Ilustração de Yan Nascimbene.
O homem e sua morte
Sávio Soares de Sousa
Foi minha morte que nasceu comigo.
Trago-a em mim, circulando nas artérias,
latente em cada célula, no fundo
tranquilo de minha alma resignada.
Em verdade, nasceu com a minha sombra,
ou é, talvez, a própria sombra incôngrua,
com que diuturnamente me confundo,
ao meio-dia, sobre o chão da estrada.
Sou igual aos demais, de igual destino.
Pouco me importa o prazo destas férias,
nem me inquieta a imutável companhia,
que de mim nunca mais se apartará:
no instante em que, sem luz, se suma a sombra,
comigo a minha morte morrerá.






