Figura
Darel Valença (Brasil, 1924-2017)
Desenho, 54 x 25 cm
Quando o tempo no vento se eterniza,
a estranheza do mundo é mais precisa.
Estrangeiro
Reynaldo Valinho Alvarez
Sou estrangeiro em todos os lugares.
Inútil procurar-te, aldeia minha.
Subo de escada todos os andares,
com a fria espada a acutilar-me a espinha.
Não sou daqui nem sou de lá. Perdi-me
na indecisão de becos e de esquinas.
Como o pardal diante do gato, vi-me
apanhado por garras assassinas.
Os mapas pendurados nas paredes
riem de mim como insensíveis redes,
rasgando os peixes que já não fogem mais.
Prenderam-me entre muros que abomino
e toda noite entoam-me seu hino
de insultos, gritos e ódios triunfais.
Em: A faca pelo fio: poemas reunidos, Reynaldo Valinho Alvarez, Rio de Janeiro, Imago: 1999, p.61
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