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HINO NACIONAL |
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Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva
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HINO NACIONAL |
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Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva
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Sra. Meigh ao piano-órgão, 1883
William Merrit Chase ( EUA, 1849-1916)
óleo sobre tela, 66 x 47 cm
Coleção Particular
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“Este era o ataque. A apologia tomava emprestado e distorcia o velho estratagema do Eclesiastes: era tempo de resgatar a música das mão dos “donos daa verdade”, e era tempo de reafirmar a comunicabilidade essencial da música, que havia sido forjada, na Europa, numa tradição humanista que sempre reconhecera o enigma da natureza humana; era tempo de aceitar que uma execução para o público constituía uma “comunhão laica”, e era tempo de reconhecer a primazia do ritmo e do tom, bem como a natureza básica da melodia. Para que isso acontecesse sem apenas repetir a música do passado, cumpria formular uma definição contemporânea de beleza, o que, por sua vez, era impossível sem que se compreendesse uma “verdade fundamental”. Nesse ponto, Clive se valeu ousadamente de alguns ensaios inéditos e altamente especulativos de um colega de Noam Chomsky, que ele tinha lido quando passara férias na casa do autor, em Cape Cod: nossa capacidade de “ler” ritmos, melodias e harmonias agradáveis, assim como a faculdade exclusivamente humana da linguagem, era geneticamente determinada. Segundo os antropólogos, esses três elementos deviam existir em todas as culturas musicais. Nosso ouvido para harmonia era inato. (Além disso, sem um contexto envolvente de harmonia, a dissonância não fazia sentido e se tornava desinteressante.) Compreender uma linha melódica era um ato mental complexo, mas passível de ser executado até por uma criança bem pequena; já nascíamos com uma herança, éramos o Homo musicas; portanto, definir a beleza na música implicava uma definição da natureza humana, o que nos trazia de volta às humanidades e à capacidade de comunicação…”
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Em: Amsterdam, de Ian McEwan, São Paulo, Companhia das Letras:2012, tradução de Jorio Dauster.
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Zeitgeist é uma palavra alemã largamente adotada, assim mesmo, em alemão, nas cadeiras humanísticas para expressar o espírito de uma época, representado pelo clima cultural, intelectual, espiritual, ético e político de um grupo de pessoas, de nações. [A pronúncia é: ”zaitgaist”]. Para quem lida com a história da arte, da arquitetura, das manifestações artísticas e culturais em geral, essa palavrinha é um sinal taquigráfico indicando uma semelhança de pensamentos, comportamentos, de estética. Já usamos essa expressão muitas vezes aqui no blog, mas como faz parte de um jargão profissional é interessante lembrá-lo principalmente quando nos deparamos com uma semelhança de imagens.
O conceito de zeitgeist é importante para o estudo da história da arte porque auxilia na determinação das fontes inspiradoras dos artistas. Desde que o mundo é mundo, desde a Grécia, de Roma, da Idade Média, Renascença, e aí por diante que pintores, escultores, artistas gráficos, se inspiram na obra de seus antecessores. Às vezes as inspirações são óbvias, às vezes precisa-se de muito tempo e pesquisa para provarmos que este pintor ou aquele escultor estava familiarizado com o trabalho de um determinado antecessor. Muitos e muitos estudiosos passam um bocado de tempo tentando re-organizar o passado para melhor compreender como se manisfesta ou como se perpetua uma determinada tendência nas artes. E é sobre essa divulgação de formas e conceitos que hoje examino um trabalho de Oscar Pereira da Silva, um dos nossos grandes pintores do século XX.
Recentemente estive, por razões diversas, verificando as imagens gráficas das capas de partituras de músicas populares, para piano e canto do início do século XX. Passei horas e horas em grande deleite, observando o trabalho de muitos artistas gráficos anônimos e alguns bastante conhecidos. Até que me deparei com a capa para a música Dear Heart, de 1919. Não sei se foi um grande sucesso na época, mas achei referências a ela na web. Com música de W. C. Polla and Willard Goldsmith, e letra de Jean Lefarve, a partitura foi publicada em 1919 pela C. C. Church and Co. de Hartford, Connecticut. Se você quiser ouvir a música, clique aqui.
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Dear Heart, 1919. de Jean Lefarve e W. C. Polla and Willard Goldsmith, ilustração de Rolf Armstrong.
