Qualquer visitante à cidade Campos de Goytacazes, no norte fluminense descobre ruas, escolas e demais logradouros públicos freqüentemente batizados com um nome de mulher: Benta Pereira. Perguntando aos campistas, cidadãos comuns, que poderiam ser nossos vizinhos, profissionais liberais, comerciantes em diversos ramos, gente que lê jornal e tenta votar conscientemente, fiquei pasma ao descobrir que ninguém tinha uma boa noção sobre esta mulher, cujo nome aparece com suficiente regularidade para que se indague se não haveria alguma importância local, ao invés simplesmente da “ deve ter sido mãe ou mulher de político antes do meu tempo.”
Infelizmente muitos de nós brasileiros às vezes até nos gabamos da nossa ignorância, como se todo o passado fosse de pouquíssima importância, porque afinal “veja no que deu… olhe à sua volta…” Mas é justamente o conhecimento destes pequenos heróis locais, destas pessoas que se destacaram na defesa de seus direitos, que em outros países leva a população à conscientização da cidadania; ao orgulho local, bairrista é verdade, mas necessário na educação de cidadãos. Por quê? Porque este orgulho pela terra natal, pela história dos heróis da terra, cujos descendentes talvez ainda conheçamos, pode servir não só de exemplo mas de inspiração na defesa do meio ambiente, do ar, dos rios às florestas nativas; na defesa do monumento histórico e dos direitos do cidadão.
Mas como? Na defesa dos direitos do cidadão? Claro. Vejamos o caso de Benta Pereira. Nome completo: Benta Pereira de Souza. Heroína local. Uma senhora que viveu no início do século XVIII. Nasceu por volta de 1670-1675 [ a data de nascença é incerta] e morreu aos 75 anos, em 10 de dezembro de 1760. Filha do Padre Domingos Pereira Cerveira com Isabel de Souza. Casou-se com Pedro Manhães e com ele teve seis filhos que criou sozinha depois de enviuvar. Era uma mulher de muitos bens e sozinha não só gerenciou a fortuna deixada pelo marido e como educou os filhos.
Aos 72 anos de idade, Benta Pereira montou num cavalo e armada liderou uma revolta contra o 3º Visconde de Asseca, Diogo Corrêa de Sá, donatário da capitania da Paraíba do Sul. Ela lutava não só pela liberdade de suas terras, cujas delimitações haviam sido infringidas pelos viscondes, como contra os pesados impostos requeridos pelo donatário. Criadora de gado bovino numa terra que se transformava em um grande canavial com a exploração do açúcar, Benta Pereira, ladeada por sua filha Mariana de Souza Barreto, lutou sem descanso até conseguir a expulsão dos Assecas da capitania. Lutou pelas terras que havia herdado de seus antepassados que por sua vez as receberam em 1627 das mãoo do governador Martim Correa de Sá em reconhecimento pelo corajoso desempenho destes homens nas lutas contra os guerreiros Goitacás.
Quase cem anos foi o período de lutas violentas entre os Asseca, cujo título havia sido criado pelo rei de Portugal para apaziguar lutas familiares na casa de Bragança e os herdeiros dos Sete Capitães (Miguel Aires Maldonado, Miguel da Silva Riscado, Antonio Pinto Pereira, João de Castilhos, Gonçalo Correa de Sá, Manuel Correa e Duarte Correa). As terras em questão, que estavam próximas da Lagoa Feia até a Ponta de São Tomé e que pertenceram originalmente a Pero de Góis da Silveira que acompanhara Martim Afonso de Souza em 1530, haviam sido dedicadas à criação de gado desde 1633 quando currais foram levantados.
É verdade que mais tarde os Viscondes de Asseca ainda conseguiram retomar as terras, sob ordem do então governador do Rio de Janeiro. Mas a festa durou pouco. Os colonos, herdeiros de terras e pessoas comuns já haviam sentido o gosto revolucionário, o gosto de uma independência ainda que tardia, sob o comando de Benta Pereira. E os Viscondes de Asseca, enfraquecidos, logo, logo perderam suas terras. Em 1752 a capitania da Paraíba do Sul foi incorporada à coroa portuguesa.
Retomo esta história aqui por acreditar que pessoas que se revoltaram contra os excessos da nobreza, contra o descaso da coroa portuguesa, a favor de um Brasil diferente, não colonizado, pagador de impostos mais justos, reconhecedor dos direitos judiciais, deveriam ter seus nomes amplamente reconhecidos, como verdadeiros heróis, personagens que lutaram para que nós, nossos avós e bisavós nascidos aqui ou imigrantes pudessem ter neste novo mundo, um ambiente muito mais justo do que aquele que deixaram para trás numa Europa ainda medieval na sua índole e de fato.
