auto-retrato, 1965
Flávio de Carvalho (Brasil, 1899-1973)
óleo sobre tela, 90 cm x 67cm
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Auto-retrato, 1965
Flávio de Carvalho (Brasil, 1899-1973)
óleo sobre tela, 90 cm x 67cm
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Pescaria deliciosa, 1984
Azor Feres (Brasil, 1911-2005)
óleo sovre tela, 50 x 70 cm
“Domingo é dia de pescaria – mas, evidentemente, só para quem sabe pescar. E nem sempre o pescador, armado de anzol, e tendo ao lado uma latinha com iscas, pode desempenhar seu ofício em isolamento semelhante ao daquele colega que, sentado a uma mesa, se dedica a capturar, no improfundável rio da vida, os fugidios peixes do espírito.
O curioso aproxima-se do pescador acomodado sobre as pedras, procura inteirar-se do seu sucesso, faz-lhe perguntas sobre o mar que, cativo de uma enseada, é apenas prateado pedaço de si mesmo, como uma pétala é flor. O homem que se desfatigara no silêncio e na espera sente-se, por sua vez, como um peixe que no fundo das águas, resiste à investida de um anzol dotado de imperdoável engodo. Desejaria não ser agarrado, naquele momento, por voz nenhuma, não beber esse elixir de curiosidade, tédio e convivência que as criaturas servem umas às outras, quando conversam. Diz que o mar está parco, e mostra-lhe o que angariou: uma cocoroca, alguma finas piabinhas cor-de-chumbo, dois gordos peixes-porcos que agonizam estatelados dentro do vasilhame.
E, gratuitamente, ou porque se sentisse na obrigação de dar um esclarecimento suplementar, ou porque não desejasse que o interlocutor o comesse por estreante ou desafortunado, ajuntou:
— Domingo passado, o mar estava melhor.”
Em: Lêdo Ivo, seleção do autor, prefácio de Gilberto Mendonça Teles, São Paulo, Global: 2004, (Coleção Melhores Crônicas- direção de Edla van Steen, “Viagem em torno de uma cocoroca“, p. 133
NOTA: Lêdo Ivo (1924-2012) foi não só um grande poeta, mas um excelente cronista, e também romancista. Precisa ser mais lembrado. Uma das coisas que me encanta sobremaneira na sua prosa é a inteligente criação de palavras que eu imediatamente adiciono ao meu dicionário digital. Além disso aprecio a expansão dos significados que ele consegue dar a palavras já existentes, Nesses três parágrafos que introduzem a crônica “Viagem em torno de uma cocoroca“, vejamos as palavra inventadas: improfundável, desfatigara; a expansão do verbo comer [que o interlocutor o comesse por estreante], parco [Diz que o mar está parco], fora as maravilhosas figuras de linguagem [se dedica a capturar, no improfundável rio da vida, os fugidios peixes do espírito.]; [um anzol dotado de imperdoável engodo] engodo no lugar de isca. Seus textos são assim, riquíssimos de viradas de significados, inesperadamente poéticos. Vale lê-lo.
Camponês com carros de bois
Durval Pereira (Brasil, 1917-1984)
óleo sobre tela, 60 X 120 cm
Carro de bois, 1930
Oscar Pereira da Silva (Brasil, 1867-1939)
óleo sobre tela, 35 x 47 cm
Copos de leite, 1984
Carlos Scliar (Brasil, 1920-2001)
Vinil colado e encerado sobre tela, 56 x 37 cm
Jarro com flores, 1952
Arcangelo Ianelli (Brasil, 1922-2009)
óleo sobre tela, 72 x 60 cm
Casamento na roça
Fulvio Pennacchi (Itália-Brasil, 1905-1992)
“A moça ficou noiva do primo — foi há tanto tempo. Casamento, depois de festa de igreja, era a maior festa, na cidade casmurra, de ferro e tédio. O noivo seguia para a casa da noiva, à frente de um cortejo. Cavalheiros e damas aos pares, de braço dado, em fila, subindo e descendo, descendo e subindo ruas ladeirentas. Meninos na retaguarda, é claro, naquele tempo criança não tinha vez. Solenidade de procissão, sem padre e cantoria. Janelas ficavam mais abertas para espiar. Só uma casa se mantinha rigorosamente alheia, como vazia. É que morava lá a antiga namorada do noivo – o gênio dos dois não combinava, tinham chegado a compromisso, logo desfeito. Murmurava-se que à passagem do cortejo em frente àquela casa, o noivo seria agravado. Não houve nada: silêncio, portas e janelas cerradas, apenas. E o cortejo seguia brilhante, levando o noivo filho de “coronel” fazendeiro, gente de muita circunstância, rumo à casa do doutor juiz, gente de igual altura. A casa era “o sobrado”, assim a chamavam por sua imponência de massa e requinte: escadaria de pedra em dois lanços, amplo frontispício abrindo em sacadas, sob a cimalha a estatueta de louça-da-china – espetáculo.”
Em: Caminhos de João Brandão, Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro, José Olympio: 1976, 2ª edição, “Entre a orquídea e o presépio” p. 98
Retrato de mulher com gato, c. 1890
Nikolai Yaroshenko (Ucrânia, 1846-1898)
óleo sobre tela, 79 x 81 cm
Igreja, 1940
José Marques Campão (Brasil, 1892-1949)
aquarela sobre papel, 22 x 33,5 cm
Afonso Lopes Vieira
Chegaram de longe
Vindas na aragem.
Imagens débeis
De bronzes finos…
E, cristalinas,
Pousam na aragem,
Na aragem vaga,
Flébeis e finas,
Como essas penas
No ar, serenas,
Que o ar afaga
Só de ampará-las
E suspende-las
Expiram longe,
Idas na aragem,
Imagens débeis
De bronzes finos,
De coisas flébeis…
Em: O pão e as rosas, Afonso Lopes Vieira, 1908
Lagoa do Boqueirão da Ajuda, hoje Largo da Lapa e Aqueduto de Santa Teresa, século XVIII
Leandro Joaquim (Brasil,c.1738- 1798)
A carta de amor, 1915
Nicolae Vermont (Romênia,1866-1932)
óleo sobre tela colada em papelão, 47 x 26 cm