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A ilustração da partitura acima é de Rolf Armstrong. Foi usada na capa da revista americana Metropolitan de 1919. Nela vejo uma bela melindrosa que olha diretamente para mim, o leitor, enfentiçando-me com seus grandes e amendoados olhos azuis. O turbante cor de laranja esconde os cabelos negros, cortados à la garçonne típicos da época, deixando entrever mechas, coquetemente enroscadas no que se denominava “pega rapaz“, que é aquela mecha de cabelos em forma de vírgula. A rosa vermelha próxima ao nó do turbante compensa a longa linha do pescoço e reflete o carmim da boca entreaberta, convidativa, que parece dizer que essa melindrosa está pronta para se divertir, para sair dançando o charleston. Ela é misteriosa e sedutora.
Assim que bati com os olhos na capa dessa partitura me lembrei do quadro na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Mulher com turbante, de Oscar Pereira da Silva, com uma moça semelhante. Não me lembrava da data, mas eu sabia que Oscar Pereira da Silva já havia falecido por volta dos anos 40. Há exatamente 11 anos entre a capa da revista Metropolitan, da partitura para Dear Heart e o quadro brasileiro. Lá está o mesmo espírito, o retrato do mundo pre-Segunda Guerra Mundial. Melindrosas eram o tema nas artes gráficas através desses anos todos, como a capa da revista Life, desenhada por Russell Patterson e publicada em setembro de 1928, reproduzida acima, demonstra.
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Mulher com turbante, 1930
Oscar Pereira da Silva (Brasil,1867-1939)
óleo sobre tela, 41 x 33 cm
PESP — Pinacoteca do Estado de São Paulo
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Há semelhanças bastante perceptíveis. Uma melindrosa, morena, com olhos azuis, rasgados e brilhantes de excitação olha diretamente para o observador. Um turbante cor de laranja esconde seu cabelo escuro, cortado a la garçonne, com sensuais mechas encaracoladas próximas às orelhas. Na versão brasileira a melindrosa tem os lábios da cor do fundo do quadro, e um sorriso mais aberto, mais convidativo à diversão. No lugar da rosa da capa acima, temos um ombro nu, sensual, que ajuda como a rosa anteriormente a compensar a longa linha de um pescoço colossal. A versão tropical é muito mais exuberante, menos misteriosa mas tão sedutora quanto sua companheira americana.
Sabemos que no Rio de Janeiro do início do século XX o piano ainda era um instrumento encontrado na maioria das casas da classe média, com moçoilas casadouras. Mesmo no início do século XX, muitas famílias ainda mantinham saraus e todas as moças da casa aprendiam a tocar piano. Muitas dessas partituras vinham do exterior. Oscar Pereira da Silva conhecia bem esse hábito dos saraus. Há um de seus quadros na Pinacoteca do Estado de São Paulo, A hora de música , reproduzido abaixo, que mostra exatamente esse uso do piano na família.
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Hora de música, 1901
Oscar Pereira da Silva (Brasil,1867-1939)
óleo sobre tela
Pinacoteca do Estado de São Paulo.
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Oscar Pereira da Silva foi um pintor que pemaneceu dentro dos parâmetros da pintura histórica e realista, não abrindo espaço em sua produção para as “novidades” das técnicas mais modernas. Foi um retratista, um pintor de cenas históricas e sempre teve uma boa e tradicional clientela que o manteve produzindo até o fim. Suas pinturas de gênero tendem a ser bastante detalhistas e é realmente só na maturidade que vemos um trabalho como A mulher com turbante, que tem uma leveza de traço, uma rapidez de pincelada, que se deve muito mais aos moldes modernos de pintura do que ao realismo minucioso ao qual Oscar Pereira da Silva é sempre associado.
Agora, levando em consideração a popularidade de certas canções, e a familiaridade do pintor e de todos na época com partituras para piano, a pergunta a fazer é:
Oscar Pereira da Silva conhecia essa capa de música? Ou é isso simplesmente Zeitgeist?
