Depois dos équidnas, vejamos o ornitorrinco (platipus)…

11 06 2009

platypus8Desenho ilustrativo de um ornitorrinco.

 

Não há nada igual. Quando exemplares do ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus), também chamado por alguns de platipus,  foram enviados da Austrália para a Inglaterra, em 1798, causaram tamanho espanto que os cientistas britânicos consideraram se tratar de uma farsa.   Não é para menos, pois o estranho animal desfila uma lista de características inusitadas. Para começar, é um mamífero que põe ovos. Apesar de pôr ovos em vez de dar à luz filhotes vivos, o ornitorrinco é um mamífero. A fêmea alimenta os filhotes com seu leite, como os outros mamíferos, mas há uma diferença importante em relação aos mamíferos placentários: as fêmeas deste animal não têm mamilos e suas crias sugam o leite materno através dos poros existentes em meio a pelagem da barriga.

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Austrália e Ilha da Tasmânia, onde podemos encotrar os ornitorrincos.

Este curioso animal combina um couro espesso e macio que cobre todo o seu corpo protegendo-o debaixo de águas geladas.   Seu bico não é ósseo, mas coberto por uma membrana sensível.  Além disso tem um sistema sensorial usado para buscar alimentos na água.  O bico fica onde na maioria dos outros mamíferos estão o nariz e os beiços.  Com este bico o ornitorrinco, que é carnívoro, apanha no fundo dos riachos, moluscos, vermes de girinos, crustáceos, peixinhos e alguns insetos aquáticos, que são seu principal alimento. Ele usa o bico como uma ferramenta para procurar na lama sua comida. As placas córneas das maxilas são usadas para mastigar e como no pato, eles não têm dentes. Mas quando as crias dos ornitorrincos estão dentro de um ovo, possuem um dente na ponta do bico chamado dente do ovo. Com ele podem perfurar a casca do ovo. Pouco tempo depois do nascimento este dente cai.

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Seus pés, tanto os dianteiros como os traseiros têm garras. A fêmea usa as garras para cavar, na margem de um rio ou outro curso de água, um longo túnel – que às vezes chega a 1,80 m de comprimento, onde constrói o ninho. Põe de um a três ovos, de dois a 2,5 cm de comprimento. Os ovos são moles, de casca coriácea, como os das cobras e tartarugas. Quando os ovos se abrem, a fêmea usa a cauda para manter os filhotes junto ao seu corpo e, então, amamentá-los. Ela amamenta os filhotes durante quatro meses.  Neste período eles crescem bastante.  Nascem com menos de 2,5 cm e chegam a 30 cm de comprimento antes de serem desmamados. Os filhotes não têm pêlos quando nascem e permanecem no ninho durante vários meses.

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O ornitorrinco macho tem uma garra oca, ou esporão, em cada pata posterior. Os esporões são ligados a glândulas de veneno, que disparam para afugentar predadores ou competidores. O ornitorrinco arranha e envenena seus inimigos com esses esporões.

Membranas crescem entre os dedos das quatro patas do ornitorrinco. As membranas das patas dianteiras crescem muito além dos dedos, como espessas abas de pele. Os pés palmados e a cauda fazem do ornitorrinco um bom nadador e mergulhador, capaz de ficar debaixo da água por cinco minutos. Dentro da água seus olhos e ouvidos se fecham.  Quando necessita usar as garras dianteiras para cavar, o ornitorrinco dobra para trás as abas da membrana, para deixar os dedos mais livres.   Um animal adulto chega a ter 60 cm de comprimento, incluindo a cauda de cerca de 15 cm. A cauda, em forma de remo, ajuda o animal a nadar.

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Tudo isso tem aguçado, desde o século XVIII, o interesse da ciência por este  representante da ordem dos monotrematas. Estudos sobre o genoma do ornitorrinco, o estranho animal com pele, pêlos, bico de pato, rabo de castor e patas com membranas, apontaram que o animal é, ao mesmo tempo, um réptil, um pássaro e um mamífero. Agora, um grupo internacional acaba de dar a mais valiosa contribuição ao conhecimento do ornitorrinco, com o seqüenciamento de seu genoma.

Publicada na edição de 8 de maio da revista Nature, a análise revela que as características únicas do animal não se resumem ao seu exterior, mas são também destacadas geneticamente. A seqüência foi comparada com as do homem, camundongo, cão, gambá, frango e lagarto.