Recentemente peregrinando pelos sebos do Rio de janeiro tive o prazer de ver que nos antigos livros adotados pelas escolas estaduais nos anos 50 e 60, de Theobaldo Miranda Santos, Benta Pereira era homenageada como uma importante figura da história fluminense. O que aconteceu com este conhecimento? Por que, hoje, nem mesmo aqueles que residem em Campos dos Goytacazes estão cientes do valor desta senhora, heroína verdadeiramente brasileira? Mesmo que Ordem de Mérito Benta Pereira seja a mais alta condecoração da Câmara Municipal de Campos de Goytacazes o habitante de Campos não a conhece e muito menos os outros cidadãos fluminenses.
Resgatar esta e outras histórias é essencial. O nosso passado não começou em 1822. Há por trás desta data 300 anos em que brasileiros, pessoas nascidas aqui e com amor a esta terra, lutaram também para a melhoria e o beneficiamento do país.
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Para maiores informações sobre Benta Pereira e seus descendentes, o blog Historiar em 5 de maio de 2009 tem uma excelente entrada:






parabens. Também penso como vc que devemos, em nome da cidadanis e do patriotismo, resgatar nossos heróis esquecidos.
Obrigada pelas excelentes informações, embora eu já, como campista, tenha algumas e boas sobre Benta Pereira. Só falta confirmar se, na luta armada, ela entrou na Câmara Municipal a cavalo. Você poderia mandar me dizer?
Atenciosamente.
Rosemary
Rosemary, minha mãe sempre nos contou que seu pai sempre comentava em família, que ela, Benta Pereira havia entrado na Câmara Municipal armada com espingarda(?) e montada em seu cavalo. O nome dele era Joaquim Bento Manhães Barreto
Estou achando que sou parenda da Benta Pereira. Meu pai é descendente de portugues Celso Pereira dos Santos. Tem o sobrenome dela, Pereira.
Minha mãe é Souza.
Achei muito coincidencia, pois a mãe dela é Souza tambem.
Lucineres já deu uma olhadinha nos sites de genealogia? Talvez seja uma boa!
So ha algum tempo, fique sabendo que sou descendente de Benta Pereira.Não tinha nem ideia que fazia da historia local.
Parabéns! Que ótimo exemplo familiar! um abraço, Ladyce
Sou Diretora das Escolas Rurais de Quatis, Municipio do Rio de Janeiro e uma dessas escolas é: Escola Municipal Benta Pereira, que fica em Joaquim Leite, no distrito de Falcão.
Trabalhamos com a Pedagogia de Projetos e nosso próximo projeto é resgatar a história de nossa escola.
Fiquei muito surpresa e contente de poder encontrar na Internet brilhante história dessa heroína. Com certeza o que encontrei aqui irá enriquecer nosso projeto.
Parabéns e muito obrigada!
Nasceu em 1675 e morreu aos 75 anos, em 10 de dezembro de 1760
Pesquisando sobre Benta Pereira, encontrei uma discordancia nas informações acima. Gostaria de saber quais são verdadeiras. Nasc 1675 + 75 = 1750 .
Se puder enviar para o meu e-mail, ficarei muito agradecida. Parabéns pelo artigo
Ana Lúcia, o que não se sabe ao certo é a data de nascença. Vou modificar o texto para colocar cerca de 1675. A data de morte está cravada. Datas de nascimento na época já são difíceis, principalmente para quem era filha “ilegítima” — era filha de padre. Mas a data de morte está correta. Obrigada pelo reconhecimento da discrepância. Às vezes a gente mesmo não percebe certas coisas. Depois vi que o problema foi copiado e colado por diversos blogues. Todos sem notarem a discrepância. Vou apagar o seu email do comentário. Uma abraço, Ladyce
PRECISAMOS DE MAIS BENTA PEREIRA!
Minha família é Manhāes Barreto. Durante toda a minha vida oouvi minha māe dizendo: vocês sāo bravas que nem Benta Pereira…..
Agora você sabe porque… Obrigada pelo comentário…
Pois é! Que bom vir descobrindo mais história e estórias de Benta Pereira! Obrigada.
