Retrato de homem com vista de Sint-Michielsabdij, na Antuérpia, 1520
Albrecht Dürer (Alemanha, 1471-1528)
Ponta de prata sobre papel, 13 x 19 cm
Musée Condé, Chantilly
No dia 3 de agosto de 1520 chegava à Antuérpia Albrecht Dürer, acompanhado de sua esposa e de uma empregada. Ele viajava para confirmar com Carlos V a pensão que lhe havia sido dada. A essa altura Dürer já era muito conhecido na Europa em grande parte por causa das extraordinárias xilogravuras que produzira.
Hoje, preparando notas para uma futura aula, tive o prazer de recordar algumas passagens do diário que o pintor manteve enquanto viajava, que não só nos deixa entrever a vida no início do século XVI na Antuérpia, assim como o respeito com que o pintor era tratado por diversos dignitários nas cidades por onde passou.
Não sei se o diário de Albrecht Dürer já foi traduzido para o português. Uma breve pesquisa na internet me deu a impressão de que não foi. Vou traduzir para vocês do inglês uma passagem para que tenhamos a visão de um pouquinho do gosto da época
“Domingo, era dia de Santo Osvaldo, os pintores me convidaram para o salão da sua guilda, a mim e à minha esposa e empregada. Todo o serviço era de prata e havia outros ornamentos suntuosos e carnes preciosas. Todas as esposas também estavam lá. E à medida que fui levado à mesa todos os convidados ficaram em pé em ambos os lados da mesa como se eu fosse um grande senhor. E entre eles havia homens de grande estatura social, que se comportaram com muito respeito e grande cortesia para comigo, e prometeram fazer todo o possível em seu poder me satisfazer. E enquanto eu lá estava sentado com toda essa honra, o Síndico [Adrian Horebouts] de Antuérpia, veio com dois serventes e me presentearam com quatro recipientes de vinho em nome dos conselheiros da cidade de Antuérpia, e pediram para que ele dissesse que eles queriam dessa forma mostrar o respeito que tinham por mim e assegurar sua boa vontade. Pelo qual eu lhes retornei o meu agradecimento, modestamente oferecendo os meus serviços. Depois disso veio Mestre Peter [Frans], o marceneiro da cidade e me presenteou com dois recipientes de vinho e com a oferta de seus serviços. Então, depois de termos nos divertido por muito tempo até tarde, eles nos acompanharam até a casa com lanternas, com muita honra. E me rogaram para que eu estivesse sempre confiante da boa vontade deles, e prometeram que qualquer coisa que eu quisesse fazer, eles estariam prontos para ajudar. Então eu lhes agradeci e fui dormir.”
Travel Diary, Dürer, em W.M. Conway, Literary Remains of Albrecht Dürer (Cambridge; University Press, 1889): text slightly revised by J.B.R.
Encontrado em The Portable Renaissance Reader, editado por James Bruce Ross e Mary Martin McLaughlin, New York, The Viking Press: 1958, p. 227-28