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Os pesquisadores descobriram que o genoma do ornitorrinco tem aproximadamente o mesmo número de genes que codificam proteínas que o genoma dos demais mamíferos – cerca de 18,5 mil. Ele também compartilha mais de 80% de seus genes com outros mamíferos cujos genomas foram seqüenciados.

Bico de pato à parte, os cientistas verificaram no genoma do animal, além de detalhes de mamíferos, características comuns aos répteis. A principal foi a presença de genes associados à fertilização de ovos. Outra é a presença de poucos receptores olfativos, diferente dos demais mamíferos.

O grupo também descobriu que o veneno produzido pelo animal deriva de duplicações em determinados genes durante a evolução, que foram herdados de ancestrais répteis.

À primeira vista, o ornitorrinco aparenta ser resultado de um acidente evolucionário. Mas, independentemente de sua aparência estranha, a seqüência de seu genoma é muito valiosa para compreender como os processos biológicos fundamentais dos mamíferos evoluíram. Comparações de seu genoma com os de outros mamíferos levarão a novas descobertas a respeito da história, estrutura e funcionamento do nosso próprio genoma“, disse Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, nos Estados Unidos, que financiou parte do estudo.

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Com o seqüenciamento, poderemos identificar quais genes foram conservados, quais foram perdidos e quais se transformaram durante a evolução dos mamíferos“, disse Richard Wilson, da Escola de Medicina da Universidade Washington, um dos autores da pesquisa.

 

O artigo Genome analysis of the platypus reveals unique signatures of evolution, de Wesley Warren e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com  Este artigo foi baseado em grande parte na tradução do artigo da revista Nature divulgada pela agência da FAPESP.

Platypus_by_Lewin

Desenho de Lewin.

NOME CIENTÍFICO: Ornithorhynchus anatinus

NOME EM INGLÊS: Duck-Billed Platypus – The platypus

FILO: Chordata

CLASSE: Mammalia

ORDEM: Monotremata

FAMILIA: Ornithorhynchidae

CARACTERÍRSTICAS:

Comprimento do macho: 40cm, mais 13 cm de cauda.

Esporões nas patas traseiras.

Período de incubação: 10 dias

Ovos: 2 ou 3 de cada vez

Maturidade: 1 ano

Tempo de Vida: 15 anos

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Estudo do genoma para combater doenças recebe criticas

17 09 2008

 

Jacques Deshaies, 02 DNA, Pintura na Caverna número 21,  30 x 25 cm, acrilico sobre tela.

Jacques Deshaies, 02 DNA, Pintura na Caverna número 21, 30 x 25 cm, acrílico sobre tela.

Ontem 16/9/2008 o jornal The New York Times publicou um artigo de na seção de ciências por Nicholas Wade revelando que o estudo do genoma para combater doenças está se saindo menos promissor do que o esperado.  

O entrevistado é o renomado geneticista David B. Goldstein que trabalha na Universidade Duke no estado da Carolina do Norte.  Goldstein, conhecido por sua pesquisa sobre as raízes genéticas da população judia, afirma que ao contrário do que se pensava anteriormente, quando se começou a fazer a decodificação do genoma humano, não estamos mais próximos de descobrir curas para doenças até agora incuráveis, tais como Alzheimer.   Na verdade muito pouco foi descoberto para justificar, não só os gastos de 3 bilhões de dólares, como para encorajar maior dedicação das companhias Affymetrix e Illumina que desenvolveram poderosos chips para escanear o genoma humano.  Goldstein não tem dúvidas de que ainda não há nenhuma esperança concreta para a idéia de uma medicina personalizada.  Estamos, na verdade, muito longe disso e muito aquém do que esperávamos.  

 

A razão é muito simples, de acordo com Goldstein: a seleção genética natural é muito mais eficiente do que pensávamos ao peneirar as variantes genéticas que causam doenças.  Assim, ficaria quase impossível estudar um número suficiente de pacientes para se chegar a uma conclusão satisfatória.    Mas pesquisadores dedicados à caça de doenças no genoma humano, não concordam com ele.  Eles sugerem que estudos  feitos com um número maior de pacientes trarão resultados, mostrando um maiores variantes fomentadoras de doenças.  

 

Acredito que teremos ainda que esperar para ver quem está certo.  É claro, que há interesse dos pesquisadores em defenderem a continuação da pesquisa.   Afinal eles se dedicam há muito tempo a este trabalho que imaginam continuar.  Só o tempo dirá se a seleção natural será capaz de vencer até mesmo a dedicação deles.