Caratatena, poesia de Raul Bopp

5 04 2025

Leitora de livraria

David Hatfield (EUA, 1940)

 

Caratatena

 

Raul Bopp

 

Na praça. De tarde. Há batuque; Tambores.

Domingo de festa de São Benedito,

O sol se mistura com um sorriso na alegria de Caratatena,

Toda engravatada de bandeirolinhas.

E os negros chegam na “chegança”. O carimbó toca apressado

É domingo de festa de São Benedito.

 

Na boca do mato, de pouco em pouco, espouca um foguete.

Vem chegando a procissão, com o santo no andor, enfeitado de fita

E, num passo grave desfilam as velhas de olhos lúgubres, conversando com Deus:

“não deixem cair em tentação. Amém”.

 

As contas do meu rosário

São balas de artilheria

Se Deus não viesse ao mundo, meu Jesus,

Tristes de nós, que seria!

 

Na velha capela da praça bate o sino:

“Quem dá, dá; quem não dá, não tem nada que dá.”

 

Em: Poemas para a Infância: antologia escolar, editado por Henriqueta Lisboa, s/d, São Paulo: Edições de Ouro, p. 40-41.

 





Luzinhas voando, poesia infantil de Murilo Araújo

4 03 2012

Ilustração: autoria desconhecida.

Luzinhas voando

Murilo Araújo

Mãe, estás vendo

estrelas voando?

Estrelas voando!

Que lindo, não?!

São verdes… finas…

tão pequeninas!

São lamparinas

da escuridão.

Vão nalgum jogo —

tão pequeninas! —

brincar com fogo

no céu, no chão?

E vêm no escuro…

São anõezinhos,

anões vizinhos

em procissão,

que vêm no escuro

com as luzinhas

das lanterninhas

que têm, na mão?

Os vagalumes!

Mas duas luzes

conheço, lindas

mais que eles são.

As duas luzes,

Mãe, são teus olhos…

Mãe — os teus olhos

têm mais clarão.

Que têm teus olhos

que abrem, tão tenos,

dois céus eternos

no coração?!

Em: Poemas Completos de Murillo Araújo, com introdução de Adonias Filho, Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti: 1960, 3 volumes.

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Murilo Araújo – ou Murillo Araújo — (MG 1894 – RJ 1980) jornalista, formado em direito.  Poeta, escritor, teatrólogo, ensaísta.  Veio para o Rio de Janeiro em 1907 estudar no Colégio Pedro II.  Membro do movimento modernista brasileiro.

Obras:

Poesia:

Carrilhões (1917)

A galera (escrito em 1915, mas publicado anos depois)

Árias de muito longe (1921)

A cidade de ouro (1927)

A iluminação da vida (1927)

A estrela azul (1940)

As sete cores do céu (1941)

A escadaria acesa (1941)

O palhacinho quebrado (1952)

A luz perdida (1952)

O candelabro eterno (1955)

Prosa:

A arte do poeta (1944)

Ontem, ao luar (1951) — uma biografia de Catulo da Paixão Cearense

Aconteceu em nossa terra (pequenos casos de grandes homens)

Quadrantes do Modernismo Brasileiro (1958)





Imagem de leitura — Reynaldo Fonseca

15 12 2008

 

reynaldo-fonseca-brasil-1925contando-historias-ost-200280x100cm1

Contando histórias, 2002

Reynaldo Fonseca, Brasil (1925)

Óleo sobre tela, 80 x 100 cm

Coleção Particular

 

Reynaldo Fonseca — Recife, 1925  — transferindo-se para o Rio de Janeiro em 1944, tornou-se aluno de Portinari.  Faz uma viagem à Europa, em 1949, voltando ao Rio de Janeiro onde estuda com Henrique Oswald, no Liceu de Artes e Ofícios.   Retorna  ao Recife  e estuda o «modelo vivo».  Expõe com sucesso desde 1958 (Recife) e desde 1969 (Rio de Janeiro), tendo dividido sua atividade artística entre os dois centros.