A coragem da verdade, texto de Márcio Tavares D’Amaral

17 10 2015

 

 

Gabriele Munter moça sentadaMoça na poltrona, escrevendo

Gabriele Munter (Alemanha, 1877-1962)

 

 

“Digo aos meus alunos que começam uma frase com “eu acho” que refaçam a questão quando puderem dizer “eu penso”. Porque, na filosofia, é da verdade que se trata. Não de opiniões. Opiniões desgarram, ancoram-se nas manias do sujeito. A verdade pede muita amorosidade e muito trabalho. Porque está escondida debaixo de uma montanha de opiniões “achadas”. Fica ali perdida. Até que o trabalho seja feito, com calma, demora e alegria, e ela possa aparecer. Às vezes nem é grande coisa: saber onde está a razão numa briga de vizinhos. Às vezes é uma coisa enorme: o bóson de Higgs, o vírus da AIDS. Não sabemos de antemão. É preciso paciência. Foucault deu ao seu último curso o lindo título de “A coragem da verdade”. Pois é isso mesmo.”

 

Em: “Tenho certeza. Eu acho”, Márcio Tavares D’Amaral, O Globo, 17/10/2015, 2º caderno, página 2.





Uma exposição para conhecer Kandinsky

31 01 2015

 

 

1370_kandinsky_onwhiteNo branco, 1920

Vasily Kandinsky (Rússia/França, 1866-1944)

óleo sobre tela, 95 x 138 cm

Museu do Estado Russo, São Petersburgo

 

 

Quem gosta de Kandinsky — um dos pais da pintura abstrata — ou quem não gosta de suas telas.  Quem é indiferente ou quem nunca ouviu falar desse pintor.  Ninguém deve perder a oportunidade de visitar a exposição Kandinsky: tudo começa num ponto, que abriu esta semana no CCBB [Centro Cultural do Banco do Brasil] do Rio de Janeiro. A exposição que veio de Brasília, sai do Rio de Janeiro no final de março, em direção a Belo Horizonte, para depois ir para São Paulo.

Dizer que essa exposição é extraordinária não é um exagero.  Se você tem interesse em saber mais sobre a arte moderna, sobre a evolução das correntes da arte moderna dê a si mesmo um presente: reserve de duas a três horas de um dia, e siga esta exposição de início ao fim. Vá com sapatos confortáveis.  Traga um xale ou um casaco leve.  Por contraste com a temperatura ambiente no Rio de Janeiro pode-se sentir frio no museu.  Não reclame da temperatura baixa, ela preserva as telas para futuras gerações. Em nome de seus descendentes, proteja-se do frio e se delicie com uma aula minuciosa,  interessante, compreensiva, cobrindo muitos aspectos das raízes do trabalho de Kandinsky e com isso das raízes da arte moderna do século XX.

Não perca!  Uma das mais importantes exposições que eu já vi não só no Rio de Janeiro, mas em outros lugares do mundo. São obras de Kandinsky e muitos de seus compatriotas que não estão facilmente acessíveis nem mesmo nos museus na Europa ocidental. Há muitas de artistas de grande calibre cujo trabalho nos é menos familiar.   A maioria delas veio da Rússia e outras de coleções europeias.  Obras que jamais foram vistas nas Américas. Há filmes, slides e interatividade. Há também a imersão na obra, uma exposição em 3D.  Visite esta parte por ultimo — na Rotunda — para melhor apreciar a obra. Mas há sobretudo nessa exposição um contexto para a obra do pintor que pode ser digerido em diversos níveis. É um privilégio ter a oportunidade de visitar essa exposição.

O Carnaval está chegando e com ele muitos dias de férias.  Esqueça por um momento a folia e encha os olhos e preencha as lacunas da sua educação artística com essa exposição.

O CCBB está de parabéns. Na minha opinião esta exposição supera a de M. C. Escher que também foi de primeira categoria.

 

SERVIÇO

Kandinsky: Tudo Começa Num Ponto
Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro – Rua Primeiro de Março, 66, Centro – Rio de Janeiro/ RJ
(21) 3808.2100
De 28 de janeiro a 30 de março 2015

ENTRADA FRANCA

Como bem lembrou um de nossos leitores: O CCBB do Rio de Janeiro fecha às terças-feiras!