Leituras de 2022: A Biblioteca da Meia-Noite, Matt Haig, resenha

9 02 2022

Viviane Villalon(Mans, França)

Votado Melhor Livro de Ficção em 2020, pelos leitores do site Goodreads, com mais de dois milhões de volumes vendidos no mundo, era inevitável que dois de meus grupos de leitura se interessassem por A biblioteca da meia-noite, do inglês Matt Haig, traduzido no Brasil por Adriana Fidalgo.  Sempre tento colocar o livro que leio no contexto para que foi criado: que leitores esse autor desejou alcançar?  Teve sucesso nesse objetivo?  A ambição do autor é ser conhecido como um clássico?  Ou sua intenção é uma diversão? Estas perguntas guiam minha perspectiva na resenha.

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A biblioteca da meia-noite começa com o desencanto de Nora Seed que,  aos trinta e cinco anos, se sente sem perspectivas na vida.  Acredita que nada no correr de sua existência deu certo, que suas decisões sabotaram qualquer potencial de sucesso em diversos campos de ação.  O desapontamento consigo mesma domina suas ações e pensamentos. Eventualmente, Nora Seed tem oportunidade de conhecer algumas de suas vidas paralelas, caso tivesse feito diferentes escolhas.  Ainda que este tema tenha sido amplamente explorado na ficção contemporânea, como na refinada prosa de Kate Atkinson, O fio da vida; na thrilling ficção científica de Blake Crouch em Matéria escura, e mais recentemente, na obra prima, marco na literatura contemporânea,  4321 de Paul Auster, (esses foram os que li), ainda assim, esse início de livro me lembrou bastante o filme A felicidade não se compra, de 1947.  Talvez tenha sido a semelhança de atitudes dos principais personagens de filme e livro. A lembrança de Jim Stewart como George Bailey se instalou em minha mente principalmente quando refletia semelhantes surpresas no correr da narrativa entre Nora Seed, deste livro e George Bailey, protagonista do filme de Frank Capra.

Não consegui tampouco esquecer o tom de aconselhamento; a preocupação de mostrar a importância de seguirmos nossos sonhos, confiando no potencial inerente de cada um. Didático?  Autoajuda?  Não sei bem classificar.  Mais sofisticado em linguagem e trama que muitas parábolas contemporâneas criadas por autores com Paulo Coelho, Robin S. Sharma, Rhonda Byrne, este livro tem um pouco de fantasia, de referências à física quântica, muitos diálogos e reflexões.  Trata de problemas existenciais e da procura do amor.  Ainda que abertamente a proposta do livro não seja um guia de autoajuda, há a distinta preferência por frases de efeito, que nesta obra recaem nas inúmeras citações de versos e máximas de Henry David Thoreau, [o escritor favorito de Nora Seed], Bertrand Russell, Sylvia Plath e outros. 

Ela se deu conta de que não importa o quão sincera a pessoa seja na vida, os outros só enxergam a verdade se estiver próxima suficiente da realidade deles.  Como Thoreau escreveu: ‘Não é aquilo para o que você olha que importa, mas o que você vê.‘” [257-8]

Matt Haig

A biblioteca da meia-noite é excelente entretenimento.  É um texto que nos convida a ponderar sobre nossas escolhas. Portanto tem a habilidade de ficar com o leitor por algum tempo depois da leitura.  Como muitos dos livros publicados desde a virada do século usa a popularização da Teoria das Cordas, para explorar a possibilidade de existências paralelas.  Pode ser visto também como um livro de aconselhamento, que leva o leitor a se sentir confortável com sua vida e suas escolhas. 

 

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.





Hoje é dia de feira: frutas e legumes frescos!

9 02 2022

Composição com frutas da série ‘Oferendas’, 2007

José Guyer Salles (Brasil, 1942)

aquarela sobre papel, 55 x 65 cm