Esta terra, sem dúvida, merece mais do que estamos oferecendo atualmente.
parabéns pela iniciativa.
Onde posso encontrar mais sobre Benta Pereira? queria fazer uma pesquisa mais profunda. Obrigado!
José Roberto eu também gostaria de saber onde encontrar maiores informações. Talvez uma boa maneira seja procurando a respeito em Campos dos Goytacazes. Mas é simplesmente um palpite… Obrigada pela visita, Ladyce
Isis Manhaes descendente de campistas, gostei queria saber mais sobre este assunto
Isis, isso é mais ou menos tudo o que sei, mas acredito que lá em Campos dos Goytacazes você possa conseguir mais informações. Obrigada pela visita!
sou também descendente de campista o nome do meu pai tem o final do nome de Benta Pereira; mas herdei o sobrenome da minha mãe cito da hora, o final do nome do meu pai é Pereira de Souza;gostei da história.
Gilmar, que bom que você gostou da história de Benta Pereira. Volte sempre! 🙂
Sou neto de Dna.Olivia Manhães de Gusmão e Otávio Cezar de Gusmão eu
não consigo contato com os parentes de Campos? S.filho Conceição Manhães de Gusmão. Gostaria de uma resposta dos meus parentes.ob.
Minha avó sempre me disse que a bisavó dela era muito brava corajosa e ca consegui achar esse temida por todos e que tinha até livro escrito dela, hj com a informatica ao alcance de todos consegui chegar até vcs gostaria de saber mais sobre esses paretencos, como poderia acessar a arvore genealogica
Sandra
Sandra, há um bocado de informações sobre ela em Campos dos Goytacazes mesmo. Não sou uma especialista em genealogia mas há um site, chamado GeneaPortugal que provavelmente tem algo a respeito da sua antepassada. Boa sorte na pesquisa. Volte aqui para me dizer o que achou. Um abraço, 🙂
Oi percebi que minha mensagem ficou vaga, não sei pq comi um pedaço importante. A bisavó dela chamava Benta Pereira era uma mulher muito corajosa, dizia que andava com uma peixeira (isso nunca esqueci ) elas eram, inclusive minha mãe, natural de Campos.
Ah, sim, agora ficou melhor. Impressionante como alguns detalhes do que nos contam nunca se esquece, como o caso da peixeira com você. Deve haver mais informações sobre Benta Pereira na cidade. Um abraço,
Sempre lutando, construindo historia.
Isso mesmo! 😉
Lembra de mim,hoje radiante pq realmente tenho certeza que o sangue que corre nas minhas veias é o mesmo que correu nas de Benta Pereira procurei saber e descobri que minha avó materna era filha de Ana Manhaes Peçanha ,pelo que tudo indica era filha de Mariana que era filha de Benta Pereira, parentesco longe mas minhas origem!! estou muito feliz bjs
Adorei saber! Que bom! Acho muito, muito legal quando a gente encontra essas raízes do passado. Parabéns! Um grande abraço!
Sandra, como faço para entrar em contato com você? Estou produzindo um documentário sobre Benta Pereira, e vi seu possível parentesco com ela, gostaria de ter a oportunidade de falar com você. Sou jornalista, e atualmente trabalho na Camara Municipal de Campos.
Oi tudo bem! Um pouco atrasada me desculpe, sempre fui fascinada pelo passado. Vamos sim trocar informações, vou adorar.
Sò tem um ponto que ainda não entendo, estamos tentando tirar a limpo minha avó chama Benedita, sua mãe Ana Manhaes Peçanha ,mas em tudo que li de Mariana, só se referem a uma neta de nome Clara, será que tem algo que possa fazer pra tirar essa duvida?? bjs obrigada.
nossa estou precisando mesmo de um sos olha a confusão sobre os avos paternos de minha mãe Avós paternos:Manoel Paes da Silva e Ana Manhães Peçanha Avós maternos:Hermenegildo Manhães e Maria Peixoto, entendeu temos Manhães dos dois lados!! bjs.
Sandra isso pode ser mesmo muito confuso. Do lado da família de minha mãe em Mato Grosso, eu tenho Pompêo de Barros dos dois lados. Isso era muito mais comum antigamente porque as cidades eram pequenas e no caso de pessoas que possuíam terras não era incomum primos mais distantes se casarem, até mesmo tios com sobrinhos para manter as terras na família. Sim, vai dar trabalho mas vai valer a pena! Avante! 😉
Sandra,
Dê um passeio a Campos. Quem sabe se em algum cartório você não consegue elucidar a questão?
