Tempo de Carnaval
J. Carlos (Brasil, 1884 – 1950)
aquarela sobre cartão (capa da revista Fon-Fon), 35 x 22 cm
Muitos já esqueceram que o Carnaval marcava originalmente um único dia. A palavra Carnaval, de acordo com Antonio Houaiss, é originária no latim clássico CARNEM LEVÁRE, ( “abstenção de carne”). Essa expressão está presente em diversos dialetos italianos, aparecendo na língua falada em Milão em 1130, CARNELEVALE, aparecendo no italiano do século XIV como CARNEVALE. Foi para o francês em 1552 como CARNEVAL e 130 anos mais tarde, em 1680 como CARNAVAL. Nessa forma é adotada pelas outras línguas europeias, no século XVII.
Abstenção de carne? Sim, porque é nesta terça-feira (e o Carnaval propriamente dito é terça-feira) que se encerra o período que antecede a Quaresma, compreendendo os 40 dias antes da Semana Santa e Páscoa. Ela se inicia na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. É observada por um grande número de cristãos: católicos, anglicanos, luteranos, metodistas. Para seguidores dessas religiões cristãs este período é de reflexão, abstinência e penitência e reflete os 40 dias que Jesus Cristo passou no deserto. Inicialmente a celebração desse ritual data de meados do século IV (ano 350).
É por causa do início do período de abstenção, de penitência, de sacrifícios que o Carnaval tomou este nome, afinal é o último dia permitido para exageros. Na quarta feira começa o tempo de reflexão e de despedida da carne.
Mardi-Gras é a expressão francesa para este dia: Terça-feira Gorda. Mardi em francês significa terça-feira, enquanto gras quer dizer gordura. Mardi Gras é o último dia de se comer carne, comer alimentos gordos, mesmo que em muitos países europeus ainda se esteja no inverno, estação que requer alimentação mais rica.
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Há uma famosa representação da Luta entre o Carnaval e a Quaresma, de 1559, na fascinante obra do pintor holandês do século XVI, Pieter Brueghel, o velho, (grafia também pode ser Bruegel).
O embate entre Carnaval e Quaresma, 1559
Pieter Brueghel, o Velho (Flandres [Bélgica], c. 1525- 30 — 1569)
óleo sobre painel de madeira, 118 x 164 cm
Museu de História da Arte de Viena, Áustria
DETALHE
Vejam que a batalha está travada entre o Gordo Carnaval, segurando um espeto cheio de carnes e a magra Quaresma, num carrinho puxado por religiosos.
Senhor Carnaval, gordinho e montado num barril de vinho, segura espeto com carne de javali e outras carnes. É seguido por serventes com copos e bandeja com comidas. Tudo à sua volta reflete abundância.
Dona Quaresma, do outro lado, esquálida, vem num carrinho de madeira, com alguns pães a seus pés e segura uma chapa com peixes grelhados. Seu carro é puxado por religiosos e seguido por pessoas com matracas, objetos usados na Sexta-feira Santa no lugar de sinos.