A flor e a nuvem, fábula de Pierre Lachambaudie

11 06 2012

Flor seca, ilustração de Justin Francavilla.

A flor e a chuva

Lachambaudie

Reina o estio. No vale

Languida flor emurchece,

E chama, p’ra socorrê-la,

Uma nuvem, que aparece.

Tu que do Aquilão[*] nas asas

Vais pelo espaço a correr,

Vê que de calor me abraso,

Vem, não me deixes morrer.

Com essas águas que levas,

A minha dor refrigera.

— “Tenho missão mais sagrada,

Agora não posso — espera“.

Disse e foi-se!.. De abrasada

Cai e espira a flor tão bela:

Volta a nuvem e despeja

Quanta água tinha sobre ela.

Era tarde!

[*] Aquilão é o vento do norte.

Em: O Espelho, revista semanal de literatura, modas, indústria e artes, Rio de Janeiro, 1859.

NOTAS:

1 – Não sei de quem é o texto em português.  A publicação de 1859, não traz autoria.

2 – Lachambaudie (1807-1872) foi um escritor, poeta, cancioneiro francês.   Trabalhou como contador a maior parte de sua vida.  Foi um escritor de fábulas, na tradição de seu conterrâneo La Fontaine, em verso. Dentre outras publicações de poesia, distingui-se sobretudo seu livro, Fábulas de Pierre Lachambeaudie, de 1844.

Frequentemente quando posto uma fábula sem a famosa “moral” no final, alguém inevitavelmente me pergunta pela moral.  Não é um obrigatoriedade de todas as fábulas apresentarem uma moral, pré-estabelecida pelo autor.  Muitas vezes, talvez até mais do que se imagina, a moral é para ser entendida pelo leitor.  Aqui nesse caso, cabe o dito popular:

Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje.


Ações

Information

Deixe um comentário