
A leitora, 1901
Auguste Frederic Dufaux (Suiça,1852-1943)
óleo sobre tela
O crime
Morava no engenho uma mulher por nome Josefa, conhecida como feiticeira. Tinha três filhos homens: João Duda, Antônio Cuíca e Felizardo, o melhor cortador de cana, que voltou da cidade, num dia de feira, em toda carreira, com a polícia no encalço. Chegando,gritou de longe para meu pai dizendo que acabara de cometer um crime e pedindo proteção. Matara Mesquece, um vendedor de cocada, por uma questão de troco.
Meu pai negou-lhe asilo. Não admitia criminoso em sua terra, mas nesse dia não jantou e dormiu tarde.
Veio o comandante do destacamento, tenente Moreirinha, e pediu licença para correr a propriedade. Contrariando a tradição de inviolabilidade dos engenhos, meu pai permitiu.
Além de varejar todas as casas, a polícia surrou a mãe do assassino e sua cunhada, mulher de Antônio Cuíca, o que causou indignação a meu pai.
Diziam os moradores que, com a diligência na ilharga, Felizardo tornara-se invisível por ter virado a camisa pelo avesso. Fugiu e homiziou-se numa usina em Pernambuco, só voltando a Areia depois de prescrito o crime.
Em: Memórias: antes que me esqueça, José Américo de Almeida, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1976, pp. 60-61