©Ladyce West,2012
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Novas descobertas na Gruta Geißenklösterle ao sudoeste da Alemanha documentam a chegada antecipada dos humanos modernos e aparecimento precoce de arte e música. Pesquisadores das universidades de Oxford (Reino Unido) e de Tübingen (Alemanha) descobriram os instrumentos musicais mais antigos até agora conhecidos. As novas datas foram ajustadas pela melhora dos métodos, que eliminou a contaminação e sinalizou para a data de 42.000 a 43.000 anos, o início da Época Aurignacense, a primeira cultura a produzir uma ampla gama de arte figurativa, música e outras inovações importantes. O espectro completo de essas inovações foi estabelecido na região, o mais tardar 40 000 anos atrás.
Estas são as datas mais antigas de radiocarbono de depósitos aurignacianos, anteriores mesmo a datação aurignaciana na Itália, França, Inglaterra e outras regiões da Europa. Estes resultados são consistentes com a hipótese do Corredor Danúbio, que sugere que os humanos modernos migraram para a Europa e rapidamente acompanharam o curso do rio Danúbio.
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“Esses resultados são coerentes com uma hipótese feita anos atrás de que o rio Danúbio foi um corredor-chave no movimento de humanos e nas inovações tecnológicas na Europa central entre 40 mil e 45 mil anos atrás“, diz o professor Nick Conard, de Tübingen, que participa das escavações. Anteriormente pensava-se que os humanos só haviam chegada ao alto Danúbio entre 40 mil e 39 mil anos atrás.
A Caverna Geißenklösterle é uma das várias cavernas na Suábia que têm produzido importantes exemplos de ornamentos pessoais, arte figurativa, imagens místicas e instrumentos musicais. . Se as muitas inovações documentadas na Suábia foram estimuladas pelo estresse climático, pela concorrência entre os seres humanos modernos e Neandertais ou por outras dinâmicas socioculturais continua a ser um dos focos centrais para a pesquisa dos arqueólogos. É essencial que se possa entender melhor o que acontecia na época para estabelecer uma cronologia mais precisa que explique a expansão dos humanos modernos na Europa, os processos que levaram a uma ampla gama de inovações culturais, incluindo o advento da arte figurativa e música, além da extinção dos Neandertais.
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Entre os objetos dessas inovações culturais estão as flautas de osso ou marfim de presas de mamutes. Essas flautas primitivas foram encontradas exatamente nessa região que se acredita ser a primeira ocupada por humanos modernos na Europa.
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FONTES: SCIENCE DAILY, TERRA
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Espetáculo Vokal Xtravaganzza 2010, concerto em Liubliana, Eslovênia.
Reparem todos os sons são vozes.
Fiquei muito feliz de ver essa interpretação, por dois motivos, mostra que a música é realmente um meio de comunicação universal.
Conheço bem Liubliana na Elovênia, onde passei uma temporada acompanhando meu marido que esteve lá num programa universitário. Saímos de lá uma semana antes da independência e quando quitamos a nossa estadia no hotel o gerente do hotel, que ficou nosso amigo durante o tempo que lá permanecemos nos disse: “Da próxima vez vocês não precisarão de vistos, e a estadia será mais fácil, porque seremos uma nação independente. Mas guardem segredo!” Uma semana depois a Eslovênia estava independente.
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Cândido Portinari ( Brasil, 1903-1962)
óleo sobre tela
Coleção Particular, São Paulo
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Heitor Villa-Lobos
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J. Roybal (Brasil, contemp)
acrílica sobre tela, 20 x 120 cm
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Amanhã, dia 5 de março, comemora-se o Dia Nacional da Música Clássica. Esta data foi escolhida por ser a data de nascimento de Heitor Villa-Lobos. Selecionei aqui um poema-prosa, uma crônica de Murilo Mendes para comemorar. –
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Murilo Mendes
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Nasceu para a grandeza e variedade do trabalho-festa; para fazer explodir os ritmos do, segundo Oswald de Andrade, grandioso e desordeiro povo brasileiro .
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Mais de uma vez fui com ele e outros, homens maduros e mulheres moças, tascar balão lá para os lados de Vila Isabel. Recordas-te, Dantinho, recordas-te, Di? Ai Jaime Ovalle e Evandro, ai Germaninha, Elsie! De charuto aceso nosso amigo integrava-se no brinquedo, ria, veloce, recebendo nas mãos, ao cair, enormes flores juninas de papel de seda. Saltava-lhe logo na ponta dos dedos uma melodia criança, dançante. Pois não escreveu Suzanne K. Langer que toda música é pura dança? Correndo Villa para o piano, recriava mais uma página do nosso cancioneiro: bem ambientada, dizia ele. Era na rua Dídimo e dispúnhamos então do farniente. Gostaríamos de perder muito mais tempo ainda. Ai Lucília!
