Romance de Margarida e Donald, ilustração de Walt Disney.
AS LETRAS
Fagundes Varella
Na tênue casca de verde arbusto
Gravei teu nome, depois parti;
Foram-se os anos, foram-se os meses,
Foram-se os dias, acho-me aqui.
Mas ai! o arbusto se fez tão alto,
Teu nome erguendo, que mais não vi!
E nessas letras que aos céus subiam,
— Meus belos sonhos de amor perdi.
—
Luiz Nicolau Fagundes Varella, (RJ 1841 – RJ 1871) poeta; um dos patronos na Academia Brasileira de Letras.
Obras:
Noturnas – 1861
Ruínas da Glória, 1861
Pendão Auri-verde – poemas patrióticos, acerca da Questão Christie.
Vozes da América – 1864
Cantos e Fantasias – 1865
Cantos Meridionais – 1869
Cantos do Ermo e da Cidade – 1869
Anchieta ou O Evangelho nas Selvas – 1875 (publicação póstuma)
Cantos Religiosos – 1878 (publicação póstuma)
Diário de Lázaro – 1880 (publicação póstuma)







Muito lindo ,gostei agora sei quem foi Fagundes Varella , um grande poeta…
amei esse poema foi muito bem inspirado…
Que bom, Marina, que você gostou. Achei muito bonitinhho também. Volte sempre.
É sempre bom aprendermos cada dia mais, saber que Fagundes Varella foi um grande poeta e que suas poesias são lindas …
Quando menino ,ao aprender as primeiras letras,com dificuldade soletrava
os poemas de Fagundes Varella,na minha pacata morada nos recantos da fazenda limoeiro,era meu primeiro livro,por isto até hoje admiro suas obras.
Aaaaamei seu site cultural! adicionei aos meus favoritos, vou citá-lo como seguidora quando eu fizer o meu, já tenho um montão de textos e imagens lindos, tô pensando em chamar de …”ah! não devo, não posso dizer!”…
Lindo seu blog! guardei-o!
Vibrante no mesmo diapasão, Altair
Altair, muito obrigada. É uma honra estar entre os seus favoritos, principalmente porque há tantos blogs, mas tantos blogs.. que a competição pela atenção do internauta é muito grande. Um abraço, Ladyce
eeei! escreve “telha de vidro”-Rachel de Queiroz
Telha de Vidro
Rachel de Queiroz
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha…
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o seu bisavô…
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
Mergulhada na tristura
De sua treva e de sua única portinha…
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro…
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade…
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que ao meio dia aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia…
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa…
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! E era tão feia!
— você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão…
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida…
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
*
Prá você! Já tõ adorando tudo isso!
Senhora Ceará, prá você um soneto de Paulo Mendes Campos copiado a mão de uma revista Manchete que perdeu-se nos caminhos
NA GROTA
Paulo Mendes Campos
Tinha verdejando bem uma muda de pau-brasil patrioticamente conquistada no Ministério da Agricultura
Tinha um príncipe-negro iluminando o jardim com a luz de terras profundas de Minas Gerais
Tinha uma buganvilha-brigue já firmada para a vida alastrando-se sobre a pedra da cozinha
Tinha uma cozinha
Tinha onze – horas róseas e branquinhas compondo os quadros de Renoir pela margem do caminho
Tinha dinheiro-em-penca reluzindo no orvalho das manhãs
Tinha manhãs
Tinha uma quaresmeira de duas cores à beira do riacho
Tinha sempre florindo aquela dadivosa Maria-sem-vergonha
E tinha uma limeira apanhada no mato que tinha vencido a luta contra a morte
Tinha rosas amarelas, outras brancas e outras vermelhas, só não tinha a ainda não inventada rosa azul
Tinha as mesmas delicadas balsaminas que Collette cultivava e amava no deserto da idade avançada
Tinha pimenteiras nascentes
E até uma calha no telhado para coletar água da chuva
Tinha um telhado
Tinha latas de cerveja geladinhas esperando a sede dos finais de semana
Tinha um aparelho de tostar fatias e um aparelho de fondue com aquele fulgor bonito e cigano do cobre batido
Tinha Maria Aparecida
E a renda verde da hera subindo nos muros da frente
Tinha pinga de Paracatu
E queijo de Minas pra botar no pão
Tinha amigos
De Minas, do Rio e beija-flores que poderiam ter vindo de qualquer canto das Américas
Tinha dois melros, cinco canários, dois do reino e um bicudo
E até o bichano independente e ostensivo miando em cima do telhado
Tinha um telhado
E tinha uma calha pra coletar água da chuva
Tinha onze filhotes das duas cadelas vira-latas, todos uma graça
Tinha livros… Inclusive um manual do jardineiro
Tinha na horta salsa e cebolinha e mostarda
Tinha o cheiro do almoço preparando na cozinha
Tinha uma cozinha
Tinha uma rede amarrada numa árvore que tanto podia ser gambá-melado como jacarandá-miúdo
E tinha gansos e galinhas d’Angola
Tinha aipim e macaxeira e batata doce e caqui e mexerica
Tinha um frio que dava para a desculpa de acender a lareira
Tinha vinho nacional bem bonzinho
Tinha barulhinho das águas das nascentes
E o rumor das águas da cachoeira
Tinha água na caixa de sair pelo ladrão
Tinha antúrios, zínias, lírios amarelos, camélias e mastruço pro chá
Tinha chávenas para beber o chá
Tinha pombas chegando e partindo nas tardes azuis
Tinha ouro adornando as manhãs
Tinha manhãs
Tinha cristal da Prússia enfeitando o meio-dia
E tinha o lilás da noite acetinando o silêncio dos sonos
Tinha no bolso um dinheirinho
E uma arara comendo sementes de girassol
Tinha girassóis
Tinha uma coisa diferente e feliz nos ventos da praia
Tinha outra coisa também diferente e feliz na aragem das noitinhas
Tinha os papéis em ordem e os impostos quase pagos guardados na gaveta
Tinha um sabiá morto boiando na água do poço, um sabiá todo ferido sangrando no peito, morto, a boiar no poço
Estava no poço
Tinha rosas e pimenteiras, queijos de Minas e girassóis e amigos e pássaros, tinha um telhado.
Mas tinha um sabiá morto boiando na água do poço
No poço…
num disse que tô amando tudo isso! parabéns pelo seu bem elaborado blog cultural
Altair, a estrelinha da constelação da Águia
gosteiiii das frases
Que bom!
adorei esse poema
Que bom! Fico feliz!