Um Nobel mais do que merecido: Mário Vargas Llosa

7 10 2010

Marie-Jose com vestido amarelo, 1950

Henri Matisse, ( França, 1869-1954)

Aquatinta

 

Raramente um prêmio Nobel de literatura é dado a algum escritor cuja obra eu conheça.  E se o conheço é por um único livro.  Recebi então com surpresa e grande prazer a notícia de que Mario Vargas Llosa, o grande escritor peruano, recebeu hoje o Prêmio Nobel de Literatura.  Dele conheço muitos livros.  A impressão que tenho é que suas obras me acompanham desde sempre e reconheço a importância de sua palavra escrita não só para o meu próprio desenvolvimento como leitora, mas para aquele de uma inteira geração de leitores latino americanos.  O que faz Mário Vargas Llosa maior do que seus livros, maior do que sua constante preocupação com sua terra natal, com o Peru e com a estabilidade dos princípios democráticos na América Latina, é a sua permanente preocupação com o ser humano, com suas emoções e principalmente com as paixões humanas.  Sem paixão, é a mensagem sua obra, não somos nada; a vida de nada serve.  Quer nos seus romances de fundo político, quer naqueles que se caracterizam por explorar a estrutura emocional de seus personagens, Vargas Llosa demonstrou do início de sua carreira até hoje um enorme fôlego criativo.

Meu primeiro contato com Vargas Llosa foi com Tia Júlia e o Escrevinhador, uma obra que me fez rir e muito, mesmo quando a lia em lugares públicos, como no ônibus ou no metrô.  Sou, por mim mesma responsável pela compra de pelo menos 11 volumes desse romance que dei de presente através dos anos, a cada re-edição, até mesmo na sua versão em inglês, para amigos na época em que morei nos Estados Unidos.

Depois vieram Conversa na Catedral – um deslumbrante diálogo político com o período de uma ditadura no Perú, nos  anos 50:  um livro que me marcou muito, com sua acidez, com sua irreverência.   Nas minhas leituras, que não seguem necessariamente a ordem de publicação, seguiu-se quase imediatamente  Quem matou Palomino Molero?  Um quase-mistério que continua com a mesma preocupação de descortinar os meios pelos quais uma ditadura permanece no poder. 

 Pantaleão e as visitadoras veio a seguir.  Apesar de sua popularidade, este não é o meu favorito.  Mas sem dúvida é uma obra repleta de ironia e humor e mostra as atitudes e os desmandos — enquanto abre os nossos olhos — das gastanças do poder público na América Latina e a freqüência com que projetos governamentais estão fadados a meter os pés pelas mãos.  Mais tarde fui de encontro à ditadura da República Dominicana lendo o pequeno romance, um grande conto, uma novela talvez, chamado A festa do bode.   Depois disso descansei por alguns anos da leitura de Vargas Llosa, só para voltar a me apaixonar por sua escrita, de novo, em 2006 com Travessuras da menina má

 Hoje, ao descobrir que Vargas Llosa – este grande escritor – foi premiado com o Nobel, vibrei.  Este incansável defensor dos direitos humanos, que tem como os grandes humanistas o homem como medida exata de seus trabalhos, nunca se acanhou de lutar com unhas e dentes pelos valores democráticos em seu país e fora dele.   Agora, sinto-me tentada a ler suas outras obras, aquelas com as quais ainda não consegui me deliciar.  É um compromisso pessoal.    Devemos todos nos orgulhar de tão justo prêmio a um infatigável batalhador pela justiça social.


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Uma resposta

29 07 2022
Avatar de luciana braga luciana braga

Lendo seu comentário sobre Tia Julia e o escrevinhador me deu muita vontade de ler este livro que consegui comprar num sebo. Estou animada!

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