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Paisagem de subúrbio, 1930
Emiliano Di Cavalcanti (Brasil, 1897-1976)
óleo sobre tela
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Subúrbio
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Martins D’Alvarez
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Subúrbio…
Fim da cidade!…
Em frente fica a Estação,
ostentando na fachada
a tabuleta pintada
com nome e quilometragem
do rincão.
Por trás da estação,
há casas
e mato
e casas
e mato…
Ruas tortas, mutiladas…
Praças que se arrependeram…
Lá no alto, a capela branca…
E mato, cercas, buracos,
alguns becos sem destino;
boteco da Dona Guida…
Tudo cheio de menino.
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De vez em quando,
bufando,
passa o trem pela estação.
Esse trem para o subúrbio
representa o coração,
a vida, no movimento
dos que vêm
e dos que vão.
Mas, o subúrbio é cardíaco,
o trem só anda atrasado,
daí o pobre coitado
sofrer da circulação.
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De madrugada e de noite
é que o subúrbio desperta,
o casario se alegra,
não se vê rua deserta,
chove gente em toda parte,
ruge-ruge…
Vaivém.
E há quem acorde bem cedo
pra na birosca do Alfredo
castigar um mata-bicho
antes de tomar o trem.
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Durante o dia,
marasmo,
pasmaceira,
fuxicada,
da turma desocupada
que não se foi pro batente.
Mexericos de comadres
que exibem secretamente
as nódoas da roupa-suja
guardadas por muita gente.
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Só nos domingos de folga,
o subúrbio pega fogo…
Há de tudo para todos:
missa pra quem é de missa,
jogo pra quem é de jogo…
Há batida com feijoada,
dança, namoro, pelada,
briga, tragédia, conflito
que leva gente ao distrito
e, às vezes, não leva nada.
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Subúrbio, fim de caminho…
Começo de outra jornada!
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Em: Poesia do cotidiano, Martins D’Alvarez, Rio de Janeiro, Edições Clã: 1977.