Sansão e Dalila, 1610
Peter Paul Rubens (Flandres, 1577 — 1640)
óleo sobre madeira, 185 x 205 cm
National Gallery, Londres
Dalila
(poema inspirado no quadro “Sansão e Dalila”, de Rubens)
Raquel Naveira
Dalila reclinou-se sobre o divã,
Entre sedas e cetins,
O vestido de veludo vermelho rasgou-se,
Os seios volumosos,
Maçãs douradas,
Brilharam no escuro,
Sansão tocou-os como se fossem lâmpadas;
No alto,
Num nicho na parede,
A deusa Vênus
Observava a cena.
Cheia de prazer,
Toda lisa,
Cor de carne,
Cor de sangue,
Cálida Dalila.
Tentara prender Sansão
Com cordas de nervos,
Frescas e úmidas,
Com fios urdidos no seu tear de intrigas,
E agora,
Ei-lo ali,
Adormecido,
O torso curvado de paixão
Sobre seus joelhos.
Dalila sorri,
Segura as rédeas,
A crina,
Mechas de cabelo
Do homem que ela domina.
Afia a tesoura,
Corta a corrente de força
Numa estranha cirurgia,
Fura-lhe os olhos
Enquanto ele geme,
Cego de desejo.
Em: Casa e Castelo, Raquel Naveira, São Paulo, Escrituras: 2002, p.172-73