Três idades, poesia de Manuel Bandeira

18 07 2024

Três idades da mulher, 1905

Gustav Klimt (Áustria, 1862-1908)

óleo sobre tela, 180 x 180 cm

Galeria Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, Roma

 

 

Três idades

 

Manuel Bandeira

 

A vez primeira que te vi,

Era eu menino e tu menina.

Sorrias tanto… Havia em ti

Graça de instinto, airosa e fina.

Eras pequena, eras franzina…

 

A ver-te, a rir numa gavota,

Meu coração entristeceu

Por que? Relembro, nota a nota,

Essa ária como enterneceu

O meu olhar cheio do teu.

 

Quando te vi segunda vez,

Já eras moça, e com que encanto

A adolescência em ti se fez!

Flor e botão… Sorrias tanto…

E o teu sorriso foi meu pranto…

 

Já eras moça… Eu, um menino…

Como contar-te o que passei?

Seguiste alegre o teu destino…

Em pobres versos te chorei

Teu caro nome abençoei.

 

Vejo-te agora. Oito anos faz,

Oito anos faz que não te via…

Quanta mudança o tempo traz

Em sua atroz monotonia!

Que é do teu riso de alegria?

 

Foi bem cruel o teu desgosto.

Essa tristeza é que diz…

Ele marcou sobre o teu rosto

A imperecível cicatriz:

És triste até quando sorris…

 

Porém teu vulto conservou

A mesma graça ingênua e fina…

A desventura te afeiçoou

À tua imagem de menina.

E estás delgada, estás franzina…

 

 

Em: Estrela da Vida Inteira- poesias reunidas, Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, José Olympio: 1979, pp 27-28.





Outono: Soren Kierkegaard

4 05 2023

Gustav Klimt, Forêt de bouleaux en automne (Birkenwald I), 1903, Paul G. Allen Family Collection, The Yorck Project, domaine public

Floresta de  bétulas no outono, 1903

Gustav Klimt (Áustria, 1862-1918)

óleo sobre tela

Coleção Particular

“É por isso que prefiro muito mais o outono à primavera, porque no outono você olha para o céu. Na primavera, a terra.”

Soren Kierkgaard