Flores, 1961
Agostinho Batista de Freitas ( Brasil, 1927-1997)
óleo sobre tela, 50 x 70 cm
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Vida de flor
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Fagundes Varela
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Por que vergas-me a fronde sobre a terra,
Diz a flor da colina ao manso vento,
SE apenas às manhãs o doce orvalho
Hei gozado um momento?
—
Tímida ainda, nas folhagens verdes
Abro a corola à quietação das noites,
Ergo-me bela, me rebaixas triste
Com teus feros açoites!
–
Oh! Deixa-me crescer, lançar perfumes,
Vicejar das estrelas à magia,
Que minha vida pálida se encerra
No espaço de um dia!
–
Mas o vento agitava sem piedade
A fronte virgem da formosa flor,
Que pouco a pouco se tingia, triste,
De mórbido palor.
–
Não vês, ó brisa? lacerada, murcha,
Tão cedo ainda vou pendendo ao chão,
E em breve tempo esfolharei já morta
Sem chegar ao verão?
–
Tem piedade de mim! Deixa-me ao menos
Desfrutar um momento de prazer,
Pois que é meu fado despontar n’aurora
E ao crepúsc’lo morrer!…
–
Brutal amante não lhe ouviu as queixas,
Nem às suas dores atenção prestou,
E a flor mimosa, retraindo as pétalas,
Na tige se inclinou.
–
Surgiu n’aurora, não chegou à tarde,
Teve um momento de existência só!
A noite veio, procurou por ela,
Mas a encontrou no pó.
–
Ouviste, ó virgem, a legenda triste
Da flor do outeiro e seu funesto fim?
Irmã das flores à mulher, às vezes,
Também sucede assim.
–
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São Paulo, 1861
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Luís Nicolau Fagundes Varella, (RJ 1841 – RJ 1871) ou Fagundes Varela, poeta brasileiro e um dos patronos na Academia Brasileira de Letras.
Obras:
- Noturnas – 1861
- Vozes da América – 1864
- Pendão Auri-verde – poemas patrióticos, acerca da Questão Christie.
- Cantos e Fantasias – 1865
- Cantos Meridionais – 1869
- Cantos do Ermo e da Cidade – 1869
- Anchieta ou O Evangelho nas Selvas – 1875 (publicação póstuma)
- Diário de Lázaro – 1880








