Tempestades, poesia de Luís Pimentel

3 10 2019

 

 

Miranda - The tempest, by John William Waterhouse

Miranda, de  A Tempestade, 1916

John William Waterhouse (GB, 1849 – 1917)

óleo sobre tela, 100 x 137 cm

Coleção Particular

 

 

Tempestades

 

Luís Pimentel

 

P/ Ferreira Gullar

 

Nada restará depois das águas.

 

São assim as tempestades

que vêm quando menos se espera

ou quando mais se procura.

 

Nada sobrará desses barulhos

de raios, fogo e trovões aflitos,

corações aos gritos, a treva lá fora.

 

Nada restará deste silêncio,

além do pingo choroso na torneira.

 

Pouco a se fazer depois dos tombos:

desentupir os ralos, enterrar os mortos,

secar os panos e fechar as janelas.

 

Por fim seguir aos trancos e trancos,

até a queda do próximo barranco

— sem contornos, sem encostas.

 

Em: As miudezas da velha (e outros poemas miúdos), Luís Pimentel, Rio de Janeiro, Myrrha: 2003, 2ª edição, página 48.   [Prêmio Jorge de Lima de Poesia, da União Brasileira de Escritores]

 





Precisa-se de uma bola de cristal, poesia de Roseana Murray

10 01 2015

 

waterhouse_the_crystal_ball_skullA bola de cristal, 1902

John William Waterhouse (Inglaterra, 1849-1917)

óleo sobre tela

Coleção Particular

 

 

Precisa-se de uma bola de cristal

que mostre um futuro grávido de paz:

que a paz brilhe no escuro

com o brilho especial que algumas

palavras possuem

mas que seja mais do que a palavra,

mais do que promessa:

seja como uma chuva que sacia  a sede da terra.

 

 

Em: Classificados Poéticos, Roseana Murray, Belo Horizonte, Miguilim:1984, 17ª edição, p. 38