Bom conselho, Virgínia. 😉
Obrigado pela dica, mas vc sabe né Virginia, vontade de correr contra o tempo e procurar saber mais do nosso passado sempre existe, só nos falta mesmo tempo para podermos fazer isso, vejo mais lá em cima que vc tbem tem sangue de Benta Pereira correndo nas veias, vc já conseguiu alguma noticia?
Oi Sandra,
Não consegui mais nada, apesar de ter vários parentes em Campos. Entretanto, parece, que sou a única a ter interesse por esse fascinante personagem de nossa história.
Abs.
Olá, estou responsável pela produção de um documentário sobre Benta e Mariana. Gostaria de ter os contatos de vocês, sobre essa questão de parentesco com as heroínas. Meu email é katiana.rodrigues@yahoo.com.br. Vai ser ótimo se puderem contribuir. Desde já, agradeço!
Gostaria muito de ver esse documentário.
Kátia talvez já tenha terminado o seu trabalho e como sou bisneto de Francisco Manhães da Boa Morte que era neto de Benta Pereira e estou historiando a família desde sua vinda da Suíça quando naufragaram na costa brasileira e firmaram moradia na região do Caboio , Pau Grande , Retiro e região , se eu puder ajudar estou à disposição , e se já tiver terminado e puder me passar seu trabalho certamente irá nos ajudar muito na reconstrução desta história que ao fim irá para o museu campista , obrigado
Gostei de saber que há um documentário sendo feito sobre essas duas mulheres. Muito interessante. Passe por aqui quando estiver pronto!
Será um prazer.
Kátia talvez já tenha terminado o seu trabalho e como sou bisneto de Francisco Manhães da Boa Morte que era neto de Benta Pereira e estou historiando a família desde sua vinda da Suíça quando naufragaram na costa brasileira e firmaram moradia na região do Caboio , Pau Grande , Retiro e região , se eu puder ajudar estou à disposição , e se já tiver terminado e puder me passar seu trabalho certamente irá nos ajudar muito na reconstrução desta história que ao fim irá para o museu campista , obrigado
Sou do Rio Grande do Sul, moro em Florianópolis hoje. Quando menino eu ouvi um cantor/compositor gaúcho, muito famoso, falar em Benta Pereira em uma se suas músicas, por sinal a música era uma homenagem a Campos, cidade que acolheu muito bem o cantor, em um show, na década de 1960. Então procurei saber quem era Benta Pereira e fiquei maravilhado com a História dela e da cidade. Acho estranho que os moradores de Campos não tenham conhecimento da sua própria história!
Benta Pereira correndo o Brasil! Incrível..
Boa noite Ennio, será que você se lembra o nome do cantor, da música ou mesmo algum trecho dela? Pois estou pesquisando a Benta Pereira e isso seria muito enriquecedor.
Agradeço desde já.
É, Campos precisava divulgar mais essa maravilha quase desconhecida.
http://g1.globo.com/rj/norte-fluminense/noticia/2015/06/documentario-sobre-benta-pereira-sera-lancado-em-campos-no-rj.html
A família Manhães veio da Suíça , quando houve um naufrágio na costa brasileira e eles firmaram moradia na região de Retiro , Barra do Furado , Caboio e região; sou neto de Ercília Manhães Pinto filha de Coronel Francisco Manhães da Boa Morte que era neto de Benta Pereira , estou historiando a saga da família até a vinda deles da Suíça na cidade de Friburgo ( Suíça) , quem tiver informações e puder ajudar , pois estou fazendo a história de toda a família , obrigado
Há muitos anos, procurava conhecer a vida de BENTA PEREIRA. Tenho interesse em saber mais, pois acho que minha avó paterna era uma de suas netas. MARIANA PEREIRA MANHAES, filha do Coronel Francisco Manhaes Boa noite. Porém não sei o nome da mulher (pq ele tinha várias mulheres rsrs), que foi minha bisavó !!! Meu pai e suas irmãs, já são falecidos, então, não tenho como obter essa informação. Sou nascida e criada em Campos dos Goytacazes. Meu pai, MAGNO RIBEIRO MANHAES, herdou terras em BARRA DO FURADO e LAGOA FEIA.
Alguém poderia me ajudar a saber o nome da minha bisavó? Ela foi uma das mulheres do Coronel Francisco Manhaes Boa Morte, pai de MARIANA PEREIRA MANHAES.
GRATIDÃO ETERNA!!