Poeta no museu: Raquel Naveira

8 12 2022

 

 

Samson_and_Delilah_by_RubensSansão e Dalila, 1610

Peter Paul Rubens (Flandres, 1577 — 1640)

óleo sobre madeira,  185 x 205 cm

National Gallery, Londres

 

Dalila
(poema inspirado no quadro “Sansão e Dalila”, de Rubens)

 

Raquel Naveira

 

Dalila reclinou-se sobre o divã,

Entre sedas e cetins,

O vestido de veludo vermelho rasgou-se,

Os seios volumosos,

Maçãs douradas,

Brilharam no escuro,

Sansão tocou-os como se fossem lâmpadas;

No alto,

Num nicho na parede,

A deusa Vênus

Observava a cena.

 

Cheia de prazer,

Toda lisa,

Cor de carne,

Cor de sangue,

Cálida Dalila.

 

Tentara prender Sansão

Com cordas de nervos,

Frescas e úmidas,

Com fios urdidos no seu tear de intrigas,

E agora,

Ei-lo ali,

Adormecido,

O torso curvado de paixão

Sobre seus joelhos.

 

Dalila sorri,

Segura as rédeas,

A crina,

Mechas de cabelo

Do homem que ela domina.

 

Afia a tesoura,

Corta a corrente de força

Numa estranha cirurgia,

Fura-lhe os olhos

Enquanto ele geme,

Cego de desejo.

 

Em: Casa e Castelo, Raquel Naveira, São Paulo, Escrituras: 2002, p.172-73

 

 

 


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