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Villa desponta do morro e da rua, de um corta-jaca de Chquinha Gonzaga, um tango de Ernesto Nazareth, uma polca de Anacleto Medeiros. Mas quantos outros o instruem: Artidouro da Costa, Calut, Eduardo das Neves, Catulo Cearense. E os anônimos, os bem-aventurados anônimos fazedores de música não oficial fluindo perene do populário: chorões, seresteiros, sambistas, marchistas que se ocultam na dobra dos tempos legendários da Tia Ciata.
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Uai gente! A flauta, o cavaquinho, o violão. A modinha, a embolada, a serenata. O carioca passava a vida musicando. A cada um seu ritmo particular. Domina tudo a larga faixa do povo, uma categoria! Pelo menos uma categoria musical. Viva o carnaval que nos compensava do resto do ano inútil. Naquele tempo inexistia a máxima desafinação: a bomba atômica. Pessoas pré-industriais, quase prolongávamos a Arcádia, mal comparando.
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Villa segundo Murici emprega todos estes instumentos: o camisão, a tartaruga, o tambu, o tambi, o pio, o agogó. Ritmo nova. Percute. Sincopa.
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O Rudepoema. Uirapuru. As Cirandas. Mandu-Sarará. A época dos Choros. Aparecem os Parecis: Nozaniná. Canide-Ioune. Ualalocê. Kamalalô. As Bachianas, com a participação de Bach e outros, assimilados ao modo brasileiro, “ambientados”. As Três Marias: Alnitah. Anilam. Mintika. O Guia-Prático de se conhecer o Brasil. Os jogos da nossa infância: Gude. Diabolô. Bilboquê. Peteca. Pião. Futebol. Soldadinhos de chumbo. Jogo de bolas. Capoeiragem. Uma duas angolinhas. Vai abóbora! O cravo brigou com a rosa. Carneirinho carneirão. A maré encheu. Na Bahia tem. Vamos atrás da serra calunga. Vamos ver a mula-sem-cabeça briga de galos briga de navalhas a lua dourada sua benção.
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Tudo o que nós nascemos, crescemos, cantamos, amamos, dançamos, respiramos, comemos, passa pelas ruas de Villa-Lobos. Pelas ruas de Villa-Lobos passa o passo do nosso desafinado, atormentado Brasil. Todo mundo passa. Quem dera que “bem ambientado” e sem Bomba.
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Em: Transistor: antologia de prosa, Murilo Mendes, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1980
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Murilo Rodrigues Mendes (1901 —1975) poeta, cronista, jornalista, professor. Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais. Mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro em 1920. Formou-se em medicina. Percorreu o mundo divulgando a cultura brasileira. Na década de 1950 estabeleceu-se na Itália onde ensinou literatura brasileira na Universidade de Pisa. Faleceu em Lisboa em 1975.
Obra:
Poemas, 1930
Bumba-meu-poeta, 1930
História do Brasil, 1933
Tempo e eternidade – com Jorge de Lima, 1935
A poesia em pânico, 1937
O Visionário, 1941
As metamorfoses, 1944
Mundo enigma, 1945
O discípulo de Emaús, 1945
Poesia liberdade, 1947
Janela do caos, [França] 1949
Contemplação de Ouro Preto, 1954
Office humain [França], 1954
Poesias [Obra completa até esta data], 1959
Tempo espanhol [Portugal], 1959
Siciliana [Itália], 1959
Poesie [Itália], 1961
Finestra del caos [Itália], 1961
Siete poemas inéditos [Espanha], 1961
Poemas [Espanha],1962
Antologia Poética [Portugal], 1964
Le Metamorfosi [Itália], 1964
Italianíssima (7 Murilogrami) [Itália],1965
Poemas inéditos de Murilo Mendes [Espanha], 1965
A idade do serrote, 1968
Convergência, 1970
Poesia libertá [Itália], 1971
Poliedro, 1972
Retratos-relâmpagos, 1ª série, 1973
Antologia Poética, 1976
Poesia Completa e Prosa, 1994